- Chloe Kim
- BBC News, Washington
O prêmio da loteria americana Mega Millions acumulou novamente para US$ 1,35 bilhão (cerca de R$ 7 bilhões), depois que não houve ganhadores no sorteio da noite de terça-feira, 10 de janeiro.
É o segundo maior prêmio da história americana, poucos meses depois do recorde de US$ 2,04 bilhões (cerca de R$ 10,5 bilhões) da loteria Powerball, embolsado por um apostador na Califórnia.
É claro que muitos outros países também têm loterias, mas os Estados Unidos vêm quebrando recordes de prêmios com frequência. Por que esses prêmios são tão altos?
Jonathan Cohen, autor do livro For a Dollar and a Dream: State Lotteries in Modern America (“Por um dólar e um sonho: loterias estaduais na América moderna”, em tradução livre), explicou o fenômeno para a BBC.
Breve história das loterias
No começo, os Estados tinham suas próprias loterias.
Cohen conta que a frustração dos Estados com menor população levou à criação de associações de loterias entre diversos Estados.
Eles se cansaram de ver moradores atravessando a fronteira para comprar bilhetes nos Estados maiores, com potencial de oferecer prêmios mais altos.
Illinois, por exemplo, tem população muito maior que a do Estado vizinho de Iowa – por isso, mais pessoas jogam na sua loteria. Se ninguém ganhar, o prêmio é acumulado e continua aumentando. Este crescimento leva menos pessoas de Iowa a comprar bilhetes no seu Estado, já que elas podem simplesmente atravessar a fronteira para Illinois, onde o prêmio é maior.
Os Estados começaram então a se reunir nos anos 1980, formando o que acabou ficando conhecido como a loteria nacional. Powerball e Mega Millions são oferecidas atualmente em 45 Estados, o que explica por que os prêmios atingem valores tão altos.
As probabilidades
O tamanho dos Estados Unidos não é o único motivo para os grandes prêmios. As regras dos jogos também foram alteradas ao longo dos anos.
“Os comitês de loterias e os jogos de múltiplos Estados vêm reduzindo a probabilidade de ganhar, aumentando o acúmulo dos prêmios para que atinjam valores cada vez mais altos”, explica Cohen.
Ocorre que os apostadores nem sempre se preocupam com as probabilidade.
“As pessoas não conseguem entender a diferença entre uma em quatro milhões, uma em 40 milhões ou uma em 400 milhões de chances de ganhar – mas eles sabem a diferença entre os prêmios de US$ 4 milhões, US$ 40 milhões ou US$ 400 milhões”, afirma Cohen.
Ele acrescenta que a proliferação de bilionários mudou os padrões de riqueza.
“A loteria realmente se tornou uma das únicas formas que as pessoas têm para ganhar um bilhão de dólares sozinhas”, afirma Cohen. “É por isso que ela inspira tanta febre cultural atualmente, mesmo que as probabilidades tenham ficado indescritivelmente menores do que costumavam ser.”
A porta-voz da Mega Millions Danielle Frizzi-Bab afirma que “a matriz atual do jogo” para ganhar entrou em vigor em 2017. Ela acrescenta que as recentes corridas pelo prêmio foram amplificadas pelo “interesse dos clientes durante as festas de fim de ano”.
“As taxas de juros, que influenciam o prêmio que pode ser mantido, tiveram menor influência”, segundo ela.
O amor dos norte-americanos pela loteria é alimentado, até certo ponto, pelo frenesi da imprensa causado pelos prêmios grandes, que aumentam cada vez mais.
Cohen afirma que existe um elemento de participação cultural, “em que as pessoas sentem que estão perdendo algo se não comprarem um bilhete”. Dentre as pessoas entrevistadas no seu livro, muitos não haviam sequer pensado em jogar na loteria até que viram a notícia sobre um prêmio grande no noticiário.
E, se ninguém ganhar, o dinheiro ficará acumulado para o sorteio seguinte, aumentando o valor do prêmio. O que traz mais atenção da imprensa – e, provavelmente, mais apostadores.
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