- Author, Laura Bicker
- Role, Correspondente de China da BBC News
A mais recente visita de Estado de Vladimir Putin à China, que ocorreu neste mês, foi uma demonstração de força.
Uma oportunidade para o presidente da Rússia provar ao mundo que tem um aliado poderoso ao seu lado.
Putin é amplamente visto como um pária depois de ter ordenado a invasão da Ucrânia.
Xi Jinping estendeu o tapete vermelho para dar as boas-vindas ao seu convidado.
Na ocasião, uma banda tocou músicas antigas do Exército Vermelho, e crianças alegres cumprimentaram os dois líderes enquanto eles caminhavam pela Praça da Paz Celestial. Houve até um breve abraço para as câmeras.
Os veículos de mídia oficiais tanto da China quanto da Rússia se concentraram fortemente na camaradagem entre os dois líderes. Mas, na verdade, esta já não é uma relação entre iguais.
Putin foi à China de chapéu na mão, ávido para que Pequim continue negociando com a Rússia, que é alvo de duras sanções e está isolada. Suas declarações foram repletas de frases lisonjeiras com tom “meloso”.
Na ocasião, ele disse que sua família estava aprendendo mandarim — e isso é particularmente digno de nota porque ele raramente fala sobre seus filhos em público.
Também afirmou que ele e Xi Jinping eram “próximos como irmãos”, e elogiou a economia da China, dizendo que estava “se desenvolvendo a passos largos, em ritmo acelerado”.
Isso provavelmente vai agradar as autoridades de Pequim preocupadas com uma estagnação na economia.
Mas Xi não retribuiu o tom destes elogios grandiosos. Em vez disso, suas observações foram mais superficiais — até mesmo sem graça.
Putin, disse ele, era um “bom amigo e um bom vizinho”.
Para a China, a cerimônia de boas-vindas e a demonstração de unidade eram do seu interesse, mas rasgar elogios ao seu convidado, não.
A custosa guerra na Ucrânia, que não dá sinais de terminar, mudou a relação entre eles, expondo as fraquezas do Exército russo e da sua economia. Xi sabe que agora está mais forte.
A guerra isolou a Rússia. Os laços da China com o Ocidente podem ser tensos, mas Pequim não se isolou do mundo como a Rússia, nem quer se isolar.
Embora possa ter faltado entusiasmo às suas declarações públicas, Xi Jinping deu a entender a importância que a China atribui ao relacionamento.
Ele convidou Putin para sua residência oficial, Zhongnanhai. Esta honra é concedida a poucos líderes — o ex-presidente dos EUA, Barack Obama, foi um dos convidados em 2014, quando a relação entre os dois países estava melhor.
Xi Jinping está tentando um equilíbrio delicado — ele quer manter uma aliança com Putin, ao mesmo tempo que sabe que o relacionamento próximo com um pária coloca em risco seus laços estáveis com o Ocidente, dos quais necessita para ajudar sua economia em crise.
A verdade é que a visita mais recentes se resumiu a dinheiro: Putin precisa do apoio da China para sua guerra na Ucrânia.
A composição da comitiva do líder russo foi um sinal do que ele esperava obter com a viagem: ele estava acompanhado do presidente do Banco Central da Rússia, do seu ministro da Fazenda e do seu assessor econômico.
A declaração conjunta divulgada para marcar a visita também continha algumas ideias atraentes para aumentar o comércio — construir um porto em uma ilha que os dois países disputaram durante mais de 100 anos, e conversar com a Coreia do Norte para ver se os navios chineses poderiam navegar por um rio estratégico para chegar ao Mar do Japão.
O texto mencionava a palavra “cooperação” 130 vezes.
Tudo isso foi, evidentemente, cuidadosamente observado pelos EUA.
No mês passado, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, alertou a China para parar de abastecer a guerra da Rússia e de comercializar componentes que poderiam ser usados em drones e tanques russos.
Por isso, eles não vão ignorar o fato de Putin ter visitado uma universidade apoiada pelo Estado que é famosa por sua pesquisa de ponta na área de defesa, durante a visita à cidade de Harbin em 17 de maio.
O tour — além da cerimônia de boas-vindas e o simbolismo que envolveram a visita — sugere que Xi Jinping está determinado a provar que não vai ser influenciado pela pressão do Ocidente.
No entanto, nos bastidores desta demonstração de unidade, pode haver limites sobre até onde o presidente chinês está disposto a ir.
Afinal de contas, os interesses da China não são os interesses da Rússia.
Como “sócio majoritário” nesta parceria, Xi Jinping provavelmente vai cooperar quando for conveniente para ele — mesmo que seu “querido amigo” e aliado precise dele.
Fonte: BBC
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