- Author, Alex Christian
- Role, Da BBC Worklife
Presos em empregos dos quais não gostam – ou com salários que não os satisfazem -muitos trabalhadores ficam desmotivados e acabam aderindo à “demissão silenciosa”: quando decidem fazer o mínimo possível.
As taxas de demissão voluntária estão diminuindo. Nos EUA, normalizaram-se para níveis pré-pandêmicos – aparentemente pondo fim a um momento em que diversos trabalhadores estavam deixando seus empregos. As contratações também esfriaram. No Reino Unido, o número de vagas de emprego caiu trimestralmente no ano passado.
Especialistas dizem que alguns trabalhadores estão felizes em permanecer em seus empregos: muitos encontraram novos cargos após repensarem suas carreiras. Mas nem todos os trabalhadores ficam nas vagas em que estão por vontade própria. Alguns ainda querem pedir demissão, mas com desaceleração nas contratações e incertezas sobre a economia, eles podem ficar presos em empregos dos quais não gostam num futuro próximo.
Quando o mercado está aquecido, os trabalhadores insatisfeitos podem mais facilmente mudar de emprego ou mudar de setor para encontrar funções das quais gostem mais.
“Quando as pessoas sentem que não estão num emprego inspirador e vêem oportunidades em outros lugares, é provável que procurem satisfazer as suas necessidades profissionais em outra empresa”, afirma Jim Harter, pesquisador de gestão e bem-estar no local de trabalho da consultoria americana Gallup.
Sem perspectiva de serem contratadas em outros locais, no entanto, as pessoas na maioria das vezes não tem condições de pedir demissão – então, em vez disso, “demitem-se silenciosamente”, ou seja, começam a fazer o mínimo possível. De acordo com dados da Gallup de junho de 2023, 59% dos 122.416 trabalhadores globais entrevistados dizem que não estão engajados no trabalho.
Existem muitas razões para os trabalhadores estarem desmotivados neste momento, dizem os especialistas.
Por um lado, o custo de vida e a estagnação do crescimento salarial significaram que mais funcionários estão insatisfeitos com os seus salários.
“O salário costuma ser o principal motivo para alguém se sentir insatisfeito com seu trabalho atual – você está trabalhando duro, mas seu salário não está aumentando”, explica Nela Richardson, economista chefe da empresa de RH ADP, em Nova York, nos EUA.
Uma grande parte dos trabalhadores também está presa em empregos com os quais não se importam. O fato de quererem uma nova função, mas não conseguirem, faz com que se sintam frustrados, presos e sem agência. Assim, sem mobilidade no mercado de trabalho, “[eles] ficam no emprego simplesmente por falta de escolha, e não porque se sentem realizados e motivados pelo seu papel”, afirma Ngaire Moyes, gerente do LinkedIn no Reino Unido.
É aqui que entra a demissão silenciosa. “A maioria das pessoas ‘se demite’ silenciosamente devido à natureza de seu trabalho”, diz Harter. “Fazem o mínimo porque não se sentem inspiradas e não sentem que têm a oportunidade de fazer o que fazem melhor.”
Consequências da ‘demissão silenciosa’
Para o funcionário, ficar preso a um trabalho do qual não gosta é, na melhor das hipóteses, desagradável e, na pior, prejudicial. E desistir silenciosamente não ajuda. “É um comportamento que pode levar a níveis mais baixos de bem-estar ao longo do tempo”, diz Harter. “Na prática, entrar em um casulo e fazer o mínimo durante a maior parte do tempo pode ter um impacto negativo na saúde mental. E não é uma forma de construir uma carreira de sucesso.”
A postura de muitas empresas também agrava o problema.
Harter diz que a falta de investimento de uma empresa nos seus trabalhadores muitas vezes leva à “demissão silenciosa”. “Alguns empregadores podem agora pensar que têm maior controle quando os trabalhadores têm menos oportunidades em outros locais. E por isso os empregadores não se esforçam tanto para inspirar as suas equipes”, diz ele.
No entanto, a questão é um grande problema para as empresas, uma vez que a desmotivação dos trabalhadores gera perda de produtividade. Os especialistas dizem que as próprias companhias deveriam ter interesse em engajar seus trabalhadores.
Se elas não melhorarem as condições para os funcionários, um número crescente dos seus empregados vai começar a fazer o mínimo necessário até que consigam mudar de empresa.
Uma peça desse quebra-cabeça, diz Richardson, é garantir que os trabalhadores se sintam apoiados e priorizados, que haja atenção para sua saúde mental e qualidade de vida.
“Quando há falta de mão de obra, muitos empregadores fazem mais para manter os seus trabalhadores, oferecendo maior flexibilidade. Mas, à medida que a falta de mão de obra diminui, algumas organizações podem recuar nessas ofertas e benefícios”,diz ela.
Em tempos de tensão econômica, como quando há inflação e aumento do custo de vida, os empregadores também têm o dever de reconhecer as circunstâncias dos trabalhadores, diz Harter.
Ele cita números da Gallup que indicam que o engajamento também é afetado por crises fora do local de trabalho. “Em tempos difíceis, construir a cultura organizacional certa é ainda mais crucial para ampliar o esforço dos funcionários”, acrescenta.
A realidade para a maioria dos trabalhadores é que eles poderão ter de permanecer nas suas funções atuais, gostem ou não. E, a menos que as empresas façam mais para engajar os funcionários insatisfeitos, muitas pessoas vão optar pela “demissão silenciosa” e fazer o mínimo possível.
Fonte: BBC
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