- Author, Paul Kirby
- Role, Editor de Europa da BBC News
O partido anti-imigração da Alemanha Alternative für Deutschland (AfD, ou Alternativa para a Alemanha), está comemorando um “sucesso histórico” com a vitória da direita radical no Estado de Turíngia, no leste do país.
O AfD conquistou quase um terço dos votos, nove pontos acima dos conservadores do CDU, e muito na frente dos três partidos que formam a coalizão federal que governa a Alemanha.
Esta é a primeira vitória da direita radical em uma eleição para parlamento estadual na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial.
O chanceler alemão, Olaf Scholz, pediu aos partidos tradicionais que não deem apoio ao AfD e até o bloqueiem. “Todos os partidos democráticos são agora chamados a formar governos estáveis sem extremistas de direita”, disse ele, chamando os resultados de “amargos” e “preocupantes”.
Há poucas possibilidades de o AfD de fato compor o governo, já que ele necessitaria de uma coalizão com outros partidos, e nenhum deles se mostrou disposto a colaborar com a sigla.
O AfD chegou em segundo lugar em outra eleição, no Estado da Saxônia, que é mais populoso.
O partido conservador CDU obteve 31,9% dos votos, pouco mais que o AfD — muito na frente dos Social Democratas (SPD, do chanceler alemão Olaf Scholz), Verdes e do FDP (partido liberal).
Scholz disse que os resultados eleitorais são “amargos”, e fez um apelo a todos os partidos para que não façam coalizão com a direita radical. “O AfD está prejudicando a Alemanha. Está enfraquecendo a economia, dividindo a sociedade e arruinando a reputação do nosso país”, disse ele, em nota para a agência Reuters.
O principal candidato do AfD na Turíngia, Björn Höcke, que é uma personalidade altamente polêmica na Alemanha, comemorou a “vitória histórica” e falou sobre seu orgulho. O ex-professor de história assegurou uma vaga no parlamento estadual graças não à votação direta em seu nome, mas sim por estar no topo da lista do seu partido.
O partido de Höcke foi classificado como extremista de direita e ele foi multado por usar um slogan nazista, apesar de ele dizer que não sabia se tratar de um mote nazista.
Uma das sobreviventes do Holocausto mais famosas da Alemanha, Charlotte Knobloch, observou que a eleição da direita radical aconteceu no aniversário de 85 anos do começo da Segunda Guerra Mundial. Para ela, o resultado eleitoral deixa o país “mais instável, frio e pobre, menos seguro e menos valendo a pena de se morar nele”.
Poucas chances de governar
O AfD está em segundo em pesquisas nacionais — e no próximo ano haverá eleição em todo país. Uma das líderes da sigla, Alice Weidel, disse que o resultado foi um “réquiem” (uma prece para mortos) para os três partidos que governam a Alemanha, e que está claro que os eleitores querem ver seu partido no poder nos dois Estados do leste.
“Sem nós, não é possível mais haver um governo estável”, disse.
Essa mensagem foi repetida por Björn Höcke, que sugeriu que muitos eleitores do conservador CDU gostariam de ver uma coalizão entre as duas siglas.
Sem o apoio de outros partidos, o AfD não conseguirá formar governo na Turíngia. E o CDU deixou claro que não vai se aliar à direita radical.
Mas os conservadores precisarão de apoio da esquerda para conseguir formar uma maioria e governar.
Cerca de cinco milhões de alemães no leste do país estavam aptos a votar na eleição de domingo. Segundo uma pesquisa da televisão ZDF, 36% das pessoas com menos de 30 anos na Turíngia votaram no AfD — muito mais do que qualquer outro partido.
O tema mais importante para os eleitores do AfD é a imigração, em especial a questão dos refugiados e pessoas que pedem asilo.
“Políticos prometeram muito, especialmente sobre imigração e estrangeiros”, disse à BBC Michael, um dos eleitores do AfD em Erfurt, capital da Turíngia.
“Mas nada aconteceu. Nada. Só promessas que vieram desses partidos. Agora eu tenho meu partido. E defendo minha decisão”, disse ao lado de sua parceira, Manuela, que concordou que as pessoas querem ver mudanças.
A questão do asilo voltou à tona nacionalmente poucos dias antes da eleição, quando três pessoas foram assassinadas em um festival de rua em Solingen, no oeste da Alemanha. Um homem sírio que seria deportado foi preso, suspeito de realizar o ataque.
A vice-líder do AfD, Beatrix von Storch, disse à BBC que rivais políticos atacam as propostas do partido sobre asilo há dois anos.
“Dois dias antes da eleição, eles começaram a fazer o que nós sempre dissemos que precisava ser feito”, disse ela, em referência a medidas que endureceram as leis de asilo.
O AfD quer que a Alemanha pare de fornecer armamentos para a Ucrânia, assim como o partido BSW, da esquerdista populista Sahra Wagenknecht, que deve ficar em terceiro lugar no pleito dos dois Estados.
Resultados provisórios na Turíngia indicam que o AfD conquistou 32 das 88 vagas do parlamento. O CDU ficou com outros 23, e só um dos três partidos da coalizão do governo federal conquistou vagas. O SPD, de Olaf Scholz, deve ficar com apenas seis assentos. Os Verdes e os liberais do FDP não devem conquistar nenhuma vaga.
Isso dá ao AfD mais de um terço dos assentos, permitindo que o partido possa bloquear decisões que necessitem dois terços dos votos, incluindo mudanças na constituição estadual e indicação de juízes.
Na Saxônia, os conservadores do CDU conquistaram 42 vagas, uma a mais do que o AfD, com 41. Já a sigla de Sahra Wagenknecht conquistou 15 vagas.
As eleições de domingo mostraram que a “coalizão do semáforo” (vermelho do SPD, verde dos Verdes e amarelo do FDP), que governa a Alemanha, é impopular.
Um terceiro Estado, Brandenburg, terá eleições daqui a três semanas, e apesar de o AfD estar liderando pesquisas, o SPD e o CDU estão pouco atrás.
Enquanto Björn Höcke comemorava a vitória do partido em Erfurt, manifestantes anti-AfD fizeram um protesto na frente do parlamento da Turíngia.
O AfD é classificado como um grupo extremista de direita pelas agências de inteligência da Turíngia e da Saxônia. Em maio, um tribunal decidiu que a agência de inteligência BfV tem direito de colocar o AfD sob observação por suspeita de terrorismo.
Entre os manifestantes, a estudante Hannah disse que está preocupada com os resultados da eleição: “Eu acho que muitas pessoas estão cientes de que eles têm políticas nazistas e não estão nem aí. A Alemanha tem alguma responsabilidade nisso.”
Fonte: BBC
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