- Leandro Prazeres
- Da BBC News Brasil em Brasília
“Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou, ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais”. A frase foi dita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no alto de um carro de som no dia 7 de setembro de 2021.
Um ano depois, as atenções se voltarão novamente para a participação de Bolsonaro em eventos para celebrar o Dia da Independência. A dúvida, porém, é: que tom o presidente, que busca a reeleição, vai adotar nos festejos deste 7 de setembro?
Pessoas próximas à campanha de Bolsonaro e cientistas políticos ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que as circunstâncias da corrida eleitoral podem fazer com que o presidente adote um tom mais moderado do que o utilizado um ano atrás. Pessoas da sua equipe de marketing já o teriam alertado sobre a necessidade de moderar suas falas, especialmente, em torno do Judiciário e das urnas eletrônicas. Eles enfatizam, porém, que dada a personalidade do presidente, não é possível saber se ele irá ou não seguir as orientações.
Convocação e o dilema eleitoral
A expectativa em torno das celebrações deste 7 de setembro começou a crescer depois que o presidente convocou seus apoiadores durante o lançamento oficial de usa candidatura, em julho. Na ocasião, ele conclamou seus apoiadores a se unirem a ele na Praia de Copabacana, no Rio de Janeiro, pela “última vez” numa demonstração de apoio.
“Convoco todos vocês agora para que todo mundo, no 7 de setembro, vá às ruas pela última vez. Estes poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo”, disse o presidente em tom crítico ao Poder Judiciário.
Analistas políticos têm avaliado que Bolsonaro quer usar as celebrações oficiais do Dia da Independência para fazer campanha e mostrar ao público que tem apoio popular.
Desde a convocação, adversários e analistas políticos começaram a temer que Bolsonaro repetisse o tom adotado por ele um ano atrás, quando milhares de apoiadores foram às ruas de Brasília e de outras cidades do país defendendo o presidente e criticando o sistema eleitoral e o Poder Judiciário.
O 7 de setembro deste ano, no entanto, acontece em um momento de aparente fragilidade do presidente. As principais pesquisas de intenção de voto mostram o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorito a vencer as eleições. Segundo a última pesquisa do Datafolha, Lula tem 45% contra 32% de Bolsonaro.
Além disso, outra pesquisa do Datafolha, de julho deste ano, mostra que 79% dos entrevistados confiam nas urnas eletrônicas, alvo de críticas constantes do presidente.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliam que para evitar perder no primeiro turno e ter chances de superar Lula em um eventual segundo turno, Bolsonaro precisaria acenar para a fatia indecisa e mais moderada do eleitorado deixando de lado alguns de seus alvos recorrentes como o Poder Judiciário e o sistema eleitoral.
Segundo a pesquisa mais recente do Ipec (ex-Ibope), os indecisos respondem por 5% do eleitorado. Apesar de não ser suficiente para Bolsonaro tirar a vantagem em relação a Lula, o percentual seria suficiente para, de outra forma, virtualmente acabar as eleições no primeiro turno, como gostaria o comando da campanha do candidato petista.
“Se ele falar apenas com a militância, não consegue reverter esse cenário. Neste momento, ele precisa falar com um eleitor mais moderado. E o eleitor mais moderado não parece estar preocupado com as urnas eletrônicas ou conflitos com o Judiciário”, disse o professor de Ciência Política da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP) Marco Antônio Teixeira.
Diante dessa conjuntura, aliados políticos têm recomendado que ele não toque no assunto durante os discursos de hoje.
“Ele não segue orientação para discurso, mas ele não bate em urna tem 30 dias. Não vai falar disso”, disse na segunda-feira (5/9) um auxiliar próximo de Bolsonaro que pediu para ter seu nome mantido sob sigilo.
No dia seguinte, porém, em entrevista à rádio Jovem Pan, Bolsonaro voltou a levantar suspeitas sobre o sistema eleitoral do país.
“Essa conversinha de ‘olha nunca foi detectado fraude’ […] A própria auditoria de 2014 disse que é impossível auditar a questão das urnas”, disse Bolsonaro.
Outra pessoa próxima disse à BBC News Brasil que é impossível controlar o tom que ele usará nos eventos de hoje, mas que a ala política e as pessoas do marketing da sua campanha já o alertaram sobre a necessidade de moderar o discurso e evitar ataques frontais ao Judiciário, por exemplo.
“Ele decide para onde vai. O marketing dá apenas opinião”, disse.
Riscos de um lado e de outro
Marco Antônio Teixeira avalia que Bolsonaro está pressionado pelos dados trazidos pelas pesquisas e tem duas opções distintas.
“Ou ele vai pra moderação e tenta buscar esses votos dos indecisos, ou ele vai pra radicalização, apelando ao seu eleitor mais fiel”, avalia o cientista político.
Teixeira afirma que as duas estratégias implicam riscos.
“O risco de ele radicalizar é espantar os indecisos e aumentar a rejeição. Se ele moderar, por outro lado, corre o risco de soar falso e desagradar a militância”, disse Teixeira.
A professora de Ciência Política da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de São Paulo, Denilde Holzhacker, enxerga uma terceira alternativa para Bolsonaro.
Segundo ela, é improvável que o presidente use um tom moderado hoje, especialmente se os atos em Brasília e no Rio de Janeiro reunirem um público grande. Ela diz, porém, que Bolsonaro poderá manter o tom agressivo, mas mudando os alvos.
“Ele pode trocar a confrontação direta com o STF, o sistema político e eleitoral, por um ataque e um discurso mais duro contra Lula e os temas que ele normalmente usa como o suposto risco de volta do comunismo”, disse a professora.
Holzhacker concorda com Teixeira e avalia que uma postura de confronto por parte de Bolsonaro pode afastar eleitores e apoios de setores como algumas partes do empresariado brasileiro.
“O risco de ele subir o tom nesse momento é muito grande porque ele poderia perder o eleitor moderado. Ele tem que equilibrar o discurso aguerrido, mas sem incitação direta à violência. Do contrário, além de eleitores, pode perder apoio de empresários que hoje estão com ele”, avalia a professora.
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