• David López Idiáquez
  • The Conversation*

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Em 3 de abril de 1860, em uma carta endereçada ao botânico americano Asa Gray, o naturalista britânico Charles Darwin manifestou sua frustração diante da presença das chamativas caudas dos pavões: “A visão de uma pena na cauda de um pavão, toda vez que a observo, me deixa doente!”

Seu descontentamento era porque as caudas dos pavões contradiziam sua teoria da evolução por seleção natural, já que em vez de aumentar a sobrevivência dos pavões, pareciam fazer o contrário.

Onze anos depois, em 1871, Darwin propôs a solução para esta (aparente) contradição em seu livro A Origem do Homem e a Seleção Sexual.

Segundo o britânico, a função das características vistosas (ornamentos) não é aumentar a sobrevivência de seus donos, mas sim seu sucesso reprodutivo.

Ou seja, a presença de características chamativas, como as caudas dos pavões, é explicada pela seleção sexual, e não pela seleção natural.

Um sinal de saúde e qualidade

Atualmente, sabemos que os ornamentos funcionam como sinais de qualidade: informam sobre a condição física, a saúde ou a personalidade de seus detentores.

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A cauda chamativa do pavão intrigava Darwin

Além disso, também sabemos que os ornamentos transmitem informações honestas, uma vez que são onerosos de serem produzidos.

Isso faz com que apenas os indivíduos da mais alta qualidade sejam capazes de produzir os ornamentos mais atraentes.

No entanto, apesar de nosso conhecimento sobre ornamentos ter avançado muito desde a época de Darwin, ainda há muitas questões em aberto sobre sua evolução.

Efeitos das mudanças climáticas

As mudanças climáticas e seus efeitos sobre a fauna e a flora têm recebido muita atenção da comunidade científica.

A maioria dos estudos se concentrou em explorar os efeitos das mudanças climáticas no início da floração das plantas ou na data da postura de ovos das aves.

Em contrapartida, os efeitos das mudanças climáticas em outras características, como os ornamentos exibidos por várias espécies de animais e até plantas, são praticamente desconhecidos.

A importância de estudar os efeitos das mudanças climáticas sobre os ornamentos está no fato de que seus custos de produção variam de acordo com as condições ambientais.

Quando as condições ambientais são boas (por exemplo, quando há muita comida), os ornamentos são relativamente mais baratos de produzir do que quando as condições ambientais são ruins (por exemplo, quando há pouca comida).

Se a mudança climática continuar a piorar as condições ambientais, os custos relativos à produção destes sinais podem aumentar.

Como a energia disponível para um indivíduo é limitada, este aumento nos custos dos sinais pode limitar o investimento energético em outras funções vitais, como a sobrevivência, o que pode ter consequências negativas para a manutenção das populações de uma espécie.

Portanto, para entender e prever as respostas das populações às mudanças climáticas, é importante estudar como isso afeta a expressão dos ornamentos.

O caso do chapim-azul no sul da França

Em um estudo recente, cientistas do Centro de Ecologia Funcional e Evolutiva de Montpellier, na França, e da Universidade do País Basco, na Espanha, estudaram os efeitos das mudanças climáticas na coloração ornamental do chapim-azul (Cyanistes caeruleus).

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O chapim-azul é conhecido por seus tons de azul e amarelo

O chapim-azul é uma ave de pequeno porte, muito comum nas florestas europeias. Caracteriza-se por ter uma coloração bastante vistosa. Sua coroa azul e peito amarelo são especialmente marcantes.

Os chapim-azul têm recebido bastante atenção da comunidade científica.

Graças a isso, sabemos que tanto suas coroas azuis quanto seus peitos amarelos funcionam como sinais informando sobre a qualidade de seus donos.

Nosso estudo se concentrou em duas populações de chapim-azul do sul da França. Uma localizada nas proximidades de Montpellier, e outra no noroeste da ilha de Córsega, estudadas há mais de 15 anos.

Anualmente, entre 2005 e 2019, capturamos todos os chapim-azul reprodutores de cada população.

Graças a isso, conseguimos obter mais de 5,8 mil medições sobre a coloração e outras características dele.

Plumagem menos colorida

Os resultados do nosso estudo mostram que em ambas as populações a coloração azul e amarela do chapim-azul diminuiu entre 2005 e 2019.

Ou seja, atualmente nestas duas populações, as coroas azuis e os peitos amarelos são menos visíveis do que quando o estudo começou.

Além disso, descobrimos na Córsega que nos verões mais quentes e secos os chapim-azul apresentavam cores menos vistosas, tanto azul quanto amarela.

Isso, juntamente ao aumento da temperatura e diminuição da precipitação em nossa área de estudo, sugere que a redução da coloração nesta população é consequência das mudanças climáticas.

Curiosamente, na população nas proximidades de Montpellier, não foram detectadas mudanças significativas na temperatura ou associações entre temperatura e coloração dos chapim-azul.

Por um lado, isso nos indica que os efeitos das mudanças climáticas não são os mesmos em todos os lugares.

Por outro, a ausência de associação entre a cor e o clima sugere que as colorações ornamentais são sensíveis a outros fatores ambientais que devem ser explorados no futuro.

Em resumo, nosso estudo e outros realizados com espécies diferentes, como o pássaro papa-moscas-de-colar e as libélulas, mostram que a mudança climática está tendo um impacto negativo nos ornamentos dos animais.

Em estudos futuros, devemos explorar as consequências deste impacto na capacidade de adaptação das populações às mudanças climáticas.

Desta forma, poderemos compreender suas consequências não só para as aves, mas também para os ecossistemas em geral.

*David López Idiáquez é pesquisador de pós-doutorado em ecologia evolutiva na Universidade do País Basco (Euskal Herriko Unibertsitatea), na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

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