Diante de um dos maiores palcos do mundo esportivo, Patrick Mahomes (Kansas City Chiefs) e Jalen Hurts (Philadelphia Eagles) farão história neste domingo (12), no 57ª Super Bowl da NFL. Os atletas rompem com a barreira racista que perdura desde a fundação da liga e protagonizarão a primeira final em que ambos os quarterbacks (principal jogador de ataque da equipe) são negros.
A história dos Estados Unidos é marcada pelo racismo. Da utilização da mão de obra escrava (negra) nas plantações de algodão ainda no período colonial, passando pelas políticas segregacionistas que vigoraram até meados do século passado, aos constantes casos de violência policial, como o famoso exemplo de George Floyd em 2020.
Na NFL (principal liga de futebol americano nos EUA) nunca foi muito diferente. Atletas negros foram impedidos de jogarem até a primeira metade dos anos 40. Ao longo dos anos, os jogadores pretos foram tomando lugar apenas nas posições que exigiam “mais atleticismo”. Já nas funções de quarterbacks (QB) ou treinadores, sempre houve um “boicote” e poucas oportunidades dadas.
A justificativa utilizada por anos foi que os negros não tinham inteligência suficiente, não eram bons de leitura de jogo e não conseguiam tomar boas leituras sobre pressão. E que apenas os brancos eram capacitados para tal. Pensamentos justificados apenas pelo racismo científico/eugenismo que vigorou ainda entre o século XIX e XX.
Dos poucos quarterbacks negros que chegavam à liga, muitos ficavam limitados por suas capacidades de correr e tinham suas habilidades de passar a bola muitas vezes questionadas. E assim, muitos foram forçados a trocar de posição ao passar do tempo.
Patrick Mahomes e Jalen Hurts contrariam todos esses pré-conceitos sobre os quarterbacks de pele negra. Mahomes está sempre entre os principais QB’s quando o assunto são os lançamentos. Líder do quesito na temporada regular com mais de cinco mil jardas, o atleta de Kansas City é dono de um vasto repertório e coleciona um extenso portfólio de passes inacreditáveis. Por outro lado, Hurts está no top-10 também nesta estatística e tem mais de três mil jardas nesse quesito.
Doug Wiliams, primeiro quarterback negro que venceu um Super Bowl, disse em 2019 que “tudo é uma questão de oportunidade”. “Por muito, muito tempo na NFL, nós, quarterback negros, não tivemos as oportunidades de mostrar o que podemos fazer. Não tivemos a oportunidade de mostrar quem somos. Levou muito tempo, mas o tempo finalmente chegou”.
Para o jornalista Rafael Brasileiro, especialista em esportes americanos, destaca como vê o confronto entre Mahomes e Hurts. “Tem um peso gigantesco, principalmente em um país que é tão racista e mata tantas pessoas negras”.
Caso Kaepernick
Apesar de algumas ações afirmativas que a liga tomou na última década em prol da igualdade racial e fim do racismo. O caso com o ex-quarterback do São Francisco 49ers, Colin Kaepernick mostra que a NFL ainda é feito por brancos.
Em 2016, Colin passou a ajoelhar durante o hino nacional. O atleta alegou ser uma forma de protesto diante da violência e desigualdade racial ainda vigente nos EUA. Sua atitude foi condenada por alguns políticos, jornalistas e pelo público. Diziam que Kaepernick desrespeitou a nação com suas atitudes. Com o final do contrato no mesmo ano, o QB nunca mais conseguiu retornar à liga. Mesmo tendo liderado os 49ers em duas finais de conferência e um Super Bowl.
O entendimento de muitos é que se instalou um boicote contra Kaepernick. Assim, os donos das franquias (quase todos brancos) teriam o consenso de manter Colin fora da Liga, não oferecendo contrato ao atleta.
Regra Rooney
Desde 2003, a NFL adotou a política afirmativa de exigir que as equipes façam entrevistas com treinadores com origem em minoriais étnicas. Mesmo que não haja a certeza de contratação, que seja dada a oportunidade para eles. Ainda assim, muitas franquias enxergam como uma ação protocolar.
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Fonte: Folha PE