- Author, Cagil Kasapoglu
- Role, BBC World Service
O tempo está se esgotando para os sobreviventes que ainda podem estar sob os escombros na Turquia e na Síria, depois que dois terremotos, de magnitude 7,8 e 7,5 atingiram partes de ambos os países na segunda-feira (6/2).
Equipes de resgate dos dois países e de todo o mundo estão trabalhando sem parar para remover os destroços de áreas em que há o menor sinal de vida.
Mas quanto tempo é possível sobreviver sob os escombros?
Segundo especialistas, tudo depende de vários fatores. A posição da vítima no momento do colapso, o acesso ao ar e à água, o clima, as condições meteorológicas e a aptidão física da pessoa presa influenciam quanto tempo ele pode sobreviver.
A maioria dos resgates ocorre dentro de 24 horas após um desastre, mas há casos de pessoas tiradas dos escombros depois de muito mais tempo.
As Nações Unidas (ONU) geralmente interrompem os esforços de busca e resgate entre cinco e sete dias após uma catástrofe. Esta decisão só é tomada depois de um ou dois dias sem nenhum sobreviente resgatado.
Mas quais são os fatores que podem manter as vítimas vivas?
Conscientização e preparação
Embora não seja fácil prever quando um terremoto ou o desabamento repentino de um prédio irão ocorrer, o comportamento assumido durante uma emergência é a chave para a sobrevivência, dizem os especialistas.
Um local de abrigo bem escolhido pode oferecer proteção física sob detritos e ajudar a buscar acesso ao ar.
“Ser capaz de executar o que chamamos de técnica de ‘abaixar, cobrir e segurar’ pode criar oportunidades de sobrevivência, criar um bolsão de ar”, diz Murat Harun Ongoren, coordenador da AKUT (Associação Turca de Busca e Resgate), a maior organização de assistência e resgate da sociedade civil da Turquia.
‘Abaixar, cobrir e segurar’ significa: cair no chão de joelhos, cobrir-se debaixo de uma mesa ou algo do tipo e segurar firme até que o tremor pare.
“Educação, treinamento e conscientização sobre medidas de emergência (antes que um desastre como um terremoto aconteça) são importantes e muitas vezes ignorados”, acrescenta.
“E isso determinará sua expectativa de vida sob os escombros.”
A Dra. Jetri Regmi, técnica do Programa Mundial de Emergências de Saúde da OMS, também enfatiza a importância da preparação.
“Proteger-se em um local seguro, como sob uma escrivaninha ou mesa resistente, aumentaria as chances de sobrevivência. Não há certezas, pois cada emergência é diferente, mas os esforços iniciais de busca e resgate dependem da capacidade de preparação das comunidades locais”, diz ela.
Acesso a ar e água
O suprimento de ar e água é chave para sobreviver quando preso sob um prédio desabado. Mas isso depende do nível das lesões – perder sangue diminui as chances de se sair com vida após 24 horas.
Portanto, se o sobrevivente não estiver gravemente ferido e tiver ar para respirar – um bolsão de ar em um espaço adequado – o próximo passo é manter a hidratação, dizem os especialistas.
Segundo o professor Richard Edward Moon, especialista em terapia intensiva da Duke University, nos Estados Unidos, “a falta de água e oxigênio são questões críticas para a sobrevivência”.
“Todo adulto perde até 1,2 litro de água por dia”, diz o especialista.
“Isso é urina, exalação, vapor de água e suor. Quando se perde oito litros ou mais a pessoa atinge um nível grave.”
Algumas estimativas sugerem que as pessoas podem sobreviver sem água entre três e sete dias.
Gravidade dos ferimentos
Se uma pessoa sofreu traumatismo craniano ou outros ferimentos graves e tem pouco espaço para respirar, há poucas chances de sobreviver mais de 24 horas.
Ser capaz de avaliar o grau de lesão é crucial, de acordo com a Dra. Regmi.
