- Ian Rose
- Repórter de negócios, BBC News
Em junho, Elon Musk disse aos seus funcionários, na Tesla, que ele queria que eles voltassem a trabalhar no escritório da empresa.
Musk não é o único empregador a dizer aos seus funcionários que voltem ao local de trabalho. E, em muitos casos, houve profissionais que preferiram deixar seus empregos a retomar à semana de cinco dias no escritório.
A plataforma de recursos humanos LinkedIn descobriu que um terço das companhias do Reino Unido está planejando eliminar o trabalho flexível nos próximos meses. Mas cerca de dois terços dos profissionais afirmam que são mais produtivos trabalhando em ambiente híbrido ou remoto.
Outras pesquisas confirmam que existe um fosso se abrindo sobre essa questão que separa os líderes das empresas de seus funcionários.
A Microsoft entrevistou mais de 20 mil profissionais em 11 países. Ela concluiu que 85% dos líderes consideram que a mudança para o trabalho híbrido dificultou a confiança na produtividade dos empregados, enquanto 73% dos funcionários afirmam que precisam de razões melhores para voltar do que apenas as expectativas das empresas.
Uma pessoa que decidiu pedir demissão para não voltar ao escritório é Christian Hänsel, gerente de otimização de pesquisas que mora em Bonn, na Alemanha.
“Não me sentia valorizado como membro da equipe. Não me sentia valorizado como funcionário e certamente não sentia que estavam preocupados comigo”, afirma ele, sobre as exigências do seu patrão para que voltasse ao escritório.
Hänsel levou apenas dois dias para encontrar outro emprego e entregar sua demissão. Ele conta que muitos dos seus colegas saíram em seguida.
“Você precisa manter sua posição, você precisa falar sobre isso, você precisa manifestar-se, mas também precisa calcular as vantagens e desvantagens do trabalho remoto e de trabalhar no escritório”, aconselha ele. “E você precisa descobrir o que é o certo para você.”
A mudança para a volta ao escritório está ocorrendo em uma época de restrições na oferta de profissionais em muitos países.
Chantelle Brown trabalha para a empresa britânica de recursos humanos Latte. “Sempre aconselhamos os clientes a não anunciar vagas exigindo que as pessoas compareçam cinco dias por semana”, ela conta.
“Tivemos um cliente pedindo quatro dias e tivemos que aconselhá-lo, dizendo que ele precisa melhorar sua oferta, para não perder candidatos para empresas que estão pedindo dois ou três dias apenas no escritório”, afirma Brown.
“É uma forma melhor de gerenciar uma empresa”, segundo Jeff Maggioncalda, CEO (diretor-executivo) da plataforma de aprendizado online Coursera, com sede nos Estados Unidos. A plataforma emprega mais de 1 mil pessoas, todas trabalhando “remoto em primeiro lugar”, ou seja, elas escolhem se desejam trabalhar em casa ou no escritório.
“Antes da pandemia, eu era um CEO tradicional”, afirma ele. “Eu defendia que se fosse ao escritório todos os dias e nós costumávamos permitir que algumas pessoas trabalhassem de casa às quartas-feiras. E, honestamente, eu detestava aquela política. Eu pensava, sabe, se você não vier, você não está fazendo seu trabalho.”
Mas, durante a pandemia, ele ficou surpreso ao ver que era possível fazer o trabalho e manter a flexibilidade, mas era necessário um novo tipo de administração. “Começa no recrutamento”, afirma Maggioncalda.
Uma das coisas que ele faz agora é receber pessoalmente os novos contratados e informá-los sobre a empresa, para que, estejam eles trabalhando de casa ou no escritório, “o propósito da companhia esteja alinhado com o seu propósito de vida”.
Agora, a empresa também se concentra mais nos resultados do que nas atividades, segundo ele. “Um gerente que acompanhe os resultados que estão sendo produzidos e não que se preocupe se alguém está vindo ou não para o escritório – esta é a principal mudança que os gerentes precisam fazer”, segundo Maggioncalda.
Ele acrescenta que oferecer trabalho mais flexível permitiu à Coursera ter mais mulheres em cargos de liderança e no setor de tecnologia.
Mas a tecnologia não é o único setor em que as mulheres têm mais possibilidade de escolher uma empresa que permita o trabalho remoto.
Grace Landon, da London School of Economics, conversou com 100 profissionais do setor financeiro e concluiu que, majoritariamente, as mulheres são muito mais dispostas a trabalhar remotamente por uma parte significativa da semana.
“As mulheres obviamente ainda assumem a maior parte das responsabilidades domésticas”, afirma ela. “Elas sempre valorizaram muito mais o trabalho autônomo do que os homens.”
Landon conta que as pessoas com necessidades especiais também apresentam maior propensão a valorizar o trabalho remoto, além das minorias étnicas. E, de forma geral, ela afirma que funcionários e empregadores precisam ouvir e fazer concessões.
“Estamos no Reino Unido, [onde] a produtividade está no menor nível de todos os tempos”, afirma ela. “Você tem pessoas… dizendo, ‘somos mais produtivos com um esquema remoto em primeiro lugar’. Por que não confiar nelas e ver o que acontece, como parte de um grande experimento?”
As pessoas trabalharam no escritório por gerações, sem mesmo questionar se era necessário. A pandemia trouxe a necessidade de mudanças rápidas para uma forma diferente de trabalho.
Nos setores em que a competição para atrair profissionais é maior do que nunca, os empregadores estão percebendo que oferecer trabalho remoto é uma forma econômica de aumentar suas ofertas.
Mas se entrarmos em uma recessão prolongada, como muitos preveem, e a competição por talentos for enfraquecida, as empresas podem achar mais fácil exigir o retorno ao escritório.
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