- Rafael Abuchaibe
- BBC News Mundo
O novo filme Jurassic World: Domínio, última parte da saga cinematográfica que Steven Spielberg começou em 1993 com Jurassic Park, começa na pré-história.
Um clipe com os primeiros 5 minutos de filme, que está em cartaz nos cinemas no Brasil, foi lançado no YouTube para divulgar o longa e coloca o público em um mundo onde dreadnoughtus, quetzalcoatlos e anquilossauros dominam a Terra.
Em seu clímax, o clipe mostra uma batalha titânica: o Tiranossauro rex, estrela indiscutível da saga até agora, enfrentando o giganotossauro, uma fera de 4 metros de altura e 6 toneladas.
Mas apesar da computação gráfica ser impressionante, os paleontólogos lembram que o que vemos na tela é apenas ficção. Com um pouco de ciência incluída.
“Os filmes de Jurassic Park não são documentários”, disse Jack Horner, o renomado paleontólogo americano que foi consultor de Steven Spielberg durante a produção de Jurassic Park e O Mundo Perdido de Jurassic Park.
Entenda alguns dos erros (e acertos) científicos que os filmes da saga Jurassic Park tiveram.
1. O T. rex e o giganotossauro nunca conviveram
A luta selvagem entre o tiranossauro e o giganotossauro nunca poderia ter acontecido no mundo real devido a muitos fatores, diz o paleontólogo amador e escritor Riley Black à BBC News Mundo. Black foi consultor na produção de Jurassic World, o quarto filme da saga.
“Esses dinossauros não apenas viveram a milhões de anos de distância um do outro, mas também viveram continentes diferentes”, explica Black.
Ambos os dinossauros viveram no período Cretáceo, mas com diferença de milhões de anos. O Tiranossauro rex viveu no final do período, cerca de 68 milhões de anos atrás, no que hoje é a América do Norte. Já o giganotossauro viveu há 99 milhões de anos no que hoje é a América do Sul – fósseis da criatura fossam encontrados na Argentina.
Há diversos outros animais vistos no prólogo do filme que na vida real viveram em tempos e locais distintos.
O iguanodonte, que aparece pela primeira vez na franquia, viveu há cerca de 120 milhões de anos no que hoje é a Europa. O nasutoceratops, que pode ser confundido com um triceratops, viveu há cerca de 76 milhões de anos na América.
“E também existe o desejo Hollywood de ter os monstros lutando entre si”, explicou Black, garantindo que na vida real provavelmente não havia esse tipo de luta entre dois grandes predadores.
2. Os velociraptors (e outros dinossauros) tinham penas
“O velociraptor no primeiro filme foi um erro desde o início, porque no romance de Michael Crichton (que inspirou o longa) o animal chamado ‘velociraptor’ foi inspirado em um outro bicho descrito no livro Predatory Dinosaurs of the World (dinossauros predadores do mundo)”, diz Black.
O deinonychus é descrito no livro como um dinossauro de tamanho equivalente ao de um humano que caçava em bandos – em seu romance, Crichton batizou um animal assim como “velociraptor”.
Os fósseis mostram que as espécies do gênero velociraptor eram animais pequenos, não maiores que um peru, e que – como outros dinossauros – tinham penas.
3. Faltam cores
Horner brinca que às vezes ele “não sabe por que foi contratado como consultor científico” para Jurassic Park, porque Spielberg no fim fez o que quis para aumentar o entretenimento.
“Foi interessante que eles tenham me chamado, porque não seguiram meus conselhos”, diz à BBC News Mundo. “Mas acho que eles queriam um pouco de credibilidade e queriam que alguém desse um ok para algumas coisas.”
Uma das decisões com a qual Horner não concordava é a cor dos animais.
“Minha sensação é que [os dinossauros] eram muito mais coloridos do que nós imaginamos. Seus descendentes, os pássaros, costumam ser muito coloridos. Não vejo por que não dar a alguns deles também cores vivas”, afirma. “Steven não queria fazer isso, ele disse que dinossauros coloridos não eram assustadores o suficiente.”
Mas Horner também reconhece que muito do que o filme original mostra foi baseado na ciência disponível no início dos anos 1990.
“No início dos anos 1990, não sabíamos se poderíamos obter DNA de amostras fossilizadas, e havia pessoas tentando obter DNA de insetos fossilizados. Isso é o que estava no livro de Michael Crichton e isso é o que a ciência estava fazendo na época.”
Os acertos
David Hone, paleontólogo da Queen Mary University de Londres, diz à BBC News Mundo que, apesar de tudo, é possível ver que alguns aspectos do filme são baseados em evidências científicas.
“O exemplo que sempre dou é o estegossauro. Em O Mundo Perdido de Jurassic Park (conhecido como Jurassic Park 2) existem uma sequência com três estegossauros, dois adultos e um bebê”, afirma.
“Embora eles sejam um pouco grandes comparado ao que eram na realidade, eles são maravilhosos. Têm alguns detalhes discutíveis, mas em geral são excelentes”.
“E tão grandes como eles são, eles são maravilhosos. Haverá alguns pequenos detalhes que podem ser debatidos, mas eles são basicamente excelentes.”
Horne também afirma que o filme conseguiu popularizar certas espécies e ampliar o interesse pelo tema.
“O tiranossauro é o único dinossauro que as pessoas tendem a se lembrar. Passei um tempo na China, onde as pessoas adoram dinossauros. É possível achar que o T. rex não seria conhecido lá, porque é um animal que viveu na América do Norte. Mas as crianças na China amam o tiranossauro.”
Os três paleontólogos concordam ao dizer que, apesar de haver alguns elementos de realidade, outros de ficção e alguns erros, o importante em Jurassic Park sempre foi o entretenimento.
“[Crichton] tinha um monte de coisas realistas [no romance] e Steven usou muito disso. Michael estava escrevendo um livro divertido e Steven estava tentando fazer um filme divertido. Não era para ser um documentário”, diz Jack Horner. “E eles acertaram o que queriam alcançar, certo?”
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!
Você precisa fazer login para comentar.