Nascida em 21 de novembro de 1910, a paulistana Virgínia Leone Bicudo foi pioneira nas várias áreas em que atuou.
Ela foi a primeira não-médica a ser reconhecida como psicanalista. Fundou sociedades de especialistas no tema em São Paulo e em Brasília. Se tornou uma das primeiras professoras universitárias negras do país. E publicou alguns dos artigos fundadores sobre as relações raciais e o racismo.
No que seria o aniversário de 112 anos da pesquisadora, o Google fez uma homenagem a ela na página principal do buscador.
Primeiros anos e formação
Bicudo nasceu na cidade de São Paulo, filha de Theofilo Bicudo, descendente de africanos escravizados que sonhava em ser médico, e Giovanna Leone, imigrante italiana que trabalhava como empregada doméstica.
Estudou na Escola Normal Caetano de Campos, também na capital paulista, e foi a única mulher a obter o bacharelado em ciências sociais na Escola Livre de Sociologia e Política, em 1938, segundo a Folha de S.Paulo
Em 1945, ela defendeu uma tese de mestrado sobre as questões raciais do Brasil, um dos primeiros trabalhos acadêmicos sobre o assunto do qual se tem notícia.
Ela também foi a primeira não-médica a ser reconhecida como psicanalista no país e se tornou uma das primeiras professoras universitárias negras, com aulas ministradas na Universidade de São Paulo, na Santa Casa e na Escola Livre de Sociologia e Política.
Numa entrevista à Folha em 1994, a especialista disse que escolheu estudar psicologia para se proteger do preconceito.
A mistura entre sociologia e psicanálise, inclusive, deu o tom de todo o trabalho de Bicudo.
A tese de mestrado que ela escreveu, intitulada Estudo de Atitudes Raciais de Pretos e Mulatos em São Paulo, leva em conta as noções de subjetividade e inconsciente, inauguradas nos escritos de Sigmund Freud.
No caminho inverso, ela sempre tentou demonstrar como o racismo impactava a vida psíquica e a saúde mental das pessoas.
Difusão de conhecimento
A iniciativa reuniu grandes acadêmicos do país, como Oracy Nogueira, Florestan Fernandes, Roger Bastide, Aniela Ginsberg, Luiz de Aguiar Costa Pinto e Rene Ribeiro, “no contexto da definição de uma agenda antirracista, sob o impacto do nazismo, da persistência do racismo e do processo de descolonização africano e asiático”.
“O Brasil era considerado um contra-exemplo em matéria de racismo, em perspectiva comparada com a experiência internacional, notadamente os EUA e a África do Sul do pós-2ª Guerra”, contextualiza a SBS.
Bicudo desafiou a tese em voga à época de que o Brasil seria uma “democracia racial”, ou seja, um país mais tolerante e sem preconceitos.
A psicanalista também se notabilizou pelo esforço de explicar conceitos da área para o público geral e para as pessoas que não eram especialistas.
No início da década de 1950, ela idealizou um programa transmitido pela Rádio Excelsior que fez muito sucesso.
Pouco tempo depois, ela assinou uma série de 22 textos no jornal Folha da Manhã.
A coluna, que ganhou o nome de Nosso Mundo Mental, tentava levar a psicanálise aos debates públicos — e ganhou destaque até nas manchetes de capa das edições em que foi publicada.
De acordo com a Folha de S.Paulo, tanto os episódios transmitidos pela rádio quanto os artigos da professora falavam sobre temas como maternidade, educação das crianças, amor, ciúme e medos.
Em 1955, Bicudo mudou-se para a Inglaterra, onde foi estudar a psicanálise infantil.
De acordo com o site Google Discovery, durante o período no exterior ela chegou a transmitir pela BBC palestras para divulgar entre os brasileiros o trabalho que estava fazendo.
De volta ao Brasil nos anos 1960, Bicudo foi morar em Brasília, que havia se tornado a capital do país há pouco tempo.
Ela estava interessada em estudar as relações entre psicanálise e poder — e chegou a atender e ter reuniões com muitos políticos.
No Distrito Federal, a psicanalista ainda ajudou a fundar a Sociedade de Psicanálise de Brasília.
Bicudo morreu em 2003, aos 93 anos, na cidade de São Paulo.
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