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Legenda da foto, O olfato dos cães é 10 mil vezes mais poderoso que o dos seres humanos

  • Author, Jacqueline Boyd
  • Role, The Conversation*

Quando o assunto é o diagnóstico preciso de uma doença, é fácil imaginar a necessidade de máquinas e equipamentos caros de alta tecnologia, que sejam capazes de examinar profundamente sob a pele para verificar o que está acontecendo no corpo.

É claro que esses aparelhos são incríveis, mas eles não são os únicos instrumentos capazes de detectar doenças. Na verdade, talvez você mesmo tenha dentro de casa um desses poderosos agentes de detecção de enfermidades.

Existem inúmeros casos de incrédulos tutores de animais de estimação que ficaram sabendo pelo seu pet sobre algum problema de saúde. Exemplos incluem cães lambendo, cheirando e até tentando morder pontos da pele do seu dono, que foram posteriormente diagnosticados como melanomas malignos.

Muitas dessas doenças são potencialmente sérias, especialmente em pacientes vulneráveis e imunocomprometidos. Por isso, a detecção precoce e precisa é essencial.

Aqui estão apenas alguns desses animais notáveis que conseguem detectar doenças em seres humanos.

Cães

Aparentemente, o impressionante olfato dos cachorros oferece a capacidade de detectar odores específicos, mesmo em concentrações incrivelmente baixas.

Os cães de biodetecção irão tipicamente congelar quando reconhecerem um odor, aguardando sua recompensa. Os cães de alerta médico irão frequentemente interagir com seu tutor, talvez empurrando ou apalpando com as patas, para indicar que eles precisam tomar medidas de segurança.

Ratos

Os ratos também são ótimos para detectar odores específicos.

E esses ratos também estão se revelando valiosos parceiros na detecção médica. Eles desempenham papel importante na detecção da tuberculose em amostras de saliva em casos suspeitos.

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Legenda da foto, Os ratos têm o sentido do olfato incrivelmente preciso

Os ratos são rápidos. Eles levam apenas 20 minutos para analisar 100 amostras de pacientes. Eles usam sua habilidade olfativa para detectar a assinatura química característica da tuberculose nas amostras.

Com isso, os ratos treinados são uma opção valiosa frente à limitação de tempo e dinheiro nas unidades de análise e diagnóstico. Seu índice de sucesso é incrivelmente alto – eles detectam com precisão os casos de tuberculose em 81% das vezes.

Abelhas

Pesquisadores conseguiram treinar abelhas para reagir à presença de odores específicos, fazendo com que elas desenrolem a língua para conseguir uma recompensa açucarada. Com o treinamento, esta reação passa a ser consistente e altamente sensível para odores relacionados a doenças.

Esta capacidade faz com que as abelhas sejam úteis para detectar doenças da mesma forma que outros animais. E o seu tamanho pode fazer com que elas sejam uma opção ainda mais eficiente e econômica para a rápida análise de amostras.

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Legenda da foto, As abelhas são extremamente sensíveis a odores em baixa concentração

Sentidos superiores

Mas como os animais conseguem identificar a presença de doenças específicas?

Tudo está relacionado com a capacidade de muitos animais de detectar alterações minúsculas do perfil de odores químicos de uma pessoa.

Muitas espécies (como os cães, ratos e abelhas) podem detectar mudanças muito sutis em substâncias denominadas compostos orgânicos voláteis (COVs), que são liberados pelo corpo em níveis muito baixos, mesmo quando estão saudáveis.

Mas a capacidade de detecção de doenças em animais são existe apenas para benefício humano.

O verme C. elegans consegue detectar câncer, mas não apenas em amostras de seres humanos. Seu olfato superior permite que ele também detecte câncer em amostras de cães e gatos.

A capacidade de diferentes espécies de usar seu olfato para detectar doenças com precisão pode simplesmente fazer com que o emprego de animais de detecção treinados seja uma forma eficaz, não invasiva, rápida e econômica de analisar condições de saúde específicas. Ela pode até aumentar as interações positivas entre as pessoas e os animais.

Curiosamente, devido às regulamentações existentes, os animais utilizados para detecção de doenças são atualmente considerados simples “ferramentas” de análise, empregadas paralelamente aos métodos de diagnóstico médico. Mas, se as estruturas de regulamentação permitirem, os animais de detecção poderão, um dia, desempenhar papéis centrais no diagnóstico de doenças.

De fato, os cães de detecção foram mais rápidos (e mais baratos) na análise de amostras de covid-19 do que os testes de PCR rotineiros.

Compreendendo as capacidades de detecção dos animais, podemos simplesmente ajudar a aprimorar ainda mais os testes de diagnóstico em laboratório, aplicando algumas das suas notáveis capacidades.

Explorar as capacidades olfativas dos animais pode ser útil para nós, mas é importante lembrar que a saúde e o bem-estar dos animais envolvidos também devem ser prioridade.

Além das preocupações de custo, segurança e eficiência, é preciso sempre levar em consideração a ética de trabalhar com animais em qualquer programa de análise de doenças em larga escala que envolva a sua participação.

*Jacqueline Boyd é professora de ciências animais da Universidade Nottingham Trent, no Reino Unido.