Um escândalo de corrupção está abalando a União Europeia.
Eva Kaili, uma das vice-presidentes do Parlamento Europeu, está entre as várias pessoas detidas por acusações de corrupção que envolveriam supostamente o Catar, num aparente plano do país para ganhar influência política na Europa.
Órgãos controladores e eurodeputados da oposição afirmaram que a investigação pode representar um dos maiores escândalos de corrupção na história do Parlamento Europeu.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que as acusações são “muito graves” e propôs a criação de um novo órgão de ética para a União Europeia.
A presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, alertou, por sua vez, que “a democracia europeia está sendo atacada”.
“Sociedades abertas, livres e democráticas estão sob ataque”, enfatizou Metsola.
O Parlamento Europeu é a única instituição da União Europeia eleita pela população dos 27 países membros do bloco — e seu papel é estudar as propostas de leis e votá-las.
A seguir, estão três pontos-chaves sobre este escândalo que, segundo a correspondente da BBC em Bruxelas, Jessica Parker, tem deixado muita gente perplexa.
1. A operação e as prisões
A polícia da Bélgica, principal sede da União Europeia, deteve até agora seis pessoas — entre elas, Eva Kaili.
Quatro dos detidos foram acusados de corrupção e lavagem de dinheiro. As outras duas pessoas foram liberadas.
Os agentes belgas realizaram quase vinte operações policiais em Bruxelas desde sexta-feira, nas quais apreenderam US$ 632 mil em dinheiro em espécie.
Parte do dinheiro estava em uma mala em um quarto de hotel em Bruxelas.
Eles também apreenderam computadores e celulares.
Embora não tenham identificado publicamente nenhum suspeito, horas depois soube-se que Eva Kaili está entre os acusados.
“Quatro pessoas foram presas pelo juiz de instrução de Bruxelas que está conduzindo a investigação”, disse a procuradoria federal belga em um comunicado.
“Elas são acusadas de participação em organização criminosa, lavagem de dinheiro e corrupção. Duas pessoas foram liberadas pelo juiz de instrução.”
De acordo com o comunicado, o esquema consistia em “pagar elevadas quantias de dinheiro ou oferecer grandes presentes a terceiros com uma posição política ou estratégica significativa no Parlamento Europeu”.
A presidente do órgão, Roberta Metsola, teve que voar de Malta para Bruxelas na noite de sábado para estar presente nas buscas realizadas na casa de um eurodeputado, conforme exigido pela Constituição belga.
Um porta-voz de Metsola afirmou que ela “decidiu suspender com efeito imediato todos os poderes, deveres e tarefas que foram delegados a Eva Kaili”.
As primeiras informações indicavam que os promotores do caso suspeitavam que um país do Golfo Pérsico vinha influenciando há meses as decisões econômicas e políticas do parlamento.
Mais tarde, a revista Knack e o jornal Le Soir, ambos belgas, sugeriram — citando fontes “bem informadas” — que o Estado em questão era o Catar, embora o governo de Doha negue ter feito algo errado.
“Não temos conhecimento de nenhum detalhe de uma investigação. Qualquer denúncia de má conduta por parte do Estado do Catar está seriamente desinformada”, disse um porta-voz do governo do Catar à agência de notícias AFP.
O país “opera em pleno cumprimento das leis e regulamentos internacionais”, acrescentou.
Alguns diplomatas europeus disseram à agência de notícias Reuters no mês passado que a pressão para manter boas relações com o Catar estava aumentando, à medida que a Europa se encaminha para um inverno de escassez de energia devido à invasão da Ucrânia pela Rússia.
O porta-voz da presidente do Parlamento Europeu disse que a instituição “se opõe fortemente à corrupção” e está “cooperando plenamente” com os investigadores.
O Parlamento Europeu adiou a discussão de um projeto que beneficiaria vários países, incluindo o Catar, com a isenção de vistos no espaço Schengen.
Von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, disse que “as acusações contra a vice-presidente do Parlamento Europeu são da maior preocupação, muito graves”.
“É uma questão do povo confiar em nossas instituições, e essa confiança em nossas instituições precisa de padrões mais elevados.”
3. Quem é Eva Kaili
Eva Kaili é eurodeputada há oito anos.
Ela é representante da Grécia e ingressou no Parlamento Europeu como parte do Grupo de Socialistas e Democratas do parlamento.
Como consequência das acusações, além de ter sido suspensa de suas funções no órgão legislativo europeu, ela foi expulsa do partido grego de centro-esquerda Pasok.
Promotores na Grécia congelaram todos os seus bens, de acordo com detalhes da investigação revelados no fim de semana.
No passado, a eurodeputada saiu em defesa do Catar, inclusive em temas polêmicos.
Em um discurso no mês passado sobre direitos humanos em torno da Copa do Mundo de 2022 no Catar, ela chamou o país de “líder em direitos trabalhistas” por abolir a kafala, sistema usado em vários Estados do Golfo Pérsico que as organizações de direitos humanos comparam à escravidão moderna.
“A Copa do Mundo no Catar é uma prova, na verdade, de como a diplomacia esportiva pode alcançar a transformação histórica de um país com reformas que inspiraram o mundo árabe”, afirmou.
O Catar havia sido acusado anteriormente de corrupção, inclusive em sua candidatura para sediar a atual Copa do Mundo. O país nega as acusações.
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