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Peter Habeler, um pioneiro do Everest ainda em atividade aos 80 anos

Primeiro alpinista a escalar o Everest sem oxigênio junto com o italiano Reinhold Messner, em 1978, o austríaco Peter Habeler continua, aos 80 anos, desafiando os cumes.

Em sua casa no Tirol, no oeste da Áustria, o dinâmico aposentado relembra o “turbilhão de emoções” que experimentou ao atingir 8.848 metros de altitude.

“Uma vez no topo”, sentiu “alegria, mas também medo”. E, assim que o marco foi alcançado, queria apenas descer para se juntar aos seus.

Desde sua expedição, outros seguiram seu exemplo, mas a ascensão sem assistência respiratória continua incomum e perigosa. O gigante do Himalaia se transformou no túmulo de pelo menos 300 alpinistas desde 1950. Acima dos 8 mil metros, o oxigênio é escasso, e os alpinistas entram em uma “zona letal”.

“Não sabemos como nossos músculos e nosso cérebro vão reagir”, explica o octogenário à AFP.

“Graças a Deus, não tínhamos muita consciência das possibilidades de que isso pudesse terminar mal”, acrescenta.

Ao ver as condições atuais das expedições, com verdadeiros engarrafamentos do acampamento-base, considera-se “privilegiado” por ter tido o mítico pico apenas para si.

“Encontrar prazer”


Se seu companheiro de corda, o italiano Messner, mais tarde se tornou o primeiro a conquistar os 14 cumes com mais de 8 mil metros, o austríaco Habeler não se considera um “colecionador” de recordes, embora tenha coroado cinco deles, assim como outros picos de prestígio.

Ao voltar do Everest, fez uma pausa para passar um tempo com sua família e fundar, em sua cidade natal, Mayrhofen, uma escola de esqui agora administrada por um de seus dois filhos.

“É preciso encontrar prazer ao escalar e, quando a gente tenta entender um pouco a montanha, ela se torna uma amiga”, diz, com um largo sorriso.

Depois de descansar por alguns anos em casa, voltou a sentir “um formigamento” pela escalada.

As próximas subidas não faria com Messner, porém, a quem agradece por tê-lo ajudado a superar suas dúvidas sobre o Everest.

O italiano elogia, por sua vez, a “genialidade” e o “instinto natural” do parceiro de aventuras.

“Ele pode escalar todas as montanhas, não importa o terreno, não importa o quão alto, não importa em que circunstâncias”, escreveu ele, no posfácio do último livro de Habeler.

“Minimalista”


Do alto de sua varanda de madeira com vista para os Alpes, o austríaco pode falar sem parar sobre sua paixão — “uma fonte da juventude”, da qual espera beber até o fim.

“É uma atividade física completa que também exige muito do cérebro”, considera.

Nas muitas palestras que continua a dar, esta lenda do montanhismo defende o turismo sustentável, em particular, que se viaje de trem para chegar às estações. Também se preocupa com o aquecimento global, “um grande problema” para os alpinistas que pode tornar alguns passos impraticáveis, devido à instabilidade do terreno.

Às vezes, ele se lança em desafios mais ambiciosos, quando, aos 74 anos, tornou-se o atleta mais velho a escalar a face norte do Eiger, na Suíça, lembra.

Ao seu lado, estava seu ex-aluno David Lama, que morreria pouco depois, com apenas 28 anos, arrastado por uma avalanche no Parque Nacional Canadense de Banff.

O acidente, cuja lembrança ainda lhe traz lágrimas aos olhos, tornou-o mais prudente, embora continue a escalar os Alpes com o mínimo de material e ajuda externa possível.

“Sou um minimalista. Não quero ter muitas coisas nas costas”, diz este alpinista, que começou seu hobby, graças aos guias de montanha, pessoas “que trazem o melhor de você mesmo”.

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Fonte: Folha PE

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