“Pessoas com lesões na coluna, cabeça ou tórax podem não sobreviver até que possam ser levadas para atendimento médico de trauma agudo”, diz ela.
Perda de sangue, fraturas ou lacerações de órgãos aumentam a chance de mortalidade.
A prestação de cuidados após o resgate também é igualmente importante, de acordo com Regmi.
“Mesmo aqueles que foram salvos dos escombros podem morrer devido à ‘síndrome do esmagamento’. Isso é comum em catástrofes como terremotos, para indivíduos que ficaram presos sob alvenaria.”
A síndrome do esmagamento acontece quando os músculos são danificados devido à pressão dos entulhos e produzem uma toxina, segundo a responsável técnica da OMS. Uma vez que o entulho é removido, a toxina se espalha no corpo com sérias consequências para a saúde.
Clima e condições meteorológicas
O clima no local também determina quanto tempo as vítimas podem resistir.
Para Richard Edward Moon, as condições meteorológicas do inverno na Turquia tornam a situação muito pior.
“Um adulto pode suportar temperaturas de até 21ºC sem que o corpo perca a capacidade de reter o calor. Mas quando está mais frio, a história é outra”, diz.
Neste ponto, a temperatura do corpo segue essencialmente a temperatura ambiente.
“A velocidade com que a hipotermia ocorrerá dependerá de quão isolada a pessoa está ou de quanto abrigo ela tem. Mas, no final das contas, muitos dos menos afortunados terão hipotermia nessas circunstâncias”, diz o especialista em terapia intensiva.
No verão, pelo contrário, se a área fechada for muito quente, a pessoa pode perder água muito rapidamente, o que também diminuiria suas chances de sobrevivência.
Força mental
Um fator muitas vezes subestimado, de acordo com os especialistas, é o bem-estar e o controle mental.
Eles alertam que se manter forte e com a mente voltada para a sobrevivência também pode ser crucial para se manter vivo.
“O medo é nossa reação natural, mas não devemos entrar em pânico. Precisamos ser fortes mentalmente para podermos sobreviver”, diz o especialista em resgate Ongoren.
Isso requer determinação.
“É importante tentar evitar a sensação de medo e assumir o controle de si mesmo. ‘Ok, agora estou aqui, preciso encontrar uma maneira de permanecer vivo’ deve ser a motivação. Isso levará a menos gritos e movimentos físicos. Você precisará economizar sua energia controlando seus sentidos e nervosismo.”
Histórias incríveis de sobrevivência
Em 1995, depois que um terremoto atingiu a Coreia do Sul, um homem foi retirado dos escombros após 10 dias. Ele teria sobrevivido bebendo água da chuva e comendo uma caixa de papelão. Ele ainda usou um brinquedo de criança para manter sua mente ativa.
Em maio de 2013, uma mulher foi retirada das ruínas do prédio de uma fábrica em Bangladesh, 17 dias após o desabamento.
“Ouvi vozes das equipes de resgate por vários dias. Continuei batendo nos destroços com paus e varas para atrair sua atenção. Ninguém me ouviu”, disse ela após o resgate.
“Comi alimentos secos por 15 dias. Nos últimos dois dias, não comi nada além de água.”
No Haiti, após o terremoto de janeiro de 2010 que matou mais de 220 mil pessoas, um homem sobreviveu por 12 dias sob os escombros de uma loja. Mais tarde, outro homem foi encontrado vivo após 27 dias nos escombros.
Em outubro de 2005, dois meses depois que um terremoto atingiu a Caxemira, no lado paquistanês, uma mulher de 40 anos chamada Naqsha Bibi foi resgatada de sua cozinha.
Ela foi encontrada com rigidez muscular e estava tão fraca que mal conseguia falar. Falando à BBC em 2005, sua prima disse: “Primeiro pensamos que ela estava morta, mas ela abriu os olhos enquanto a tirávamos para fora.”
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