- Israel Campos — @ICampos2000
- Da BBC News Brasil em Londres
Com um passado histórico que se cruza, Angola e o Brasil têm muito em comum, em grande parte pela herança cultural que compartilham. E essas similaridades vão muito além da língua portuguesa.
Abaixo, conheça algumas destas curiosidades que nós selecionamos para brindar os laços que unem estes dois países considerados irmãos.
1. Chegada dos portugueses
Angola é um dos 54 países africanos e fica na costa ocidental. O país faz fronteira com a República Democrática do Congo, a Zâmbia e a Namíbia.
A sua localização geográfica, banhada pelo Atlântico, foi determinante no destino de Angola quando essa área se viu, no fim do século XV, na mira dos navegadores portugueses que andavam naquela zona em busca de uma maneira de alcançar fornecedores no valorizadíssimo comércio de especiarias da Ásia.
Comandados pelo navegador Diogo Cão, os portugueses desembarcaram pela primeira vez em Angola em 1482, ou seja, 18 anos antes de chegarem ao Brasil.
O historiador luso-angolano Alberto Oliveira Pinto diz que: “a política portuguesa naquela época era a de tentar encontrar o fim da África, e encontrar parceiros africanos no negócio de escravos que já existia”.
Mas vale mencionar que a colonização em Angola só começaria oficialmente quase um século depois, em 1575.
2. Origem dos povos de Angola
Angola tem uma grande diversidade cultural, fruto da sua riqueza étnica. Lá, existem mais de 30 milhões de pessoas e se falam mais de 20 línguas, entre elas o Kimbundu, Umbundu, Nganguela, Kwanyama, além do português e muitos outros.
Essa diversidade se explica em grande parte pelas migrações internas e pela longa história da ocupação humana na África.
Os primeiros povos de que se tem registro em Angola são os Khoisan, que eram tidos como grandes caçadores.
Já os povos bantos chegaram ao hoje conhecido como território angolano por volta do século 6 dC. Eles formaram um caldeirão étnico que não ficaria restrito às fronteiras angolanas por causa de um triste capítulo da história que acabou gerando laços entre o Brasil e Angola: a colonização.
“Os povos bantu penetram aquilo que viria a ser a região de Angola, em ondas sucessivas, e ao longo de séculos, durante um milênio, mas só penetram no território de Angola já no primeiro milênio depois de Cristo”, diz Oliveira Pinto.
3. Escravizados vindos de Angola
Boa parte dos africanos escravizados que chegaram ao Brasil vieram de Angola. O interesse econômico português no país incluía a exploração de recursos naturais e, sobretudo, a exploração em larga escala do tráfico negreiro.
Em números gerais, 10 milhões de africanos foram levados para o chamado Novo Mundo. Há estimativas que indicam que cerca de 5 milhões deste número tenham saído de Angola. Alguns eram originários de Angola e outros foram retirados de outras partes do continente e embarcavam de Angola para as Américas.
O historiador luso-angolano Alberto Oliveira Pinto diz que Luanda, a capital de Angola, foi um dos maiores portos de tráficos de escravizados de Angola para o Brasil.
“Sempre houve uma relação permanente entre Luanda e os portos brasileiros, seja Salvador, Santos ou Rio de Janeiro. E havia famílias brasileiro-angolanas, que viviam parte do tempo no Brasil parte do tempo em Angola, e ainda há algumas até hoje,” ele esclarece.
4. Influência das línguas de Angola no português brasileiro
E a nossa quarta curiosidade é a língua compartilhada entre os dois países. E não estamos falando do português, mas justamente da influência dos idiomas bantus no vocabulário.
Vieram de idiomas bantus palavras como moleque, dengo, cafuné, caçula, cachimbo, bunda, farofa, muvuca, quitanda, samba, bagunça, lengalenga, e muitas tantas outras como senzala e quilombo.
O linguista angolano Ezequiel Bernardo considera que “Angola e Brasil estão ligados na espiritualidade porque a língua em si é um elemento simbólico cultural histórico que envolve uma série de questões”.
“Essa relação que existe, e que foi influenciada devido à colonização e à escravatura, propriamente, fizeram com que o Brasil tivesse várias palavras da língua Kimbundu e Umbundu no seu português”, ele acrescenta.
5. Brasil foi o primeiro país a reconhecer a independência de Angola
O Brasil foi o primeiro país do mundo a reconhecer a independência de Angola em 11 de novembro de 1975, depois de mais de 300 anos de colonização portuguesa.
Em 4 de janeiro de 1961, Angola teve o que foi considerada a primeira rebelião contra o regime colonial, organizada por trabalhadores de uma empresa angolana produtora de algodão.
