Há alguns dias, imagens de homens armados invadindo um estúdio de televisão durante uma transmissão ao vivo correram o mundo e expuseram a gravidade da crise de segurança no Equador.

Foi uma demonstração de poder e um desafio direto às instituições do país e ao presidente Daniel Noboa, que havia declarado estado de emergência em 8 de janeiro, após dois líderes de duas das principais facções criminosas que atuam no país fugirem da prisão.

Além da invasão do canal TC em Guayaquil, também houve explosões em várias partes do país e rebeliões em presídios, com o sequestro de dezenas de guardas, em uma mobilização criminosa sem precedentes na história do país.

A situação levou Noboa a assinar um decreto executivo reconhecendo a existência de um “conflito armado interno”, ordenando a neutralização das gangues, descritas por ele como organizações terroristas transnacionais.

No decreto, Noboa citou um total de 22 facções criminosas, apontadas por ele como fontes da grave situação de violência e insegurança no país.

Na lista, as gangues aparecem em ordem alfabética e alguns dos nomes se destacam pelo alcance de suas operações no território equatoriano, como Los Chorenos e Los Lobos.

Essas duas gangues estão entre as cinco principais organizações criminosas da América Latina e do Caribe, de acordo com o site de notícias e think tank InsightCrime.

“Durante anos, a gangue Los Choneros foi a estrutura criminosa dominante no Equador”, mencionou o portal em sua investigação ‘Os 5 Protagonistas do Crime’.

“A fragmentação do grupo levou, no entanto, ao surgimento de seu principal rival, Los Lobos, com quem agora disputam o poder e buscam sua fatia do bolo do crime”

Neste mapa preparado pela InsightCrime, com dados do Ministério do Interior do Equador, é possível ver como a Los Lobos está presente em quase todas as províncias do Equador, do norte, em Esmeraldas, ao sul, em Loja.

A Los Chorenos, por sua vez, está mais concentrada no centro e sul do país, embora também controle o leste da Amazônia.

Os dois líderes que escaparam da prisão são os líderes dessas duas gangues: Adolfo Macias, conhecido como “Fito”, da Los Chorenos, e Fabricio Colón Pico, conhecido como “El Salvaje”, chefe da Los Lobos.

Tiguerones, Lagartos e Fatales são outras gangues mencionadas por Noboa com ampla presença no Equador. A maioria, porém, está concentrada em duas províncias-chave: Guayas e Esmeraldas.

Especialistas atribuem o crescimento das gangues criminosas no Equador a uma mudança de papel do país no tráfico global de drogas nos últimos anos.

De país de “trânsito”, o Equador passou a ser um local onde as drogas são armazenadas, processadas e distribuídas, a ponto de os Estados Unidos terem incluído-o em sua lista de países com maior tráfico e produção de drogas no mundo.

Quando há mais drogas, há mais dinheiro, o que intensifica a disputa pelo controle do negócio do narcotráfico em solo equatoriano.

Não é por acaso que as províncias com maior presença de grupos criminosos são também as mais violentas.

O Equador passou de seis homicídios por 100 mil habitantes em 2016 para 25 por 100 mil em 2022.

Enquanto isso, entre janeiro e junho de 2023, foram registrados 3.513 assassinatos, um aumento de 58% em relação a 2022, segundo dados do Observatório Equatoriano do Crime Organizado (OECO).

“90% dos homicídios no Equador são assassinatos, ou seja, relacionados ao crime organizado. Destes, apenas 7% dos homicídios são solucionados”, explicou Renato Rivera, coordenador da OECS.

Esse aumento está geograficamente alinhado aos principais corredores de droga.

Uma dessas rotas, a rota do Pacífico, passa por Esmeraldas e Guayaquil, duas cidades portuárias de onde a droga é distribuída para a América Central, México, Estados Unidos e Europa.

A outra rota, a amazônica, atravessa a província de Sucumbios, na fronteira com a Colômbia, de onde as drogas são direcionadas para o Brasil e outros países da região.

A grande quantidade de drogas atualmente movimentadas no Equador se reflete no número recorde de apreensões registradas no país desde 2019, ultrapassando 200 toneladas nos últimos três anos.