- Emma Simpson
- Correspondente de negócios da BBC News
Milhares de trabalhadores do Reino Unido e 70 empresas participam a partir desta segunda-feira (6/6) de um experimento que vai durar quatro semanas.
O maior projeto piloto sobre padrões de trabalho do mundo foi organizado por um grupo que advoga por semanas mais curtas de trabalho sem perda salarial. Durante o experimento, os empregados vão receber 100% do salário para trabalhar 80% da jornada original, com o objetivo de testar a produtividade deles.
Professores da Universidade de Oxford e Cambridge, assim como do Boston College nos Estados Unidos, vão administrar a pesquisa em parceria com o think tank Autonomy.
As empresas participantes vão de desenvolvedoras de softwares a companhias que fazem trabalho de recrutamento para ONGs e lojas locais que oferecem fish and chips, prato típico britânico.
O experimento, que envolve cerca de 3.000 trabalhadores do Reino Unido, é parte de uma iniciativa mundial que inclui testes semelhantes, porém de menor escala, na Irlanda, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. Recentemente, o governo de Portugal também anunciou que pretende lançar um programa piloto parecido, com cerca de 100 empresas voluntárias.
Sam Smith, cofundador da cervejaria Pressure Drop Brewery, em Tottenham, norte de Londres, disse que é “um bom momento” para sua empresa tentar diferentes práticas de trabalho.
“A pandemia nos fez pensar muito sobre o trabalho e como as pessoas organizam suas vidas”, diz. “Estamos fazendo isso para melhorar a vida de nossa equipe e fazer parte de uma mudança progressiva no mundo que vai melhorar a saúde mental e o bem-estar das pessoas”.
O desafio de Smith durante o esquema piloto é bastante simples. Sua equipe de nove pessoas precisa produzir e embalar a mesma quantidade de cervejas que fazem agora — mas em quatro dias, em vez de cinco.
“Acho que é sobre como você usa seu tempo”, avalia Smith. “Então, quando falo em ser produtivo, não me refiro a ser mais rápido na tarefa que você está fazendo agora, mas sim a usar, por exemplo, os tempos de inatividade normais que você tem para se preparar melhor para o dia seguinte.”
‘Mais foco’
Clare Doherty, que participa da administração da empresa de Smith, disse que o teste é “fantástico” e parte de uma “progressão natural de como trabalhamos”.
Ela explicou que o fato de trabalhar nesse setor há mais de quatro anos e saber que consegue fazer seu trabalho a faz se sentir confiante de que poderá cumprir as tarefas com eficiência com um dia a menos.
“Vai significar alguns minutos a menos de passeio pela internet durante o expediente, porque você precisa estar um pouco mais focado para fazer o que precisa no tempo que tem”, disse ela.
Enquanto isso, Craig Carmichael, que também trabalha na cervejaria, acha que um dia de descanso extra o motivará a trabalhar mais.
“Se eu souber que tenho que fazer as coisas em quatro dias para aproveitar esse dia extra, acho que será um bom incentivo”, disse ele à BBC.
Corte de atividades não produtivas
“O teste do Reino Unido é histórico”, disse Juliet Schor, pesquisadora principal do projeto Global 4-day Week, e economista e socióloga do Boston College.
“A base desse movimento é o argumento de que há atividades acontecendo em muitos locais de trabalho, principalmente nos de colarinho branco, que são de baixa produtividade e que você pode cortar sem prejudicar os negócios.”
Ela disse que o problema com a semana de cinco dias é que o trabalho pode simplesmente se expandir para caber no tempo excedente.
“Aderir a um sistema rígido, centenário e baseado em horário fixo não faz sentido”, acrescentou Schor. “Você pode ser 100% produtivo em 80% do tempo em muitos locais de trabalho, e as empresas que adotam isso em todo o mundo têm demonstrado isso.”
No entanto, a pesquisadora admite que a ideia pode não agradar a todos nem atender a todas as profissões, como saúde e ensino, onde trabalhadores já podem estar sobrecarregados e estressados.
Mas mesmo que os funcionários sejam apenas 10% mais produtivos, o saldo ainda pode ser positivo, diz ela, se o novo esquema levar a taxas mais baixas de doenças entre os trabalhadores, menos pessoas deixando seus cargos e se ele atrair mais facilmente novos empregados.
Girling Jones, uma pequena empresa de recrutamento de construção em Exeter, na Inglaterra, mudou seu esquema de trabalho para uma semana de quatro dias em janeiro, mas também se inscreveu no experimento.
A produtividade está em alta e os lucros também, disse o chefe e fundador da empresa, Simon Girling. “Todas as nossas atividades — ligações, reuniões, entrevistas, estão em alta… simplesmente todo mundo está fazendo mais em menos tempo”, acrescentou.
Os funcionários também estão mais felizes — Ellen Andreassen disse que usa seu dia de folga para relaxar. “Estou definitivamente mais motivada. Uma coisa que notei é o sono. Estou dormindo muito melhor e levantar da cama é muito mais fácil.”
Seu colega Josh Cockerill disse que passar mais tempo com a filha o estava ajudando a economizar dinheiro com creche. “O fato de ter um dia de folga no meio da semana te incentiva a trabalhar mais duro até essa folga”, disse ele.
Depois de mudar as rotinas diárias durante a pandemia de covid, a empresa estava pronta para experimentar novos padrões de trabalho. “A semana de quatro dias revolucionou a empresa”, disse Girling.
“Após a pandemia, pesquisamos muito sobre isso e não conseguíamos achar nenhum ponto negativo (em reduzir a semana de trabalho para quatro dias)”, disse.
“Acho que com este piloto de quatro dias semanais teremos estatísticas realmente detalhadas sobre isso. Não tenho certeza se funcionaria em todos os setores ou empresas, mas é uma oportunidade muito boa para muitas delas mudarem como funcionam e melhorarem.”
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