- Author, Redação
- Role, Da BBC News Brasil
O assassinato de Nahel M., de 17 anos, provocou tumultos em várias cidades da França, bem como na cidade de Nanterre, a oeste de Paris, onde ele cresceu.
Filho único criado pela mãe, ele trabalhava como entregador de comida e jogava rúgbi.
Ele estava estudando em Suresnes, não muito longe de onde morava, para se formar como eletricista.
Aqueles que o conheceram disseram que ele era muito querido em Nanterre, onde morava com sua mãe Mounia, e aparentemente nunca conheceu seu pai.
Pouco depois das nove da manhã de terça-feira, ele morreu após ser baleado no peito, à queima-roupa, ao volante de um carro Mercedes por fugir durante uma fiscalização de trânsito da polícia.
Ele não tinha antecedentes criminais, mas era conhecido da polícia.
“O que eu vou fazer agora?” perguntou sua mãe. “Dediquei tudo a ele”, disse ela. “Só tenho um, não tenho 10 [filhos]. Ele era minha vida, meu melhor amigo.”
Sua avó fala dele como um “menino bom e gentil”.
“A recusa em parar não lhe dá licença para matar”, disse o líder do Partido Socialista, Olivier Faure. “Todos os filhos da República têm direito à justiça.”
“Nada justifica a morte de um jovem (…). É inexplicável, imperdoável.”
Com estas palavras, o presidente da França, Emmanuel Macron, reagiu na quarta-feira (28/6) à notícia da morte do jovem.
O presidente pediu “calma para que a justiça seja feita”.
No entanto, a França registra há dois dias protestos violentos na cidade onde o adolescente morreu e em outros locais do país.
Mais de 6.000 pessoas compareceram à vigília, junto com sua mãe, na cidade de Nanterre.
A mídia francesa informou que algumas pessoas que queriam participar da marcha temiam que mais violência ocorresse. Uma mulher disse à BBC que foi porque o incidente a fez questionar o quanto ela poderia confiar nas autoridades.
Com as autoridades prevendo outra noite de violência, foi anunciado que haverá toque de recolher em algumas áreas de Paris – além do fechamento dos serviços de bonde e ônibus.
Um deles será aplicado no subúrbio de Clamart, a sudoeste de Paris, entre as 21:00 hora local (16:00 no horário de Brasília) e as 06:00, a partir desta noite até segunda-feira, 3 de julho.
“Clamart é uma cidade segura e tranquila e estamos determinados a mantê-la assim”, diz uma mensagem no site da cidade.
Enquanto isso, a cidade de Lille também suspenderá alguns serviços de transporte público esta noite. Os trens e ônibus pararão de operar a partir das 20h, segundo um comunicado das autoridades de Lille.
A vida de Nahel
Nahel passou os últimos três anos jogando pelo clube de rúgbi Pirates of Nanterre.
Ele fazia parte de um programa de integração para adolescentes com dificuldades na escola, administrado por uma associação chamada Ovale Citoyen.
O programa visava levar pessoas de áreas carentes para o aprendizado e Nahel estava aprendendo a ser eletricista.
O presidente da Ovale Citoyen, Jeff Puech, era um dos adultos que o conheciam melhor. Ele o tinha visto poucos dias atrás e falava de um “garoto que usava o rúgbi para sobreviver”.
“Ele era alguém que tinha vontade de se encaixar social e profissionalmente, não um garoto que traficava drogas ou se divertia com o crime juvenil”, disse Puech ao Le Parisien.
Ele elogiou a “atitude exemplar” do adolescente, muito longe do desagradável assassinato de reputação pintado nas redes sociais.
Ele conheceu Nahel quando ele morava com sua mãe no subúrbio de Vieux-Pont, em Nanterre.
Não passou despercebido que sua família era de origem argelina. “Que Alá lhe conceda misericórdia”, dizia uma faixa estendida sobre o anel viário de Paris do lado de fora do estádio Parc des Princes.
‘Sistema judiciário é culpado pelo assassinato de Nahel’, diz advogado
Um pouco antes, o advogado do adolescente assassinado Nahel falou ao programa Newshour do Serviço Mundial da BBC.
O policial que atirou e matou Nahel já foi indiciado por homicídio doloso. O advogado de Nahel, Yassine Bouzrou, disse que a impunidade dos policiais na França é parte do problema.
Bouzrou disse que o sistema judicial, e não o racismo, foi o culpado pelo que aconteceu com o jovem de 17 anos.
“Temos uma lei e um sistema judicial que protege os policiais e cria uma cultura de impunidade na França”, disse ela ao Newshour, acrescentando que casos semelhantes ao longo dos anos mostram que “o sistema judicial ainda não está funcionando para as vítimas” em todo o país.
Fonte: BBC
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