O presidente Jair Bolsonaro (PL) discursou na sessão de abertura dos debates da 77ª Assembleia Geral da ONU em Nova York na manhã da terça-feira (20/09) e usou seu tempo para fazer uma defesa de seu governo — além de tecer críticas ao principal adversário que enfrentará nas urnas em outubro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A duas semanas das eleições presidenciais, Bolsonaro disse que o Brasil teve sucesso no combate à pandemia de covid-19 e destacou a vacinação (sobre a qual havia lançado dúvidas em 2020 e 2021), disse que a pobreza aumentou no mundo todo por causa da pandemia, afirmou que o país teve sucesso na proteção do meio ambiente e elogiou o agronegócio.
O presidente também pediu o fim da guerra na Ucrânia, mas criticou as sanções à Rússia e disse que a paz deve ser alcançada exclusivamente pelo diálogo.
Bolsonaro também falou sobre defesa das mulheres e citou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, a quem tem dado grande destaque em sua campanha eleitoral para tentar atrair o voto feminino — uma das fatias do eleitorado onde o presidente tem obtido resultados desfavoráveis nas pesquisas.
Líderes de 193 países se reúnem na Assembleia Geral nesta semana. É a primeira reunião em grande escala de líderes globais desde que a Rússia invadiu a Ucrânia — assunto que deve dominar o encontro.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, vai participar por vídeo. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, não compareceu ao evento — enviou em seu lugar o chanceler Serguei Lavrov, que foi embaixador russo na ONU por dez anos.
Esta foi a quarta vez que Bolsonaro discursou na Assembleia Geral.
Em 2019, seu primeiro ano de governo, o discurso do presidente foi marcado por defesa da soberania do Brasil em um momento em que enfrentava críticas internas e externas por causa do desmatamento da Amazônia.
No ano seguinte, em que o mundo enfrentava o primeiro ano da pandemia de covid-19, Bolsonaro participou à distância e disse que o país enfrentava uma “campanha de desinformação” sobre a destruição da floresta. Em 2021, defendeu o “tratamento precoce”, sem comprovação científica, contra a doença.
Neste ano, Bolsonaro levou seu filho Eduardo Bolsonaro, o chanceler Carlos França, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, o embaixador do Brasil na ONU Ronaldo Costa e os ministros Ciro Nogueira e Fábio Faria para acompanhá-lo na tribuna do Brasil. Sem cargo no governo, o pastor Silas Malafaia também foi a Nova York com a comitiva presidencial, mas não participou da abertura.
Veja os principais pontos do discurso de Bolsonaro em 2022.
Defesa da economia
Bolsonaro usou boa parte do seu tempo para dizer que a economia do Brasil está indo bem, destacando indicadores positivos no campo econômico e culpando a pandemia pela crise.
“A pobreza aumentou em todo o mundo sob o impacto da pandemia”, disse ele. “E no Brasil ela já começou a cair.”
Destacou indicadores positivos sobre inflação, por exemplo, citando a deflação registrada em julho e agosto — o Brasil teve forte alta nos preços no acumulado de 6 meses e no acumulado de 12 meses, mas houve retração nos índices nos meses citados principalmente pela queda no preço dos combustíveis.
Bolsonaro também destacou a queda no preço da gasolina e afirmou que a atuação do governo não foi uma “intervenção estatal”.
“Foi resultado de uma política de racionalização de impostos formulada e implementada com o apoio do Congresso Nacional”, disse o presidente.
A meses da eleição, o governo fez uma forte campanha para a aprovação de uma redução do ICMS que permitisse a queda no preço dos combustíveis fósseis.
Recado a Lula e críticas à esquerda
Candidato à reeleição, Bolsonaro usou o lugar de destaque na Assembleia Geral da ONU para fazer críticas ao seu principal adversário, o ex-presidente Lula, mas sem citá-lo nominalmente.
Afirmou que seu governo “extirpou a corrupção sistêmica que existia no país” e o fato de que o Brasil caiu em ranking de combate à corrupção em 2021 — apesar de acusações e investigações envolvendo ele próprio e seus filhos .
Também culpou a esquerda e o ex-presidente Lula pelo endividamento da Petrobras, e disse que o “responsável por isso foi condenado em três instâncias por unanimidade”.
O ex-presidente Lula na verdade teve todas as condenações anuladas pois a Justiça entendeu que ele não teve um julgamento justo devido à parcialidade do então juiz Sergio Moro.
