Um resort à beira-mar confiscado há quase 100 anos de seus proprietários, negros, foi devolvido aos descendentes deles após decisão de autoridades de Los Angeles, Estados Unidos, nesta terça-feira (28/6).
Os terrenos do resort Bruce’s Beach foram comprados em 1912 por Willa e Charles Bruce para criar uma hospedagem e uma área de lazer para negros em uma época de segregação racial normalizada no sul da Califórnia. Localizada na visada cidade de Manhattan Beach, a área foi tomada à força pelo conselho local em 1924.
O casal comprou os dois terrenos por US$ 1.225 em 1912. O local agora vale cerca de US$ 20 milhões (cerca de R$ 100 milhões).
Willa disse a um repórter na época : “Sempre que tentamos comprar um terreno para um resort praiano, somos recusados. Mas eu possuo essa terra e vou mantê-la”.
Na década seguinte à compra pelo casal, o resort e a praia em frente a ele se tornaram uma “cidadela para os afro-americanos que buscavam lazer e vinham de todo o sul da Califórnia”, segundo disse o porta-voz da família, Duane “Yellow Feather” Shepard, à BBC no ano passado.
Mas logo o departamento de polícia local colocou placas limitando o estacionamento a 10 minutos, e um outro proprietário local colocou placas de alerta do tipo “proibido invadir” — fazendo com que as pessoas precisassem caminhar 800 metros para chegar à água, explicou Shepard. Essas medidas não afastaram os visitantes, e então as autoridades locais apreenderam os terrenos através de leis de domínio eminente — uma prerrogativa que permite ao governo comprar à força áreas para construir estradas e prédios públicos.
Na época, autoridades alegaram que planejavam construir um parque, mas isso só aconteceu muitas décadas depois. Nesse ínterim, a área permaneceu vaga.
Na terça-feira, por unanimidade, um conselho do condado de Los Angeles aprovou a moção para devolução da área à família, afirmando que “está bem documentado que a medida foi uma tentativa motivada pelo racismo de forma a expulsar um bem-sucedido negócio negro e seus patronos”.
A devolução é resultado de uma longa e tortuosa caminhada. Um jardim perto da praia tem há anos uma placa em homenagem a Willa e Charles, e o Legislativo estadual teve que aprovar uma lei para permitir o retorno da propriedade à família.
Agora, a cidade vai arrendar o terreno da família por US$ 413.000 por ano (cerca de R$ 2,1 milhões), e há uma cláusula do contrato que permite a compra futura do terreno por até US$ 20 milhões mais custos.
“Este é um dia que não tínhamos certeza de que chegaria”, disse Anthony Bruce, tataraneto de Willa e Charles.
“Isso os destruiu financeiramente. Destruiu a chance deles ter seu ‘sonho americano’. Gostaria que eles pudessem ver o que aconteceu hoje.”
“Esperamos que isso abra os olhos das pessoas para uma parte da história americana sobre a qual não se fala o suficiente, e achamos que esse é um passo para tentar corrigir os erros do passado”.
Duane “Yellow Feather” Shepard já apontou que o impacto da apreensão dos terrenos há quase um século é perceptível até hoje.
“Fomos expulsos daquela comunidade… há apenas 1% de representação de afro-americanos em Manhattan Beach neste momento”, disse ele, citando números confirmados por censos demográficos da cidade.
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