• Mark Patrick Taylor, Gabriel Filippelli e Michael Gillings
  • The Conversation *

Crédito, Getty Images

Não adianta negar, admita. Seja quando estamos na companhia de alguém com quem temos intimidade ou achamos que ninguém está olhando, todos nós em algum momento colocamos o dedo no nariz. E não estamos sozinhos: outros primatas fazem isso também.

O estigma social em torno de cutucar o nariz é generalizado. Mas será que deveríamos estar fazendo isso? E o que devemos fazer com a meleca depois?

Somos cientistas que pesquisam contaminantes ambientais — em nossas casas, ambientes de trabalho e jardins —, então temos algum conhecimento sobre onde estamos realmente nos metendo quando cutucamos o nariz.

A seguir, o que você precisa saber antes de decidir “limpar o salão”.

O que tem na meleca?

Colocar o dedo no nariz é um hábito totalmente natural: as crianças que ainda não aprenderam as normas sociais logo se dão conta de que o encaixe entre o dedo indicador e a narina é muito bom. Mas há muito mais do que apenas meleca lá em cima.

Durante os aproximadamente 22 mil ciclos respiratórios diários, o muco que forma a meleca atua como um filtro biológico fundamental para capturar poeira e alérgenos antes que eles penetrem em nossas vias aéreas, onde podem causar inflamação, asma e outros problemas pulmonares a longo prazo.

As células da cavidade nasal, chamadas células caliciformes (devido à sua aparência em forma de cálice), geram muco para capturar vírus, bactérias e poeira contendo substâncias potencialmente nocivas, como chumbo, amianto e pólen.

O muco nasal, junto a seus anticorpos e enzimas, são a linha de frente do sistema imunológico de defesa do corpo contra infecções.

A cavidade nasal também tem seu próprio microbioma. Às vezes, essas populações naturais podem ser perturbadas, o que provoca várias condições, como a rinite.

Mas, em geral, os micróbios do nosso nariz ajudam a repelir invasores, lutando contra eles em um campo de batalha de muco.

A poeira, os micróbios e os alérgenos capturados no muco acabam sendo ingeridos à medida que esse muco escorre pela nossa garganta.

Isso não costuma ser um problema, mas pode exacerbar a exposição ambiental a alguns contaminantes.

Por exemplo, o chumbo — uma neurotoxina encontrada na poeira doméstica e na terra do jardim — entra no corpo das crianças de forma mais eficiente por meio da ingestão e digestão.

Portanto, pode piorar a exposição a certas toxinas ambientais se você aspirar ou consumir o muco, em vez de assoar o nariz.

O que a ciência diz sobre os riscos de tirar meleca?

O estafilococo dourado (Staphylococcus aureus, às vezes abreviado como S. aureus) é um germe que pode causar uma variedade de infecções leves ou graves. Estudos mostram que é frequentemente encontrado no nariz (isso é chamado de transporte nasal).

Uma pesquisa descobriu que colocar o dedo no nariz está associado ao transporte nasal de S. aureus —, podendo ser a causa do mesmo em certos casos. E concluiu que a superação do hábito de cutucar o nariz pode ajudar nas estratégias de descolonização do S. aureus.

Tirar meleca também pode estar associado a um risco maior de transmissão de estafilococo dourado para feridas, onde representa um risco mais grave.

E, às vezes, os antibióticos não funcionam com o estafilococo dourado.

Um artigo recente observou que “a crescente resistência aos antibióticos exige que os profissionais de saúde avaliem os hábitos de cutucar o nariz dos pacientes e os eduquem sobre maneiras eficazes de prevenir tais práticas”.

Tirar meleca também pode ser um veículo para a transmissão de Streptococcus pneumoniae, uma causa comum de pneumonia entre outras infecções.

Em outras palavras, enfiar o dedo no nariz é uma ótima maneira de introduzir mais germes no corpo ou de espalhá-los no ambiente com o dedo sujo.

Além disso, existe o risco de produzir arranhões e abrasões dentro das narinas, o que pode permitir que bactérias patogênicas invadam seu corpo.

Cutucar o nariz compulsivamente ao ponto de se autolesionar é chamado de rinotilexomania.

Algumas pessoas comem a meleca (o termo técnico é mucofagia, que significa “alimentação de muco”).

Além de ser um hábito nojento, envolve a ingestão de todos aqueles germes inalados vinculados ao muco, metais tóxicos e contaminantes ambientais que mencionamos antes.

Outros limpam a meleca no objeto mais próximo, deixando um pequeno presente a ser descoberto mais tarde por outra pessoa. Uma maneira nojenta de espalhar germes.

Há pessoas bem mais higiênicas que usam um lenço de papel para fazer a extração e depois simplesmente jogam no lixo ou no vaso sanitário.

Esta é provavelmente uma das opções menos piores, se você realmente precisar limpar o salão.

Certifique-se apenas de lavar as mãos com bastante cuidado depois de assoar ou cutucar o nariz, uma vez que até que o muco esteja completamente seco, os vírus infecciosos podem permanecer nas mãos e nos dedos.

Nada vai te impedir

Seja escondidos, no carro ou em guardanapos, todos nós fazemos isso. E, verdade seja dita, é muito gratificante.

Mas honremos o trabalho incansável realizado por nossos extraordinários narizes, mucosas e cavidades nasais — adaptações biológicas tão surpreendentes —, e lembremos que estão se esforçando para nos proteger.

Nossos narizes fazem hora extra para nos manter saudáveis, então não vamos dificultar ainda mais o trabalho deles enfiando nossos dedos sujos lá dentro.

E se você acabar caindo em tentação, faça um favor a si mesmo: assoe o nariz discretamente, descarte o lenço de papel com cuidado e lave as mãos depois.

* Mark Patrick Taylor é cientista ambiental chefe, EPA Victoria; professor honorário, Universidade Macquarie, Austrália.

Gabriel Filippelli é professor-chanceler de ciências da Terra e diretor-executivo do Instituto de Resiliência Ambiental da Universidade de Indiana (IUPUI), EUA.

Michael Gillings é professor de evolução molecular na Universidade Macquarie, Austrália.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).

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