- Author, Kate Pattison
- Role, The Conversation*
No mês de setembro, o portal USA Today/Gannett postou um anúncio de emprego para um repórter especializado em Taylor Swift. O anúncio buscava um jornalista e criador de conteúdo experiente para “capturar o impacto cultural e musical de Taylor Swift”.
Não é a primeira vez que Swift é o foco de trabalhos acadêmicos e profissionais. Em 2022, o Instituto Clive Davis, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, anunciou um curso sobre Taylor Swift, oferecido pela jornalista Brittany Spanos, da revista Rolling Stone.
Swift também recebeu um doutorado honoris causa em belas-artes da mesma universidade, por ser considerada “uma das artistas mais produtivas e celebradas da sua geração”.
Outras universidades em várias partes do mundo também ofereceram seus cursos, como “A Psicologia de Taylor Swift”, da Universidade Estadual do Arizona (EUA); “O Repertório de Taylor Swift”, da Universidade do Texas (EUA); e “Literatura: A Versão de Taylor”, da Universidade de Ghent (Bélgica).
Músicos e celebridades são objeto da nossa fascinação há décadas. Mas não é sempre que eles recebem atenção tão individualizada.
A impressionante carreira de Taylor Swift pode ser estudada de diversos pontos de vista, incluindo o marketing, sua legião de fãs, os aspectos comerciais e as composições musicais, entre muitos outros.
Mas por que Taylor Swift?
Do ponto de vista musical, Swift quebrou uma série de recordes.
Em agosto, ela se tornou a primeira mulher artista a atingir a marca de 100 milhões de ouvintes mensais na história do Spotify.
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Doze álbuns de Taylor Swift já ocuparam o primeiro lugar na revista Billboard. É o maior número já atingido por uma mulher — a anterior era Barbra Streisand, ultrapassada por Swift no início deste ano.
Taylor Swift é a primeira e única mulher artista solo a ganhar o prêmio Grammy de Álbum do Ano por três vezes, com os álbuns Fearless (2009), 1989 (2015) e Folklore (2020). E cada um dos álbuns vencedores é de um gênero musical diferente.
Este é um reconhecimento ao excepcional talento de Swift como compositora e sua capacidade de adaptar seu trabalho para atingir diferentes públicos.
O público espera que as mulheres artistas se reinventem constantemente, como declarou a própria Swift no seu documentário para a Netflix, Miss Americana (2020):
“As mulheres artistas que conheço precisam se reconstruir cerca de 20 vezes mais do que os artistas homens, ou estão fora de mercado.”
Ao longo da carreira, Swift evoluiu de uma premiada cantora de música country para se tornar uma das maiores estrelas pop do mundo. Cada um dos seus 10 álbuns originais em estúdio possui temática e estética distintas, que foram consagradas na atual turnê da artista, Eras.
A turnê de Swift, que agora chega ao Brasil, deve atingir a maior receita de todos os tempos, impulsionando o turismo local por onde passa. Uma estimativa recente calcula que a turnê pode acrescentar à economia mundial a monumental quantia de US$ 5 bilhões (cerca de R$ 24,5 bilhões).
‘Tudo o que faço é tentar, tentar, tentar’
Mas medir a influência de Taylor Swift somente pela sua música seria restringir muito a análise.
A artista tem sido fundamental para mudar o jogo dos negócios em favor dos músicos. Ela vem defendendo melhores contratos para os artistas junto às gravadoras e aos serviços de streaming.
Em 2015, a Apple Music alterou suas políticas de pagamento, depois que Swift escreveu uma carta aberta defendendo melhor remuneração.
Ela chamou a atenção quando se posicionou contra sua antiga gravadora, a Big Machine Records, que se recusou a oferecer a ela a oportunidade de comprar suas gravações master originais. Seu antigo catálogo acabou sendo vendido para o executivo musical Scooter Braun, dando início a uma rixa muito conhecida pelo público.
Taylor Swift pode não ter sido a primeira artista a ir atrás da sua master, mas ela atraiu enorme atenção para um problema que é frequentemente menosprezado.
É claro que Swift ocupa uma posição privilegiada e pode assumir riscos que muitos outros artistas não conseguem. Mas, com seu poder, ela gerou discussões sobre contratos e o valor da música, abrindo o caminho para os artistas emergentes.
