• Jorge Poveda Arias
  • The Conversation*

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Todos os anos, o fogo devasta grandes áreas em cada vez mais países.

Parece que esta situação não vai melhorar nos próximos anos — e o aumento das temperaturas e dos períodos de seca, como consequência das mudanças climáticas, não vai melhorar a situação.

Mas se o fogo destrói tudo, como as plantas conseguem sobreviver e começar a formar de novo as florestas que se perderam?

Um estudo publicado na revista Oikos por um pesquisador espanhol do Centro de Investigação da Desertificação, em Valência, na Espanha, revela várias estratégias que as plantas adotam para renascer após um incêndio.

Plantas à prova de fogo

A primeira estratégia (e mais eficaz) é evitar ter que enfrentar o fogo.

Como elas conseguem isso? Muito fácil: crescem em lugares onde o fogo nunca será capaz de chegar. Por exemplo, nas paredes de um barranco, em áreas continuamente alagadas ou até mesmo debaixo d’água.

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Os manguezais têm suas raízes sempre debaixo d’água

Se precisam viver em um habitat propenso a incêndios, as plantas podem adotar outras estratégias.

Alguns arbustos e árvores criam cascas muito grossas que tentam proteger ao máximo o interior da planta.

Em todos os casos, os órgãos mais indefesos diante do fogo são sempre as folhas.

Diante desta fragilidade, muitas árvores (como alguns pinheiros) se autopodam, fazendo com que seus galhos mais baixos caiam. Desta forma, só chamas muito altas vão conseguir atingir suas folhas.

Outras plantas podem manter brotos embaixo da terra (e até protegidos com outros tecidos vegetais) para renascer se o fogo acabar com as plantas adultas.

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Pinus sylvestris, uma espécie de pinheiro propensa à autopoda

Sementes que nascem no calor das chamas

Mas o fogo não é algo negativo para todas as plantas.

Há espécies que realmente precisam dele para germinar e se desenvolver. É o caso, por exemplo, das estevas. Não é por acaso que as estevas estão entre as primeiras plantas a colonizar a terra após um incêndio.

As sementes de esteva caem no solo e permanecem enterradas por vários anos, em um estado de inatividade chamado dormência.

Quando um incêndio destrói a floresta, o fogo faz com que estas sementes atinjam temperaturas elevadas, fazendo com que despertem.

Desta forma, elas germinam rapidamente e podem se estabelecer num novo habitat rico em nutrientes (todas as cinzas do incêndio) e na ausência de plantas concorrentes.

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As sementes da esteva (Cistus ladanifer) caem no solo e permanecem enterradas por vários anos, em estado de dormência

Apesar das estratégias mencionadas, muitas espécies vegetais resistem muito pouco ao fogo e são eliminadas totalmente das florestas após o incêndio.

Se são espécies vegetais com facilidade para dispersar suas sementes, elas podem reaparecer em pouco tempo no mesmo local, vindas de outras florestas próximas.

No entanto, se são pouco resistentes ao fogo e não dispersam suas sementes com facilidade, um incêndio pode acabar por completo com estas plantas. Isso provoca o desaparecimento de espécies vegetais na área por vários anos ou até mesmo para sempre.

Aprendendo a sobreviver a incêndios

Todas as estratégias para sobreviver ao fogo são resultado de processos evolutivos que buscam, sobretudo, a sobrevivência da espécie.

Para serem capazes, as plantas precisam aprender a fazer isso. Um artigo publicado na Proceedings of the Royal Society B por pesquisadores da Universidade de Sheffield, no Reino Unido, explica justamente como as plantas podem aprender a enfrentar o fogo.

O estudo foi realizado com quatro espécies diferentes de gramíneas. Foram utilizados dois tipos de lotes: um lote que não havia sido queimado em 35 anos, e outro lote que foi queimado anualmente durante dois anos.

Em ambos os lotes, as quatro espécies de gramíneas analisadas cresciam naturalmente. O que estes pesquisadores fizeram foi colher essas gramíneas e transplantá-las para vasos em uma estufa, no intuito de estudar sua evolução sob condições controladas.

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Muitas plantas aprenderam a sobreviver aos incêndios, mas muitas outras não

Depois de um ano, eles descobriram que as plantas submetidas a incêndios anuais produziam mais sementes e mais biomassa subterrânea.

Portanto, estas plantas concentram seus esforços em dispersar sua progênie o máximo possível e crescer onde o fogo menos afeta (embaixo da terra).

Na sequência, todas as plantas foram queimadas e brotaram novamente por conta própria. Dessa forma, os pesquisadores descobriram que as plantas que foram submetidas a incêndios contínuos cresceram muito mais rápido após serem queimadas (a partir dos brotos enterrados).

As plantas haviam aprendido que crescer no subsolo era essencial para sobreviver em um lugar sujeito a tantos incêndios. Habilidade que suas companheiras, inexperientes em relação ao fogo, não haviam adquirido.

Embora existam plantas que aprenderam a sobreviver aos incêndios, muitas outras não aprenderam.

O fogo representa um inimigo insaciável para os seres humanos e todos os seres vivos da floresta. Por isso, devemos fazer todo o possível para impedir sua propagação nas florestas.

Jorge Poveda Arias é professor assistente, doutor em biotecnologia e agricultura, na Universidade Pública de Navarra, na Espanha.

Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em espanhol).

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