O Ano Novo (Rosh Hashaná, em hebraiso “cabeça do ano”) é a principal festa do calendário judaico. Não tem data fixa. Acontece sempre no primeiro dia da lua, do mês de Tishrei (que corresponde ao nono mês do calendário gregoriano). Começou no dia 18, da semana passada, o ano 5.781. As comemorações duram 10 dias, terminando só com o dia do arrependimento (Yom-Kipur). É período de penitência, oração e reflexão. De pratos especiais também, cheios de simbolismo. Entre eles o Challah – pão trançado que nessa época ganha forma de espiral, lembrando o próprio ciclo da vida. O Tzimes – cozido agridoce feito com carne, cenouras e frutas secas (damasco, maçã, passa), que representa a resistência do povo judeu. E grão de bico, alho-poró e outros vegetais que simbolizam fertilidade. O Guefilte fish – bolinhos de peixe (carpa, arenque ou qualquer outro peixe de carne branca), prato usado em todas as ocasiões especiais. Esses peixes, por nadarem só para frente, são símbolo de fé no futuro, de multiplicação, de fartura. Galinhas são evitadas, por ciscarem para trás e representar atraso. Para acompanhar batata, beterraba e “omelete de alho-poró”. Na sobremesa bolo de mel, ou maçã mergulhada no mel, para adoçar o ano que se inicia. Sem esquecer a romã – que, segundo se diz, tem em média 613 sementes. O mesmo número de mandamentos (248 positivos e 365 negativos) que os judeus devem cumprir.
Bom lembrar que o código alimentar da religião judaica (Kashruth), com origem no período em que houve o êxodo do Egito, determina quais os alimentos apropriados para o consumo (kosher ou kasher) e aqueles que não se deveriam consumir (taref). Desde o Antigo Testamento. No livro do Levítico está que nas águas (do mar ou do rio) são proibidos todos os animais “que não têm barbatanas e escamas” (Lv 11, 10). Também carne de porco – “não comereis aqueles animais que só ruminam ou só tem o casco fendido” (Lv 11, 4). E “qualquer inseto alado que ande sobre quatro pés” (Lv 11, 23). Sendo permitido apenas umas poucas aves, das quais eram “abomináveis a águia, o falcão, o abutre… a avestruz, a andorinha, a gaivota…” (Lv 11, 13-19). No livro do Deuterônimo, está a proibição de misturar carne e leite (ou seus derivados), na mesma refeição – “Não cozerás o cabrito no leite de sua própria mãe” (Deut 14, 21). Sem contar também a proibição de consumir bichos que rastejam, comem restos, andam pelo lixo ou são encontrados mortos.
Animais devem ser mortos sem violência ou sofrimento, por especialistas (shoichets). Sua carne deve ser sem sangue e livre de nervos ou gorduras. A faca que cortar essa carne não pode ser usada no corte de queijos. Depois de seguir todas essas regras, os alimentos devem ainda ser submetidos a um rabino que colocará, ou não, o carimbo com a palavra kasher. Mas todas essas tradições, hoje, são bem menos rígidas. Apesar de tantas restrições, ou talvez por isso, a culinária judaica é mesmo muito especial. Quem já provou um desses pratos sabe. A todos, calorosamente, um saboroso Shana tova (feliz ano novo).
Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante
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