- Felipe Souza – @felipe_dess
- Da BBC News Brasil em São Paulo
Durante a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, movimentos sociais foram até a praça da Sé, no centro de São Paulo, distribuir comida e roupas a moradores de rua na ação conhecida como Grito dos Excluídos. Belisa de Souza, de 32 anos, vive em situação de rua e diz que os festejos e desfiles do 7 de Setembro não fazem sentido para ela.
Falando à reportagem sobre a comemoração que levou milhares de pessoas às ruas, ela diz que não se considera uma pessoa independente.
“Primeiro, porque o nosso governo hoje em dia não deixa a gente independente. A gente não tem como lutar por nós mesmos. As pessoas aqui precisam de barracas para dormir, entende? Eu não tenho barraca. Eu durmo no chão. Então, como eu sou independente?”, questiona.
A reportagem da BBC News Brasil foi à praça da Sé ouvir moradores de rua no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) discursava em Brasília após o desfile em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil.
Em São Paulo, Belisa questionava não só a história, mas também fez uma crítica à administração do país.
“Eu agradeço pela história que foi contada nas escolas, Dom Pedro 1º e tudo mais. Mas até o quadro do Pedro Américo é diferente do real, porque todo mundo usava burro. A real independência é a desse governo que não olha pra gente. O nosso prato era arroz, feijão e alguma mistura. Hoje em dia, não tem mais mistura no prato. Vamos dar uma melhorada nessas pendências que estão faltando, né?”, afirma.
Iniciado em 1995, o Grito dos Excluídos, que distribuiu cerca de 3 mil kits de alimentação a pessoas na Sé, é um movimento que visa se contrapor ao Grito do Ipiranga, de Dom Pedro. A intenção, segundo os idealizadores, é dar voz a quem quase nunca é ouvido.
Sem absorvente
Formada em gastronomia e adotada por pais estrangeiros, Belisa de Souza não deu detalhes de como voltou para as ruas, mas afirmou que as mulheres sem-teto sentem ainda mais dificuldade que os homens.
“Absorvente falta. As tendas funcionam até um certo horário. E depois disso? E nós mulheres que precisam se limpar depois de fazer xixi, como é que funciona?”, afirma.
A menos de um mês do primeiro turno, ela diz que vai fazer questão de votar nas eleições presidenciais.
“Este ano, eu vou. Como eu voto em Santana (zona norte), eu vou ter que pedir carona no ônibus, entrar na cabine e votar. Esse cara não me representa. Eu achava que me representaria, mas não me representou em nada. Me deu R$ 600 por causa da pandemia, porque ele se sentiu apertado. Só que eu estou apertada faz muito tempo”, disse.
Ela espera que o próximo governo tenha um olhar mais cuidadoso não só com os moradores de rua, mas também com a população mais pobre em geral. E sugere algumas políticas, especialmente para as pessoas em situação de rua.
“Primeiro, fazer as internações voluntárias para quem precisa. Esses hotéis sociais têm que ser dos velhinhos. Tem muito velhinho de cadeira de rodas velha que precisa até de ajuda para tomar banho porque não consegue sozinho. E as crianças e as mães delas”, diz.
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