- Author, Natalie Grice
- Role, BBC News
O que há de tão especial em um número?
Apesar de não passar de superstição, a crença contínua na influência maligna do 13 está tão arraigada em certas culturas que até mesmo uma profissão como a construção civil é afetada por ela.
Em Cardiff, no País de Gales, um canteiro de obras no centro da capital apresenta uma omissão gritante.
Uma das torres de suporte internas que estão sendo construídas para o empreendimento Central Quay, na antiga cervejaria Brain’s, tem números exibidos em todos os andares do edifício inacabado — exceto no 13º.
Isso é mais comum do que você imagina no século 21. Alguns edifícios, incluindo blocos de apartamentos e hotéis, ignoram totalmente o 13.
O 13º andar pode ser denominado de 12A ou utilizado para abrigar alguma área de manutenção em vez de apartamentos ou escritórios.
Outros, como um dos hotéis mais altos de Cardiff, saltam direto do 12º para o 14º.
As casas com número 13 são geralmente mais baratas, enquanto no passado algumas subprefeituras proibiram novos conjuntos habitacionais de usar o número porque as pessoas não gostam de morar lá.
Uma pesquisa na Grã-Bretanha indicou que 14% dos entrevistados acreditavam que o número 13 era inerentemente azarado, enquanto outros 9% não sabiam.
Sarah Thomas, de Grangetown, em Cardiff, avistou a torre na região do Brain’s quando ela estava saindo de seu escritório na Network Rail, nas proximidades.
“Despertou minha curiosidade quando vi que estava faltando”, disse ela.
“Presumi que fosse superstição, mas pesquisei no Google para confirmar e só então percebi o quanto isso é amplamente praticado. Muitos amigos disseram que estiveram em prédios ou elevadores onde não havia o número 13.”
Ela se descreve como não supersticiosa, mas sente que alguns hábitos decorrem do bom senso. “Prefiro não passar por baixo de uma escada, se possível, para evitar o risco de acidentes.”
“Acho interessante a história por trás das superstições, pois elas nos dão uma ideia de como as pessoas conectavam eventos específicos com atividades mais cotidianas.”
Alguns dos endereços mais importantes do Reino Unido mantêm a superstição.
Quando o Canary Wharf de Londres foi remodelado e a icônica torre One Canada Square foi construída em 1990 — na época o edifício mais alto do Reino Unido — abriu as suas portas sem o 13º andar e permanece assim até hoje.
E se você quiser dar uma volta em uma das 32 cabines da famosa roda gigante London Eye, em Londres, ficará surpreso ao saber que pode reservar o número 33. Ele, naturalmente, substitui o 13 que falta.
Por que o número 13 é considerado azarado?
Ao longo do tempo, várias fontes foram apontadas como “culpadas” pela suposta má sorte do 13.
Uma delas está ligada ao Cristianismo — havia 13 pessoas na última ceia de Jesus Cristo, que aconteceu pouco antes de ele ser traído por Judas Iscariotes, o 13º a sentar-se e preso por blasfêmia.
Da mesma forma, na mitologia nórdica, Loki, o deus da maldade e do engano, é o 13º convidado em um jantar dos deuses, onde engana um dos filhos de Odin para que mate outro.
O medo do 13 — oficialmente chamado de triscaidecafobia — aumenta quando é associado à sexta-feira, que também é constantemente associada à má sorte porque foi o dia em que Cristo morreu.
Mas por que as pessoas em sociedades supostamente esclarecidas ainda se apegam a tal crença?
Talvez porque, surpreendentemente, seja uma crença bastante moderna e não com séculos de tradição, de acordo com a professora da Universidade de Cardiff, Juliette Wood, especialista em mitologia e folclore.
“Não é folclore no sentido de que não é uma tradição antiga. Não tem nada a ver com o fato de haver 13 pessoas na última ceia”, disse ela.
Em vez disso, ela acredita que é essencialmente uma criação midiática que se tornou popular por volta da virada do século 20, que se tornou uma espécie de folclore moderno por direito próprio e é reforçada através dos meios de comunicação, incluindo filmes como Sexta-feira 13.
Pesquisas posteriores a essa época não produziram referências ao “azarado número 13”.
Mas as pessoas olham para trás em busca de histórias que se encaixem na criação de um mito e se apegam aos exemplos mais famosos.
“Faz muito sentido, principalmente por causa do elo da última ceia, que está travado”, explica Wood.
A ideia de Loki como fonte provavelmente seja ainda mais recente.
“Essa noção da mitologia nórdica como uma espécie de pedra de toque para a cultura é, na verdade, bastante recente”, acrescenta ela.
“Isso remonta ao interesse que encontramos na Grã-Bretanha do século 19 em descobrir a herança germânica dos britânicos e vários estudiosos da região traduziram os mitos nórdicos pela primeira vez.”
“E agora, é claro, até nos filmes da Marvel, Loki é um herói. Então você tem motivos para focar em uma figura específica e consegue esse tipo de transferência.”
Dias de azar
A ideia de dias de azar é de fato uma convenção muito mais antiga — pense nos idos romanos de Março (15), que foi reforçado na crença romana após o assassinato de Júlio César nesse dia, e popularizado pela tragédia shakespeariana que conta a história dele.
Wood diz: “Adoramos superstições. Adoramos poder neste mundo altamente mecanicista e altamente incerto dizer ‘ah, bem, é uma tradição’.”
“Parece ir contra todo o sentido, mas ser capaz de atribuir algo a um poder exterior, não malévolo, mas certamente fatalista, de alguma forma nos faz sentir mais confortáveis e menos inseguros.
Katie Griffin, da agência imobiliária Propertymark, que administra seu próprio negócio no condado inglês de Devon, confirma que evitar o número 13 ainda pode ser uma realidade na construção de casas.
“Eu não diria que isso diminuiria o valor (de uma casa), mas às vezes, para impedir isso, os desenvolvedores omitem completamente o número 13. Já foi no passado que você iria para 11, 12, 14”, ela diz.
“Não recebo especificamente pessoas que chegam e dizem ‘sou supersticioso e não quero estar no número 13’, mas podem dizer ‘não quero estar perto de um cemitério ou de uma igreja’.
Odessa Barthorpe, de Cardiff, acredita que a superstição é o resultado da cultura ou da educação, mas pessoalmente viveria feliz num 13º andar, acrescentando: “Acho que é provavelmente uma ressaca dos tempos em que não sabíamos como o mundo funcionava e tínhamos que inventar coisas.
“É interessante. Mas em termos de viver sua vida de acordo com isso, não.”
Carmen Abad de Rhoose, no Vale de Glamorgan, cresceu no Sudeste Asiático, onde existem “muitas superstições”, mas ela não acredita nelas.
“Então, pessoalmente, eu não me importaria em morar no 13º andar. Se fosse um apartamento mais barato, eu escolheria”, diz ela.
Para os futuros residentes da torre de Cardiff – a administradora confirmou que haverá o 13º andar com esse número nos apartamentos para alugar assim que estiver pronto.
Mais barato? Isso já seria muita sorte.
Fonte: BBC
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