Essa rebelião entrou para a história como a Revolta da Baixa de Cassanje, e deu início a uma luta que levaria anos depois a independência em 1975.
Vale lembrar que o Brasil ficou independente de Portugal em 1822, ou seja, um século e meio antes de Angola.
Essa demora maior em Angola tem de certa forma a ver com a chamada Partilha da África que, em 1885, dividiu oficialmente o continente africano entre potências europeias da época, levando a uma segunda onda de colonização, o chamado neo-imperialismo.
Angola, que já era colonizada desde as primeiras navegações, continuou sob controle português. Ou seja, passou pelas duas ondas de colonização europeia.
6. Guerra civil e a paz em Angola
A independência lançou Angola em quase três décadas de guerra civil. Depois da independência, os portugueses deixaram o país sem entregar formalmente o controle para nenhum dos grupos que lutavam pela independência, o MPLA, a UNITA e a FNLA, — e a guerra entre eles durou até 2002.
Angola é uma república, mas um fato curioso é que, desde 1975 até aos dias de hoje, o país só teve um único partido no poder — que é o MPLA, o Movimento pela Libertação de Angola.
Os partidos da oposição acusam o MPLA de utilizar o seu poder e domínio sobre as instituições de Angola para vencer as eleições de forma fraudulenta. O partido nega.
Um recente estudo do Centro de Estudos Estratégicos Africanos diz que o MPLA “persegue sistematicamente este objetivo de se manter no poder através de uma série de manobras desajeitadas que maximizam o seu controle sobre as estruturas do Estado.”
O partido surgiu como um movimento de independência e tem raízes na esquerda.
Vamos lembrar que Angola emergiu como nação durante a Guerra Fria e entrou na esfera de influência soviética até a década de 90, quando entrou em sintonia mais próxima com o capitalismo dos países chamados ocidentais.
E tal como no Brasil, em 2022 tem eleição presidencial em Angola também.
7. Riquezas naturais de Angola
Angola é um país rico em recursos naturais, e é um dos principais produtores de petróleo na África. É também um dos países africanos com maior diversidade de biomas. São savanas, florestas tropicais, ecossistemas úmidos e marinhos.
E é lá que fica o deserto do Namibe. Esse deserto tem mais de 55 milhões de anos e por isso acredita-se que possa ser o deserto mais antigo do mundo.
Angola é também casa da Floresta do Mayombe, que é a segunda floresta mais extensa do mundo, ficando atrás só de uma. Adivinha qual? Sim, da Amazônia.
8. Samba ou Semba?
Em Angola, existem vários estilos musicais. Os mais populares no exterior são a kizomba e o kuduro. A Kizomba significa “festa” e nasceu em Angola na década de 80. É um dos maiores estilos musicais em Angola, e requer duas pessoas para se dançar.
Já o Kuduro nasceu em Luanda, e é um dos maiores ritmos populares de Angola, – outrora mais famoso nas periferias mas hoje reconhecido e respeitado em todo o país.
O Semba é outro estilo tradicionalmente Angolano que reúne muita gente nas rodas de festa. E você sabia que a palavra “samba” tem origem angolana e acredita-se que tenha nascido da palavra Semba – que em kimbundo significa “umbigo”?
O pesquisador brasileiro Nei Lopes, por exemplo, diz que, para o povo quioco de Angola, a palavra samba é um verbo que significa “cabriolar, brincar, divertir-se como um cabrito”.
9. A influência brasileira em Angola
As novelas, os seus personagens e suas histórias fazem e fizeram tanto sucesso em Angola que o maior mercado popular a céu aberto na África chegou a receber o nome de “Roque Santeiro”, em homenagem à novela brasileira exibida em Angola na década de 1980.
Ana Paula Lisboa é artista textual brasileira e vive na capital angolana, Luanda, desde 2016. Ela também nos falou dessa influência artística do Brasil em Angola.
“Todo lugar onde eu vou [em Luanda], todos os meus amigos ouvem música brasileira contemporânea. Para além do eles já ouviram tipo: Zezé di Camargo e Luciano, Chitãozinho e Xororó, Leandro e Leonardo, Roberta Miranda – gente Roberta Miranda é ídola, deusa, nesse país, que assim ela é amada aqui,” ela conta.
10. Miss Universo angolana coroada em São Paulo em 2011
Angola já venceu o Miss Universo, numa edição que aconteceu em São Paulo, em 2011. A miss angolana Leila Lopes, tinha 25 anos, e foi a vencedora da edição.
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