Em uma tentativa de retomar o controle dos seus primeiros trabalhos, Swift anunciou que iria gravar novamente seus seis primeiros álbuns. Cada álbum regravado incluiu faixas bônus, com músicas que ficaram de fora das gravações originais e não haviam sido lançadas.
Cada um desses lançamentos foi acompanhado por imensas campanhas publicitárias, que incluíram novos produtos e diversas versões em edição limitada para que os fãs pudessem colecionar.
O lançamento do álbum Speak Now (Taylor’s Version) marcou a metade do processo e os esforços foram recompensados. Os álbuns Fearless (Taylor’s Version), Red (Taylor’s version) e Speak Now (Taylor’s Version) foram todos mais vendidos do que os originais.
Este resultado se deve, em grande parte, ao apoio inabalável dos seus fãs, conhecidos como Swifties. Eles adotaram completamente as novas gravações, expondo ao público quem quer que executasse as versões originais “roubadas”.
O poder dos ‘Swifties’
A fiel legião de fãs de Taylor Swift é conhecida pelo seu alto nível de participação e criatividade. Os fãs passam muito de seu tempo confeccionando roupas para os shows e discutindo elaboradas teorias online.
Swift é notória por deixar pistas, conhecidas como ovos de Páscoa, nas suas letras, vídeos musicais, postagens em redes sociais e entrevistas.
E existem contas de fãs nas redes sociais que se dedicam a analisar esses ovos de Páscoa. Elas estudam frases e padrões numéricos específicos para descobrir indicações sobre os planos da artista para o futuro próximo.
Swift e a Taylor Nation — um ramo da sua equipe administrativa — incentivam esse comportamento, recompensando os fãs pela sua participação.
Para o lançamento do álbum 1989 (Taylor’s Version), Swift publicou uma série de quebra-cabeças no Google, que os fãs precisavam resolver para revelar os nomes das faixas bônus a serem lançadas.
Ao todo, os Swifties resolveram os 33 milhões (sim, isso mesmo!) de quebra-cabeças em menos de 24 horas.
As brincadeiras tinham dois propósitos. Swift não só anunciou os nomes das faixas bônus, como também impulsionou as buscas pelo seu nome no Google durante o processo.
Viralizando entre gerações
A legião de fãs de Taylor Swift atravessa gerações. Ela é millennial por excelência e muitos de seus fãs cresceram ouvindo Swift nas últimas duas décadas.
Alguns deles até começaram a levar seus filhos para os shows da artista, postando vídeos deles cantando o início do refrão da música Long Live.
Mas Swift também cativou um público mais jovem no TikTok, plataforma utilizada predominantemente pelos jovens da Geração Z.
Carinhosamente apelidados de SwiftToks pelos fãs (e, agora, pela própria Swift), os usuários postam vídeos para atrair outros Swifties para participar daquela comunidade.
As músicas de Taylor Swift costumam se tornar tendências populares na internet.
O lançamento do álbum Midnights, no ano passado, fez com que muitos fãs dançassem as músicas Bejeweled e Karma, mas as gravações mais antigas de Taylor Swift também marcam presença.
Um remix da canção Love Story, lançada em 2008, viralizou em 2020, fazendo com que uma nova geração descobrisse suas músicas mais antigas. E postagens mais recentes mostram a canção August sendo usada como fundo musical para correr pela praia e para fazer girar os animais de estimação.
Swift também está bem sintonizada com programas de TV produzidos para jovens adultos.
A série O Verão que Mudou Minha Vida incluiu 13 canções de Taylor Swift ao longo das suas duas primeiras temporadas. As músicas de Swift são tão importantes para a história que sua autora, Jenny Han, quase dedicou à artista o segundo livro da série.
Taylor Swift continua a dominar o ambiente cultural com sua música, suas decisões comerciais e sua legião de dedicados fãs.
Atualmente, Swift está no auge da popularidade. Por isso, pode parecer fácil menosprezar este momento como sendo um exagero, uma tendência passageira.
Mas, considerando seus 17 primeiros anos de carreira, Swift já provou que merece nossa atenção e que veio para ficar.
*Kate Pattison é candidata a PhD no Instituto Real de Tecnologia de Melbourne (Universidade RMIT, na sigla em inglês), na Austrália.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado sob licença Creative Commons. Leia aqui a versão original em inglês.
Fonte: BBC
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