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Rei Pelé: brilho além dos campos

Ao longo da vida, Pelé se referiu a si mesmo como dois: o jogador mundialmente conhecido pelo apelido e Edson Arantes do Nascimento, a pessoa física. Mas nem mesmo as quatro linhas do futebol conseguiram delimitar esta diferença. Seu brilho não foi capaz de ser contido no intervalo de tempo entre o apito inicial e final de uma partida. O Rei do Futebol foi personalidade no cinema, na música, na política e até nas colunas sociais.

Numa época sem internet e com a TV engatinhando, era nas capas de revista e no cinema que as estrelas brilhavam. E não demorou para que o camisa 10 do Santos, no auge da carreira, aparecesse na telona. Já em 1962, ano do bicampeonato mundial pela seleção, faz uma participação em “O Rei Pelé”, filme que reconta sua trajetória. Ele tinha 22 anos.

Sua atuação mais lembrada viria apenas 19 anos depois da estreia como ator. Em 1981, ele contracenou com Sylvester Stallone e Michael Caine em “Fuga para a Vitória”, produção hollywoodiana que posteriormente ganhou status de cult. A estratégia de lançamento do longa o levou até Cannes para o festival de cinema mais famoso do mundo.

A filmografia de Pelé inclui outras produções, como “Os Trapalhões e o Rei do Futebol”, que arrastou 3,6 milhões para os cinemas, e os documentários biográficos “Isto é Pelé” (1974) e “Pelé Eterno” (2004).

As novelas não ficariam fora de seu currículo. Em 1969 ele protagonizou “Os Estranhos”, da extinta TV Excelsior, ao lado de Regina Duarte e Cláudio Corrêa e Castro. Na insólita trama de Ivani Ribeiro, o jogador deu vida a um escritor que fez amizade com extraterrestres. Ele conciliou as gravações com a rotina no Santos. Mas a tentativa de fazer ficção científica na TV brasileira nos anos 1960 não deu certo, e a obra não teve bons índices de audiência.

Todo este apelo midiático não vinha apenas de seu talento com a bola nos pés. Fosse assim, nomes como os de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo, que também ocupam um patamar superior do esporte, receberiam o mesmo tipo de reverência. Pelé entendeu, já nos anos 1960, que sua imagem era um ativo. E a trabalhou de forma profissional e minuciosa, sendo um pioneiro neste sentido.

Embora não tenha se destacado com a mesma genialidade que no futebol, o Rei arriscou-se até como cantor e compositor. Para se ter ideia, ele trabalhou ao lado de dois grandes nomes da música brasileira: Elis Regina (com quem gravou um compacto duplo em 1969, intitulado Tabelinha, com duas composições próprias dele) e o pianista Sérgio Mendes (lançaram um LP em 1978 com seis canções do ex-jogador).

A força do nome Pelé era tão grande que o envolvimento com a política se tornou inevitável. Enquanto ainda jogava, não foram poucas as vezes em que o Rei teve sua imagem utilizada pela Ditadura Militar. O caso mais emblemático foi o de sua ida ao México, quatro meses depois da conquista do tricampeonato de 1970, como representante do governo do ditador Médici na inauguração da Plaza Brasil, em Guadalajara.

Mais de duas décadas depois, ele não seria apenas um embaixador, mas parte do próprio governo. Em 1995, aceitou convite de Fernando Henrique Cardoso para ser ministro do Esporte, cargo que ocupou por pouco mais de três anos. O feito mais importante de sua gestão foi, sem dúvida, a criação da Lei Pelé. Embora o projeto original tenha sofrido uma série de alterações, acabou com o passe e oficializou os atletas como donos dos seus direitos econômicos, uma pauta que o Rei já defendia desde os tempos de jogador.

Ainda que não fosse necessário, sua importância global foi materializada em honrarias. Pelé foi designado embaixador Mundial do Futebol pela Fifa e eleito Atleta do Século pelo Comitê Olímpico Internacional. Ele também era Cidadão do Mundo, prêmio que recebeu da ONU em 1977, e embaixador da Boa Vontade, honraria da Unesco desde 1993. A revista americana “Time” o elegeu uma das 100 maiores personalidades do último século. Até a condecoração de cavaleiro da Coroa Britânica lhe foi dada, em 1997, pela rainha Elizabeth II.

Com um brilho tão intenso, natural que sua vida amorosa também virasse notícia. Pelé se casou três vezes, mas a relação que mais rendeu manchetes foi o namoro de seis anos com Xuxa. O Rei já tinha 41 anos quando foi convidado para um ensaio para uma revista. No set, conheceu a apresentadora, então com 17.

Em 1996, Pelé voltou a se envolver com uma artista. Desta vez, com a cantora gospel Assiria Lemos Seixas. Foi a mulher que passou mais tempo ao lado dele: uma união de 14 anos, que deu origem a dois filhos, gêmeos – os caçulas do Rei, que, ao todo, teve sete.

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Fonte: Folha PE

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