23/05/2022 – O Núcleo de Apoio à Mulher Promotora de Justiça Maria Aparecida Clemente (NAM) e a Escola Superior do Ministério Público de Pernambuco (ESMP-PE) realizaram, na sexta-feira (20), o workshop Implementação dos Grupos Reflexivos Masculinos: Projeto Elos de Convivência. A iniciativa visa fazer com que homens que cometeram violência doméstica reflitam sobre o ocorrido, participando de grupos educativos. Compareceram ao evento, membros e servidores do MPPE, assim como servidores de prefeituras municipais e outras instituições envolvidas com o trabalho de combate à agressão contra a mulher.
O workshop foi ministrado pelas servidoras do Núcleo de Apoio À Mulher Vítima de Violência Doméstica e Familiar do Ministério Público do Rio Grande do Norte (NAMVID-MPRN), a assistente social Maria Ildérica Castro Souza e a psicóloga Jackeline Costa Morais. Elas são as responsáveis pelo Grupo Reflexivo de Homens: por uma atitude de paz, um trabalho semelhante ao que o MPPE está implementando, já adotado pelo MPRN desde setembro de 2011. Lá, os grupos são formados por homens que estão em processo judicial de violência doméstica e familiar contra a mulher e têm como objetivo proporcionar um momento de discussão e reflexão acerca das relações desiguais de poder entre homens e mulheres.
O trabalho, em Natal, com os grupos consiste em dez encontros, sendo um encontro semanal. A perspectiva utilizada é estimular as interações grupais, a partir de um tema proposto a cada semana, tais como direitos humanos, história da Lei Maria da Penha, importância da comunicação, uso abusivo de álcool e outras drogas, construções históricas dos direitos das mulheres, poder e questões de gênero, exploração das emoções, dentre outros.
O objetivo é proporcionar a eles uma reflexão acerca do papel masculino na sociedade contemporânea, para que os participantes do grupo possam compartilhar e expressar suas emoções e, por conseguinte, romper com o ciclo da violência e construir relações de gênero mais equitativas. O trabalho em grupo estimula a participação dos homens no processo de responsabilização e entendimento de suas atitudes, bem como a compreensão de fatores históricos e culturais que contribuem para as suas ações violentas.
“O MPRN tem expertise nessa prática com os homens. Dessa forma, convidamos o NAMVID para que viesse ao Recife transmitir a experiência para nós do MPPE e para integrantes de outras instituições interessadas em lidar com a tentativa de desconstruir o machismo junto aos homens”, explicou a coordenadora do NAM, Bianca Stella Barroso.
“A violência contra as mulheres em Pernambuco vem em uma crescente. Para sair desse ciclo, é preciso esforço e apoio de uma rede de proteção e conscientização. A educação dos homens é um fator preponderante nesse sentido”, avaliou o diretor da ESMP, Sílvio Tavares.
Durante o workshop, as explanadoras detalharam seus processos de trabalho, como lidam com os temas propostos a cada encontro com os homens, as vivências sobre a participação dos participantes, os casos vividos, as resistências que ocorrem vinda de alguns homens, as experiências positivas e negativas. “”O nosso compromisso é fazê-los refletir sobre os temas propostos. Mas não podemos garantir que haja mudança neles. Entretanto, desde 2011, só três deles reincidiram em agressões domésticas à mulher, segundo os boletins de ocorrência”, afirmou Maria Ildérica Castro Souza. “Após os dez encontros, o MPRN acompanha os homens envolvidos e suas famílias por mais seis meses, inclusive, com visitas, para conferir os resultados do que ocorreu no grupo na vida dele e familiar. Já cheguei a escutar da neta de um deles que o avô agora é outra pessoa”, relatou ela.
“Mesmo que o homem saia da relação onde agrediu a mulher, ele, comumente, vai se envolver com outra. E tende a cometer de novo a agressão. Então, nosso trabalho busca ser preventivo para que essa não passe o que a anterior já passou. O foco continua sendo nas mulheres”, salientou Jackeline Costa Morais.
Segundo a coordenadora do NAM, o MPPE busca implementar em Pernambuco a mesma filosofia que o MPRN adotou, ainda que com algumas diferenças. “As estatísticas mostram que o homem é parceiro da violência e não da mulher. Trabalhar por uma masculinidade harmônica é trabalhar pelo empoderamento feminino, porque combater as violências físicas, psicológicas, econômicas, etc, se mostram as principais preocupações na defesa da mulher”, pontuou Bianca Stella Barroso.
Projeto Piloto – em março deste ano, o NAM implementou em Gravatá, o projeto piloto ELOS de Convivência com Elas, com a cooperação da Secretaria Municipal da Mulher. A cidade foi escolhida em decorrência dos altos índices de violência registrados contra a mulher. Para mais detalhes sobre a iniciativa em Gravatá, clique aqui