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No dia seguinte ao primeiro pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL) após perder a eleição para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os protestos em rodovias não terminaram, mas estão reduzidos em relação ao dia anterior.

A PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou, por meio de publicação nas redes sociais no fim da manhã desta quarta-feira (2/11), que há 150 pontos de interdição e bloqueios ativos nas estradas federais em 15 Estados.

Esses pontos foram registrados em rodovias nos seguintes Estados: Acre, Amazonas, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo.

No início da manhã deste feriado, o número de pontos interditados ou bloqueados era de 167 e, no dia anterior, foram registrados 271 pontos.

Bolsonaristas bloqueiam rodovias protestando contra o resultado legítimo das eleições presidenciais, vencidas de forma democrática pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Muitos pedem por um golpe de Estado.

Em seu curto discurso na terça-feira (1/11), Bolsonaro não pediu de forma explícita o fim de bloqueios de rodovias e fez uma fala que foi apontada como ambígua – nas redes bolsonaristas, foi vista como um apoio aos protestos (leia mais abaixo).

Bolsonaro disse que “os atuais movimentos populares são fruto de indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral”.

E afirmou em seguida que “as manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas”. “Mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda, que sempre prejudicaram a população, como invasão de propriedades, destruição de patrimônio e cerceamento do direito de ir e vir.”

Em outro momento, disse: “Nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca. Somos pela ordem e pelo progresso”.

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O professor Oscar Vieira Vilhena disse que Bolsonaro ‘legitima grupos não democráticos a enfrentar o resultado das urnas’

No fim da manhã desta quarta, o presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Dovercino Neto, disse que a situação das rodovias está melhor que nos dias anteriores. “Aumentaram os pontos de desbloqueio e está nessa tendência.”

Ele avalia que o presidente poderia ter estimulado os seus seguidores a liberarem as pistas, mas considera que “ajudou de alguma forma”.

“A fala do Bolsonaro foi muito dúbia, mas em algum momento ele fala para liberar o direito de ir e vir e acaba ajudando de alguma forma. Claro que se ele tivesse falado de forma mais clara e contundente, acredito que nem teríamos mais bloqueios, com algumas exceções”, disse.

Em grupos de apoiadores do presidente, o discurso de Bolsonaro não foi exatamente lido como uma condenação aos bloqueios, como mostrou a BBC News Brasil.

Algumas mensagens que foram enviadas em grupos bolsonaristas mostram isso: “Foi nítido e claro: temos que manter as ruas”, “não vamos parar”, “para bom entendedor, meia palavra basta” e “foi neutro, isso significa que não jogou a toalha”.

Outros entenderam como um recado para fazer protestos pacíficos. “Vamos fazer protesto sem violência para não sermos acusados de violência”, escreveu uma pessoa em um grupo de Telegram.

A pesquisadora em antropologia digital Letícia Cesarino, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), publicou uma interpretação sobre como o discurso de Bolsonaro foi lido por seguidores.

Ela diz que, segundo essa interpretação, o discurso corroborou a “tese de fraude” e “o apelo à ordem foi lido como uma exortação a continuar resistindo contra o comunismo”.

Cesarino disse que já era esperado que ele passasse “esse tipo de mensagem ambígua, como fez no 7 de setembro de 2021”, e comparou com a postura do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump.

Mensagens compartilhadas em grupos bolsonaristas na terça-feira que continham informações falsas ou não verificadas tentavam manter os protestos ativos. Um vídeo que viralizou mostrava bolsonaristas comemorando uma informação falsa de que o ministro Alexandre de Moraes teria sido preso. Também há relatos de que circulou um suposto áudio atribuído a Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, que pedia que manifestantes lotassem as ruas e não aceitassem o resultado das eleições.

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Protestos em rodovias estão reduzidos em relação ao dia anterior; na imagem, bloqueio de via em Curitiba na terça-feira (1/11)

Na noite de terça-feira, o ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio, divulgou uma nota dirigida a “todos os manifestantes que realizam bloqueios em vias importantes para o país”, na qual pede apoio para garantir “a circulação em nossas rodovias de medicamentos, insumos, bens e combustíveis”.

Na manhã de quarta-feira, o ministro da Justiça, Anderson Torres, citou Bolsonaro e pediu “que as manifestações não impeçam o direito de ir e vir de todos”, mas não solicitou o fim de protestos.

E pelo menos quatro torcidas organizadas estão enfrentando bloqueios em rodovias, segundo a imprensa local: Corinthians, Atlético MG, Coritiba e Cruzeiro. Torcedores se deslocam pelo país para assistir às partidas de seus times pela 35ª rodada do Brasileirão nesta semana.

Em nota divulgada na terça, a FenaPRF afirmou que “compete exclusivamente à gestão do Departamento de Polícia Rodoviária Federal providenciar e disponibilizar os meios e a organização do efetivo necessários para dar cumprimento à desobstrução das rodovias federais”.