- Hazel Shearing
- Da BBC News
As provas estão chegando e os lembretes estão por toda a parte. Provas anteriores estão na tela e cronogramas de revisão de matérias estão pendurados nas paredes.
Mas, para Yehya Mougharbel, estudante de administração e marketing da Universidade de Surrey, no Reino Unido, com 22 anos de idade, a pressão é maior. É claro que ele está trabalhando para cumprir seus prazos – mas, ao mesmo tempo, está motivando seus 469 mil seguidores no TikTok para que eles também cumpram os seus.
Algumas vezes por semana, no seu alojamento na universidade, Mougharbel posiciona seu telefone celular na mesa do quarto, liga a câmera e transmite a si mesmo estudando.
Não há nada de muito extraordinário nos seus vídeos. Não há nenhuma das danças que deram fama ao aplicativo, nem memes, nem qualquer tipo de conversa enquanto ele está estudando. Mougharbel olha para a câmera à sua frente e começa a tocar uma playlist calma, ocasionalmente acompanhada pelo ruído do seu teclado enquanto ele olha para baixo.
“As pessoas simplesmente gostam de me ver estudar”, ele conta. “Elas estudam do meu lado e se sentem menos sozinhas.”
Mougharbel cresceu em Londres e conhece esse sentimento. Ele começou a filmar sua rotina diária no TikTok cerca de um ano atrás, depois que uma pessoa com quem ele queria namorar disse que ele “não vivia uma vida responsável”.
“Isso me motivou a criar esse tipo de conteúdo, para mostrar a ela e aos demais que viver sozinho representa muito trabalho nos bastidores que as pessoas normalmente não veem”, ele conta, acrescentando que, por ser perfeccionista e passar “muito tempo” em suas tarefas, ele esperava que os vídeos fizessem com que ele se tornasse mais produtivo.
E foram os vídeos de estudo que realmente fizeram sucesso. Logo ele estava ganhando 2 a 3 mil seguidores a cada novo vídeo.
“No início, eu fazia esses vídeos principalmente para mim mesmo – para me manter responsável e no caminho certo para fazer meu trabalho. Depois que vi que as pessoas assistiam aos vídeos e os achavam úteis, tornou-se uma situação duplamente proveitosa”, segundo ele.
Mougharbel envia avisos antecipados para seus seguidores sobre os vídeos, que normalmente acontecem à noite, segundo sua carga de trabalho. “Uma vez, cheguei a fazer das 6 horas da tarde às 6 da manhã, imagine! Foi um vídeo de 12 horas, só porque tinha um prazo a cumprir no dia seguinte.”
Alternativa na pandemia
A mais de 6 mil quilômetros de Surrey – em St. Louis, Missouri, nos Estados Unidos -, Casey Keith, de 24 anos de idade, assiste aos vídeos de Mougharbel duas vezes por semana, para ajudá-la a estudar na faculdade de medicina.
Ela descobriu os vídeos enquanto rolava a tela no TikTok para, em suas palavras, “tentar não estudar”. As salas de estudo presenciais que ela costumava frequentar com seus amigos estavam fechadas devido à pandemia, de forma que ela desenvolveu o hábito de procrastinar enquanto estudava em casa.
Os vídeos de Mougharbel se destacaram no seu feed. O quadro branco posicionado na sua mesa a levava a parar de perder tempo rolando a tela e tratar de estudar com ele.
“Eu disse ‘está bem, vamos tentar isso'”, ela conta. “Fui e comecei a estudar, já que o livro estava aberto na minha frente.” E, em pouco tempo, Mougharbel tornou-se seu companheiro virtual de estudos.
“É muito bom ter alguém por perto para ajudar a motivar você”, afirma ela.
“Acho que um dos principais pontos e que funciona bem para mim é que não posso falar fisicamente com ele. Eu não posso me virar para ele e dizer ‘não quero mais fazer isso, estou cansada, quero só jantar e ir para a cama'”, explica Keith. “Às vezes, pode ser difícil e fico pronta para terminar, mas só de vê-lo já fico inspirada para continuar.”
Leigh-Anne Perryman, professora sênior do Instituto de Tecnologia Educacional da Universidade Aberta, no Reino Unido, afirma que estudar totalmente sozinho “pode gerar procrastinação e falta de motivação”, enquanto ter um colega de estudos pode fornecer “baixo nível de distração”, o que é útil.
“Antes da pandemia, era comum que as pessoas estudassem na biblioteca, em silêncio, ao lado dos colegas, ou em um café – atingindo esse baixo nível de distração. A pandemia tornou isso impossível para muitas pessoas”, explica Perryman.
“Esse tipo de vídeo ao vivo oferece uma alternativa segura e facilmente acessível – e os hábitos que começaram na pandemia aparentemente continuaram, agora que a interação presencial está se tornando mais praticável”, segundo ela.
Mougharbel estuda com o chamado método Pomodoro, segundo o qual estudamos por um certo período de tempo (ele usa um timer para marcar períodos de 50 minutos) e depois fazemos um intervalo (neste caso, 10 minutos).
Durante o intervalo, ele reabastece a indispensável caneca de café e vai ao banheiro. Mas ele também fala com seus seguidores, respondendo perguntas que surgem nos comentários sobre todos os assuntos, desde quais lanches ele está comendo até onde ele compra seu equipamento de estudo. Sem contar as questões sobre Herbert, o urso de pelúcia que às vezes pode ser visto na sua cama.
Para Claire Cashman, estudante de direito do Reino Unido com 25 anos de idade, esses intervalos fazem toda a diferença. Como Keith, ela estava rolando a tela “sem propósito” no TikTok quando o vídeo de Mougharbel chamou sua atenção devido à música que estava tocando.
“Tenho atração por música clássica e trilhas musicais de filmes. Acho que eram dois violoncelos tocando ao mesmo tempo e isso me atraiu”, segundo ela. “O ambiente minimalista, a iluminação e toda a energia do estudo me fizeram querer permanecer até o intervalo, quando ele fala com os seguidores. Desde então, dificilmente deixo de assistir.”
Os vídeos de Yehya Mougharbel começaram como uma forma de impressionar uma pessoa de interesse e aumentar a produtividade. Eles podem não ter funcionado para o namoro, mas a produtividade aumentou. Agora, ele se vê rodeado por uma comunidade online e sua capacidade de concentração aumentou.
Mougharbel está terminando seu curso, mas espera fazer mestrado, o que trará mais sessões de estudo online. “É muito estimulante ver alguém se juntar a você e estudar ao seu lado.”
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