Há exato um mês, 101 pessoas morreram em virtude dos deslizamentos de barreiras provocados pelas fortes chuvas que atingiram a Região Metropolitana do Recife (RMR) no final de maio. De lá para cá, o luto dos que tiveram amigos e familiares como vítimas continua. Alguns perderam suas casas. Outros, com o lar ainda de pé, tentam reerguer a vida depois da tragédia. Todos, no entanto, seguem no aguardo do suporte financeiro do Governo de Pernambuco.
Morador da comunidade Jardim Monte Verde, no limite entre o Recife e Jaboatão dos Guararapes, Amaury José, de 66 anos, conhecido na região como “Pai Amaury”, recebeu em sua residência três famílias que estavam desalojadas. “Ao todo, foram 11 pessoas que abriguei. Elas ficaram alguns dias por lá, após as chuvas mais fortes que fizeram com que elas tivessem de deixar as casas”, explicou.
Uma das pessoas alojadas por Amaury foi a atendente Fernanda Pereira, 33. “Moravam meu marido, minha filha de 15 anos e eu. Não perdi a casa, mas a Codecir (Coordenadoria de Defesa Civil do Recife) interditou por conta da barreira que tinha atrás. Foi meu pai de santo que me abrigou. Fiz o cadastro para receber o auxílio, mas não recebi assistência alguma até agora. Nem de prazo para saber quando vamos receber. Agora, eu estou morando de aluguel e não penso em voltar para cá”, disse a moradora.
Cenário ainda preocupa
No local em que ocorreu um dos piores deslizamentos de barreira, a lama e os entulhos continuam. Resto de roupas e objetos se acumulam no barro. Algumas pessoas retornaram à área para suas respectivas residências, mesmo sob o risco de um novo incidente. Mais de 20 pessoas morreram em Jardim Monte Verde após os deslizamentos de barreiras.
Atualmente, de acordo com a Coordenadoria de Defesa Civil do Estado de Pernambuco (Codecipe), ainda existem 1.665 desabrigados, espalhados em 33 abrigos de 17 municípios. Já o número de desalojados supera os 25 mil. No início do mês, o Estado chegou a ter, somando a quantidade de desabrigados e desalojados, mais de 125 mil pessoas.
Segunda pior tragédia da história
Com 130 mortos, Pernambuco sofreu a segunda maior catástrofe em termos de vítimas provocada por chuvas em Pernambuco. A primeira é a de 1966, gerando o transbordamento do rio Capibaribe. Imagens de acervos históricos mostram até mesmo a avenida Caxangá tomada por água. Ao todo, 175 pessoas morreram.
Governo e prefeituras iniciaram, há duas semanas, os pagamentos às famílias afetadas pelas chuvas. Foram liberados R$ 96 milhões para 16 dos 31 municípios que aguardavam o auxílio – os 15 que não foram contemplados precisam regularizar pendências cadastrais para receberem a verba e, posteriormente, repassar o valor à população. Ainda falta ser pago R$ 28,7 milhões dos R$ 124,7 milhões anunciados pelo Estado.
O valor distribuído pelo Governo é de R$ 1,5 mil, destinado a desalojados e desabrigados das 31 cidades afetadas pelas chuvas. Cada município, contudo, tem uma quantia específica a ser recebida. O Recife, por exemplo, tem a maior parcela: R$ 33.051.902,05(R$ 23 milhões já foram liberados para aproximadamente 10 mil pessoas). Na capital, além da verba estadual, é repassado R$ 1 mil aos moradores, totalizando R$ 2,5 mil. A menor parcela, dos 16 locais que já foram beneficiados, é a de Tracunhaém (R$ 530.285,19).
No Recife, para receber o benefício, a pessoa precisa comprovar dano ao imóvel e ser morador das Zeis (Zonas Especiais de Interesse Social), áreas onde residem pessoas de baixa renda, carentes de infraestrutura básica e passíveis de urbanização e construção de habitação social.
Mais de 32 famílias foram cadastradas na capital pernambucana. Quando o pagamento é autorizado, o morador recebe uma mensagem pelo aplicativo WhatsApp, através do número (81) 99117-1407.O passo seguinte é criar uma conta eletrônica no Banco do Brasil para sacar o dinheiro.
Os municípios de São Lourenço da Mata e Jaboatão dos Guararapes ainda não liberaram os valores repassados pelo governo estadual.
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