- Author, Jonathan Amos
- Role, Correspondente de ciência da BBC
- Twitter, @BBCAmos
Uma violenta tempestade de poeira foi observada em um planeta fora do nosso Sistema Solar pela primeira vez.
O fenômeno foi detectado no exoplaneta conhecido como VHS 1256b, que fica a cerca de 40 anos-luz da Terra.
As notáveis capacidades do novo Telescópio Espacial James Webb (JWST na sigla em inglês) foram necessárias para fazer a descoberta.
As partículas de poeira detectadas são formadas por silicatos — pequenos grãos compostos de silício e oxigênio, que integram a base da maioria dos minerais rochosos.
Mas a tempestade detectada pelo Webb não é exatamente o mesmo fenômeno que você encontraria em uma região árida e desértica do nosso planeta. Ela é mais uma névoa rochosa.
“É como se você pegasse grãos de areia, mas muito mais finos. Estamos falando de grãos de silicato do tamanho de partículas de fumaça”, explica Beth Biller, professora da Universidade de Edimburgo e do Observatório Real de Edimburgo, no Reino Unido.
“É assim que as nuvens no VHS 1256b se tornariam muito, mas muito mais quentes. Este planeta é um objeto quente e jovem. A temperatura do topo da nuvem é talvez semelhante à da chama de uma vela”, estima a especialista.
O VHS 1256b foi identificado pela primeira vez pelo telescópio Vista, desenvolvido no Reino Unido e em funcionamento no Chile desde 2015.
Esse planeta é o que se chama de “super Júpiter” — semelhante ao gigante gasoso do nosso próprio Sistema Solar, mas muito maior, com talvez 12 a 18 vezes a massa do Júpiter “original”.
Ele circunda algumas estrelas a uma grande distância — cerca de quatro vezes a distância que Plutão está do Sol.
Observações anteriores do VHS 1256b mostraram que ele tinha uma aparência vermelha, sugerindo que poderia ter poeira em sua atmosfera. O estudo feito a partir das análises de Webb confirma justamente isso.
“Isso é fascinante, porque ilustra como as nuvens em outro planeta podem ser diferentes das nuvens de vapor d’água com as quais estamos familiarizados na Terra”, pontua Biller.
“Vemos monóxido de carbono (CO) e metano na atmosfera, o que indica que a nuvem [do VHS 1256b] é quente e turbulenta, com material retirado das profundezas.”
“Provavelmente existem várias camadas de grãos de silicato. As que vemos são formadas por grãos muito finos, que estão mais acima na atmosfera. Mas podem existir grãos maiores em camadas inferiores”, complementa a pesquisadora.
Outros telescópios já detectaram silicatos nas chamadas anãs marrons. Estes objetos são essencialmente semelhantes a estrelas que falharam em inflamar corretamente.
Mas esta é a primeira vez que o fenômeno é visto em um objeto do tamanho de um planeta.
Para fazer a detecção, o Webb usou as ferramentas Mid-Infrared Instrument (Miri) e Near-Infrared Spectrometer (NirSpec).
Elas não tiraram fotos bonitas do planeta — pelo menos não neste caso. O que os instrumentos fizeram foi separar a luz vinda do VHS 1256b em suas cores componentes, como uma forma de discernir a composição da atmosfera.
“O JWST é o único telescópio que pode medir todas essas características moleculares e de poeira juntas”, conta a professora Gillian Wright, uma das co-investigadoras do projeto e diretora do Centro de Tecnologia em Astronomia STFC UK, também em Edimburgo.
“A imagem dinâmica da atmosfera do VHS 1256b fornecida por este estudo é um excelente exemplo das descobertas possibilitadas pelo uso dos recursos avançados do Miri e do NirSpec juntos”, completa a especialista.
A principal missão do JWST é observar as estrelas e galáxias pioneiras que brilharam pela primeira vez apenas algumas centenas de milhões de anos após o Big Bang.
Mas outro objetivo do telescópio é investigar exoplanetas. No Miri e no NirSpec, ele possui as ferramentas necessárias para estudar as atmosferas desses objetos em detalhes sem precedentes.
A partir dessa tecnologia, alguns cientistas esperam poder até mesmo dizer se alguns exoplanetas têm condições adequadas para hospedar vida.
O James Webb é um projeto colaborativo das agências espaciais dos Estados Unidos, da Europa e do Canadá. Ele foi lançado em dezembro de 2021 e é considerado o sucessor do Telescópio Espacial Hubble.
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