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Rafael Caro Quintero, ex-líder do cartel de Guadalajara no México, era o fugitivo mais procurado pela DEA

Foragido desde 2013, o ex-líder do cartel de Guadalajara foi preso na semana passada.

Mas quem é Rafael Caro Quintero, chamado de “Príncipe” por causa das roupas luxuosas e joias que usa?

Na década de 1980, Quintero era conhecido como o maior produtor de maconha do México.

Em uma de suas propriedades, por exemplo, aconteceu a maior operação antidrogas da história do país: foram destruídas mais de 10 mil toneladas.

Quintero ordenou o sequestro do descobridor do carregamento, o agente da Agência de Controle de Drogas dos Estados Unidos (DEA, na sigla em inglês) Enrique Camarena Salazar, bem como do piloto mexicano Alfredo Zavala Avelar. Ambos foram mortos.

A execução do policial americano, ocorrida em 1985, causou uma das crises mais profundas na relação entre o México e os EUA. Mas também foi um marco na luta contra as drogas por Washington.

Quintero foi capturado na semana passada por autoridades mexicanas. Ele era o fugitivo mais procurado do DEA, que chegou a oferecer até US$ 20 milhões (R$ 107,5 milhões) em troca de informações que ajudassem a capturá-lo. O FBI (polícia federal americana) oferecia uma recompensa parecida.

Caro Quintero, de 69 anos, estava foragido após ser solto por um juiz em 2013, quando havia cumprido 28 dos 40 anos de sua pena de prisão.

Em outubro passado, o Departamento de Justiça dos EUA entrou com uma ação civil em um tribunal do Brooklyn, em Nova York, para confiscar oito propriedades do chefão mexicano, incluindo mansões, depósitos e ranchos.

A origem do Príncipe

Na década de 1980, as autoridades do México e dos EUA estimaram a fortuna de Rafael Caro em US$ 500 milhões.

Mas a origem do Príncipe é muito diferente. Ele nasceu em outubro de 1952 em La Noria, uma comunidade marginalizada em Badiraguato, no Estado de Sinaloa.

Vários dos traficantes mexicanos mais famosos são originários deste município, como Joaquín Guzmán Loera, o El Chapo.

Em entrevista à jornalista Anabel Hernández, Quintero disse que sua família era muito pobre e que foi forçado a cultivar maconha após a morte de seu pai porque não havia outra maneira de sustentar sua família. Ele tinha 14 anos.

Crédito, Governo dos EUA

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Joaquín Guzmán ‘el Chapo’ Guzmán nasceu na mesma região que Quintero

Badiraguato está localizada no Triângulo Dourado, uma região montanhosa entre os Estados de Sinaloa, Chihuahua e Durango e uma das áreas de maior produção de maconha e papoula do país.

Em pouco tempo, Quintero progrediu nos negócios e, aos 30 anos, foi um dos principais sócios de Miguel Ángel Félix Gallardo, conhecido como Chefe dos Chefes.

Gallardo comandava uma extensa organização de narcotráfico aliada a cartéis colombianos, como o de Pablo Escobar, e foi o primeiro narcotraficante mexicano a exportar cocaína para os EUA.

A DEA batizou sua organização de Cartel de Guadalajara em referência à cidade onde residia o Chefe dos Chefes, Quintero e outros líderes do narcotráfico.

Os excessos

Desde 1975, Guadalajara, capital do Estado de Jalisco, tornou-se um refúgio para muitos traficantes de drogas e suas famílias, vindos de Sinaloa.

Dois anos antes, no Triângulo Dourado, o governo mexicano havia iniciado a Operação Condor, uma estratégia para erradicar o cultivo de maconha e papoula na região.

Crédito, DEA

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Rafael Caro Quintero foi preso em 1985 na Costa Rica

Os chefes das organizações, entre eles Quintero, se estabeleceram então em Guadalajara e conseguiram se integrar à sociedade local ao se apresentarem como empresários prósperos. Gallardo, por exemplo, seria o diretor de um banco, e Quintero se apresentava como fazendeiro e pecuarista.

A presença dos chefões alertou o governo dos EUA, que enviou uma equipe do DEA à cidade. Enrique Camarena foi um deles.

Por algum tempo, os líderes do narcotráfico passaram praticamente despercebidos, mas a situação mudou na década de 1980. E um dos motivos foram os excessos de personagens como Caro Quintero.

O Príncipe protagonizou escândalos em restaurantes e casas noturnas e foi até acusado de sequestrar a sobrinha de um importante político local.

A busca

Mas o caso mais sério foi o assassinato de Camarena. O agente foi sequestrado em fevereiro de 1985 quando deixava o Consulado dos EUA em Guadalajara e levado para uma casa próxima junto com o piloto Zavala Avelar.

Ambos foram torturados e depois mortos. Seus corpos apareceram semanas depois no Estado vizinho de Michoacán.

Quintero fugiu para a Costa Rica, onde foi preso em abril. As investigações revelaram que o traficante e o Cartel de Guadalajara criaram uma extensa rede de aliados entre políticos, militares e corporações policiais.

O assassinato de Camarena mudou a relação entre EUA e México. Os EUA condicionaram parte de sua ajuda ao México em troca do combate ao narcotráfico, uma medida que continuou até 2002.

Quintero foi condenado a 40 anos de prisão, mas foi libertado em 2013 devido a um erro processual no seu caso.

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Miguel Ángel Félix Gallardo fundou o cartel de Guadalajara

A caça ao Príncipe não para. No julgamento no Brooklyn, em outubro passado, o chefe da DEA em Nova York, Ray Donovan, lembrou que sua captura é uma prioridade para a agência.

“As atrocidades de Quintero não serão esquecidas, e o terror que ele infligiu serve como um lembrete permanente de que a DEA jamais cessará sua busca por justiça.”

‘Peço perdão’

Desde que saiu da prisão em 2013, Quintero vivia escondido. Quem o entrevistou afirma que ele se desloca nas montanhas do Triângulo Dourado, abrigando-se em barracas com sacos de dormir.

O DEA afirma que ele voltou ao negócio das drogas, e até mesmo a Receita Federal dos EUA incluiu sua família em uma lista que impede que façam negócios nos EUA. Suas propriedades e contas bancárias no país foram congeladas.

Mas Quintero insistia que não era mais um criminoso. Em várias entrevistas, disse estar aposentado e que nunca mais voltaria ao tráfico.

“Deixei de ser traficante de drogas desde 1984 e nunca mais serei, não quero saber de absolutamente nada sobre tráfico de drogas. O preço que paguei foi muito caro”, disse ele em conversa publicada pela revista Proceso.

“Peço perdão ao governo dos EUA e também à família do senhor Camarena, peço perdão à DEA.”

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