Crédito, OCEANGATE EXPEDITIONS/PA WIRE

Legenda da foto,

Foto antiga do submarino Titan, próximo a plataforma de onde foi liberado

É uma perspectiva claustrofóbica e aterrorizante – ficar preso em um submersível de 6,7 metros, potencialmente a milhares de quilômetros debaixo d’água, com o oxigênio se esgotando.

O paradeiro exato do submersível Titanic e a condição dos cinco tripulantes a bordo são desconhecidos. Acredita-se que, se a embarcação ainda estiver intacta, pode ter apenas uma pequena quantidade de oxigênio restante, criando uma corrida contra o tempo para encontrar o submarino antes que seja tarde demais.

No entanto, essa linha do tempo não é necessariamente rígida. Ken LeDez, especialista em medicina hiperbárica da Memorial University em St John’s, na região de Newfoundland no Canadá, diz à BBC News que, dependendo das condições, alguns dos que estavam a bordo podem sobreviver mais do que o esperado.

“Depende de quão frio estiver e de quão eficazes eles forem na conservação de oxigênio”, disse ele, acrescentando que tremer de frio pode consumir muito oxigênio, enquanto se eles aconchegarem-se, podem conservar o calor.

Ele afirma que ficar sem oxigênio é um processo gradual. “Não é como apagar a luz, é como escalar uma montanha – à medida que a temperatura fica mais fria, o metabolismo cai dependendo da rapidez com que você sobe a montanha”, disse.

Embora não se conheca a situação dentro do submersível, LeDez diz que as condições podem ser diferentes de pessoa para pessoa e que, embora seja algo triste e perturbador, algumas pessoas podem sobreviver mais do que outras.

Na quarta-feira, o contra-almirante John Mauger, da Guarda Costeira dos EUA, disse que havia uma série de incógnitas na missão de busca e resgate.

“Não sabemos a taxa de consumo de oxigênio por ocupante no submarino”, disse o contra-almirante Mauger à BBC.

LeDez também dizque ficar sem oxigênio não é o único perigo que os passageiros enfrentam.

A embarcação pode ter perdido energia elétrica, o que provavelmente tem um papel no controle da quantidade de oxigênio e dióxido de carbono dentro da embarcação.

À medida que o nível de oxigênio cai, a proporção de dióxido de carbono expirado pela tripulação aumenta, com consequências potencialmente fatais.

“À medida que os níveis de dióxido de carbono aumentam, ele se torna sedativo, como um gás anestésico, e você adormece”.

O excesso de gás na corrente sanguínea, conhecido como hipercapnia, pode matar se não for tratado.

O ex-capitão de submarino da Marinha Real, Ryan Ramsey, diz que olhou para vídeos online do interior de Titã e não conseguiu ver um sistema de remoção de dióxido de carbono com purificadores.

“Esse para mim é o maior problema de todos”, diz ele.

Ao mesmo tempo, a tripulação corre o risco de hipotermia, quando o corpo fica muito frio.

De acordo com o capitão Ramsey, se o submarino estiver no fundo do mar, a temperatura da água será de cerca de 0°C. Se estiver sem eletricidade, não vai poder gerar calor.

Mas a hipotermia “pode ser útil”, diz LeDez. “Existe a possibilidade de que, se eles perderem a consciência, possam sobreviver – os socorristas sabem disso”, diz ele, acrescentando que o corpo tentará se adaptar automaticamente para sobreviver.

No entanto, a hipotermia, juntamente com a falta de oxigênio e o acúmulo de dióxido de carbono dentro do submarino, significaria que a capacidade da tripulação de fazer contato com a missão de busca e salvamento, como bater no casco em intervalos regulares para atrair a atenção , vai diminuir.

“Se eles estiverem inconscientes, não poderão fazer muito para ajudar a si mesmos”, diz LeDez.

Embora a Guarda Costeira tenha alertado que provavelmente resta pouco oxigênio, a tripulação pode conseguir conservar seus suprimentos – pelo menos por um tempo.

Ramsey diz que diminuir a respiração também ajudaria, mas admite que isso pode ser difícil, considerando o estresse sob o qual eles estariam.

LeDez diz que eles também podem espalhar grânulos de absorção de dióxido de carbono ou reduzir o uso de energia se ainda tiverem eletricidade.

Em termos de comida e água, a Guarda Costeira disse que a tripulação tinha alguns “suprimentos limitados” a bordo, mas não sabia dizer quanto.

Apesar de todos esses desafios, LeDez pede que não cancelem a operação de busca e salvamento ainda, dizendo que eles podem sobreviver mesmo quando os níveis de oxigênio estiverem muito baixos.

Na quinta-feira, o contra-almirante Mauger disse que, em casos particularmente complexos, “a vontade de viver das pessoas também precisa ser levada em consideração”.

“E por isso continuamos a procurar e prosseguir com os esforços de resgate”, disse ele ao programa Today, do canal NBC. “Se alguém pode sobreviver são esses indivíduos.”

*Com reportagem adicional de Oliver Slow.