Em outra crítica à esquerda, Bolsonaro disse que o Brasil “abre as portas para os padres e freiras católicas que têm sofrido cruel perseguição do regime ditatorial da Nicarágua” e afirmou que o Brasil “repudia a perseguição religiosa em qualquer lugar do mundo”.
O presidente também fez críticas à Venezuela, outro país em crise que costuma tomar como exemplo de governo de esquerda.
Vacinas e pandemia
Bolsonaro iniciou o discurso pintando uma imagem positiva da atuação de seu governo durante a pandemia de covid-19, na qual morreram mais de 685 mil pessoas no Brasil.
Deu destaque ao programa de vacinação, à produção nacional de vacinas e ao fato de 80% da população ter sido vacinada – durante a pandemia, no entanto, o presidente havia levantado dúvidas sobre as vacinas e não respondeu às ofertas iniciais de imunizantes feitas ao país. Também não se vacinou publicamente e impôs sigilo sobre a sua carteira de vacinação.
“Quando o Brasil se manifesta sobre a agenda da saúde pública, fazemos isso com a autoridade de um governo que, durante a pandemia da covid-19, não poupou esforços para salvar vidas e preservar empregos”, afirmou Bolsonaro.
Também deu destaque ao auxílio financeiro durante a pandemia — embora o governo inicialmente desejasse um valor menor do que o que foi posteriormente aprovado pelo Congresso.
“Como tantos outros países, concentramos nossa atenção, desde a primeira hora, em garantir um auxílio financeiro emergencial aos mais necessitados.”
Elogio à primeira-dama
Bolsonaro fez questão de citar em seu discurso a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que também tem tido forte destaque em sua campanha eleitoral.
“A primeira-dama Michelle Bolsonaro trouxe novo significado ao trabalho de voluntariado desde 2019, com especial atenção aos portadores de deficiências e doenças raras”, afirmou ele em parte do discurso em que falava dos direitos das mulheres.
As mulheres são a fatia do eleitorado em que Bolsonaro tem maior dificuldade de crescer nas pesquisas. Aproveitando o discurso para fazer um aceno a esse público, afirmou que tem atribuído prioridade à proteção das mulheres.
“Trabalhamos no Brasil para que tenhamos mulheres fortes e independentes, para que possam chegar aonde elas quiserem”, afirmou.
Amazônia e Agronegócio
No tema do meio-ambiente, Bolsonaro repetiu as ideias que apresentou em anos anteriores, dando destaque ao fato de que a matriz energética brasileira não é dependente de recursos fósseis e comparando a cobertura vegetal do país com a de outras nações.
Também criticou a cobertura da imprensa quanto aos problemas ambientais sofridos pelos país e defendeu a exploração econômica da região.
“Em matéria de meio ambiente e desenvolvimento sustentável, o Brasil é parte da solução e referência para o mundo”, disse o presidente.
“Dois terços de todo o território brasileiro permanecem com vegetação nativa. Na Amazônia brasileira, área equivalente à Europa Ocidental, mais de 80% da floresta continua intocada, ao contrário do que é divulgado pela grande mídia nacional e internacional.”
Bolsonaro também deu grande destaque ao agronegócio brasileiro, dizendo que ele é nosso “orgulho nacional”.
“Para o período 2022/2023, a previsão é que a produção total ultrapasse os 300 milhões de toneladas. Como afirmou a Diretora-Geral da Organização Mundial do Comércio, em recente visita que nos fez, se não fosse o agronegócio brasileiro, o planeta passaria fome, pois alimentamos mais de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo”, disse ele.
Armas, aborto e ‘ideologia de gênero’
Em um aceno à fatia mais ideológica e fiel de sua base de apoio, Bolsonaro falou em “defesa da família”, em “direito à legítima defesa” – o armamento da população civil é uma de suas principais pautas – e criticou o direito ao aborto.
“Valores fundamentais para a sociedade brasileira, com reflexo na pauta dos direitos humanos, são a defesa da família, do direito à vida desde a concepção, à legítima defesa e o repúdio à ideologia de gênero”, afirmou.
“Ideologia de gênero” é uma expressão normalmente usada por setores da direita para se referir aos direitos das pessoas LGBTQIA .
Também deu destaque às manifestações de 7 de setembro, encerrando seu discurso com a afirmação de que “foi a maior demonstração cívica da história do nosso país, um povo que acredita em Deus, pátria, família e liberdade”.
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