Álbum de estreia de Chico Science & Nação Zumbi é eleito o melhor dos últimos 40 anos por júri ouvido pelo GLOBO
A cidade não para, a cidade só cresce, e com ela o reconhecimento a “Da lama ao caos”, disco de estreia de Chico Science & Nação Zumbi, de 1994, que mostrou ao mundo o som que se fazia no Recife, com percussões, influências da música regional, da MPB e do pop-rock planetário. O disco dos sucessos “A cidade”, “A praieira” e “Rios, pontes e overdrives”, do casamento da guitarra de Lúcio Maia com os tambores do maracatu, foi eleito o melhor da música brasileira nos últimos 40 anos, em enquete promovida pelo GLOBO. Foram ouvidos 25 especialistas em música, entre pesquisadores, jornalistas e outros profissionais, que elegeram seus dez discos favoritos dentre os lançados a partir de 1982.
A lista de vencedores traz a marca do pop-rock. Depois de “Da lama ao caos”, os mais bem colocados são “Cabeça dinossauro”, dos Titãs (1986), “A mulher do fim do mundo”, de Elza Soares (2015) — o único representante da MPB entre os cinco primeiros, mas com uma embalagem contemporânea, de profissionais como Rômulo Fróes e Guilherme Kastrup —, “Sobrevivendo no inferno” (1997), dos Racionais MC’s, “Dois” (1986), da Legião Urbana, e “Selvagem?” (1986), dos Paralamas do Sucesso.
— “Da lama ao caos” entre os vencedores? — provoca a pesquisadora e escritora Patrícia Palumbo. — Adoro esse disco, é maravilhoso, mas é só isso? Acho que precisamos olhar a música brasileira de forma mais aberta.
Entre os votos de Patrícia estão “Olho de peixe”, da dupla Lenine & Suzano (1993), e “Ouro negro”, do maestro Moacir Santos (2001), que recebeu dois votos além do dela.
— Acho que são discos muito importantes para a música brasileira — define. — Esse encontro do violão do Lenine com a percussão do Suzano é essencial para a nossa música instrumental, ecoa até hoje.
Além dos vitoriosos Nação Zumbi, Titãs e Racionais, o pop-rock prenominou também com o clássico “Dois” (1986), da Legião Urbana, em sua coleção de sucessos, sendo mais um disco lembrado por vários eleitores. A moderna Elza (cujo disco é classificado pela Wikipédia como “vanguarda paulistana”) encontra companhia na prateleira da MPB em “Bebadosamba” (1996, de Paulinho da Viola), o mais votado entre os gêneros mais tradicionais da música brasileira.
Veteranos como Paulinho e Elza têm o “problema” de contar com longas carreiras, que começam bem antes do ano-limite de 1982.
Isso rendeu a eles e a seus companheiros de gênero musical e geração votos em mais de um disco: além de “A mulher do fim do mundo”, Elza foi lembrada por “Do cóccix até o pescoço” (2002) em três cédulas. Se os 13 votos fossem para o mesmo disco, a cantora, morta em janeiro deste ano aos 91 anos, empataria com a Nação Zumbi no lugar mais alto do pódio. Outros nomes de peso da MPB tiveram seus votos, como Caetano Veloso, citado 13 vezes, por discos como “Velô” (1984), “Cê” (2006) e “Abraçaço” (2012), Zeca Pagodinho, Chico Buarque, Nana Caymmi e Antônio Carlos Jobim.
Os mais votados
“Da lama ao caos” – Chico Science & Nação Zumbi (1994)
“A mulher do fim do mundo” – Elza Soares (2015)
“Cabeça dinossauro” – Titãs (1986)
“Sobrevivendo no inferno” – Racionais MC’s (1997)
“Selvagem?” – Paralamas Do Sucesso (1986)
“Dois” – Legião Urbana (1986)
“Bebadosamba” – Paulinho da Viola (1996)
“AmarElo” – Emicida (2019)
“Acústico MTV” – Cássia Eller (2001)
“Circuladô” – Caetano Veloso (1991)
“MM (Ao vivo)” – Marisa Monte (1989)
“À procura da batida perfeita” – Marcelo D2 (2003)
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