- Claudia Hammond
- BBC Future
Que idade você acha que corresponde à meia-idade? De 40 a 60 anos? Dos 50 aos 70? Em algum ponto intermediário?
Provavelmente não vai te surpreender saber que a resposta que as pessoas dão a isso depende de quantos anos elas têm no momento em que ouviram a pergunta.
Quando meio milhão de pessoas preencheram um questionário online em 2018, os participantes que tinham entre 20 e 30 anos responderam que, em média, a meia-idade começava aos 40 anos, enquanto a velhice tinha início aos 62.
Em contrapartida, os maiores de 65 anos não pensavam que se chegava à velhice antes dos 71 anos.
É bastante óbvio o que acontece. Ninguém gosta de pensar que está envelhecendo — então, se você tem 40 anos, adora artigos que proclamam que os 40 são os novos 30.
Da mesma forma, as pessoas na faixa dos 70 anos ficam animadas com sugestões de que, com os avanços na nutrição e nos cuidados de saúde, praticamente acabaram de sair da meia-idade.
Além disso, tendemos a querer nos dissociar de qualquer grupo que seja estigmatizado.
Isso significa que resistimos a ser designados como velhos, quando vemos o idoso retratado como frágil, sedentário, doente e até mesmo um fardo para a sociedade.
Claro que a velhice é uma realidade, e os idosos devem ser tratados com respeito e dignidade.
Será então que as pessoas estão simplesmente se iludindo quando se recusam a se considerar velhas?
Na verdade, esta pode ser uma estratégia sensata, que pode ser realizada e melhorar a qualidade de vida.
Em 2003, os pesquisadores Hannah Kuper e Michael Marmot (famosos por demonstrar o impacto que o status socioeconômico pode ter em nossa saúde e expectativa de vida) realizaram um amplo estudo no qual os participantes foram novamente questionados: quando a velhice começa?
As respostas variaram, claro, mas o que Kuper e Marmot descobriram foi que as pessoas que pensavam que a velhice começava mais cedo eram mais propensas a ter um ataque cardíaco, sofrer de doenças cardíacas ou ter uma saúde física em geral precária quando monitoradas de seis a nove anos depois.
Os participantes desta pesquisa estavam participando do chamado estudo Whitehall II, um estudo longitudinal com mais de 10 mil funcionários públicos que trabalhavam em Londres.
A pesquisa é robusta e os participantes responderam a uma grande variedade de perguntas.
Isso significava que Kuper e Marmot podiam estabelecer que outros fatores, como o nível de emprego, não poderiam explicar as diferenças nos resultados de saúde.
Como poderia então a idade que você designa como o início da velhice ter um impacto tão grande na sua saúde?
Uma teoria é que a resposta para a simples pergunta de “quando a velhice começa” fornece, na verdade, muito mais informação sobre uma pessoa do que você imagina.
Pode ser, por exemplo, que a pergunta leve as pessoas a pensar sobre sua própria saúde física e, se tiverem problemas de saúde pré-existentes ou um estilo de vida ruim, podem não se sentir tão bem e pensar que a velhice está chegando mais cedo.
As pessoas que dizem que a velhice chega mais rápido também podem ser mais fatalistas e menos propensas a procurar ajuda para problemas de saúde ou a adotar rotinas mais saudáveis, acreditando que o declínio é inevitável.
Elas podem supor, por exemplo, que as pessoas mais velhas são frágeis, e começar a andar deliberadamente mais devagar e pegar leve, quando isso é exatamente o que não deveriam fazer em prol de sua saúde física e mental.
Elas podem esperar esquecer coisas devido à idade, então param de contar com suas memórias. É até possível que o estresse de se apegar a ideias negativas sobre o envelhecimento contribua para a inflamação crônica e mais problemas de saúde a longo prazo.
De maneira que viver de acordo com o estereótipo de uma pessoa mais velha poderia aumentar justamente os problemas que temem.
E, claro, o inverso pode ser verdade também.
As pessoas que pensam que a velhice começa mais tarde podem estar mais conscientes sobre sua saúde e condicionamento físico e, portanto, tomar medidas ativas para se manter em forma.
Elas acreditam que são mais jovens e, portanto, se comportam de maneira mais jovem, criando um círculo virtuoso.
Seja qual for a explicação, o estudo de Kuper e Marmot não é a única pesquisa a demonstrar benefícios mensuráveis de pensar positivamente sobre o envelhecimento.
Becca Levy, da Escola de Saúde Pública de Yale, também produziu resultados extraordinários, usando dados do Estudo Longitudinal de Envelhecimento e Aposentadoria de Ohio, que acompanhou mais de mil pessoas que tinham pelo menos 50 anos na época.
Levy descobriu que as pessoas que tinham ideias positivas sobre seu próprio envelhecimento (que concordavam com comentários como “tenho tanta vitalidade quanto no ano passado” e que discordavam que à medida que você envelhece fica menos útil) viveram em média 22,6 anos após terem participado do estudo pela primeira vez, enquanto aquelas que se sentiam menos positivas sobre a velhice viveram, em média, apenas 15 anos a mais.
Em seguida, surgiu um novo estudo conduzido por Susanne Wurm, da Universidade de Greifswald, no norte da Alemanha, que pode definir o problema com mais precisão.
E suas descobertas oferecem boas notícias para as pessoas que pensam mais negativamente sobre a chegada da velhice. Elas não se mostraram mais propensas do que a média a morrer cedo.
Mas, novamente, as pessoas que viam a velhice de forma mais positiva, como um momento para aprender coisas novas e fazer novos planos, por exemplo, viviam mais em média.
Neste estudo, não importava tanto o que as pessoas pensavam sobre as implicações físicas do envelhecimento, o que importava era se elas acreditavam que ainda iriam se desenvolver e crescer mentalmente.
Nenhuma destas pesquisas significa que podemos parar ou reverter magicamente o processo de envelhecimento.
Visão, audição, memória, massa muscular, resistência óssea, processos de recuperação: pode escolher, tudo isso declina. E as pessoas mais velhas são, obviamente, mais vulneráveis a toda uma variedade de doenças.
Todos estes grandes estudos são baseados em médias, então dizer que não está na meia-idade não evitará que todo mundo fique doente.
Mas no livro The Expectation Effect (“O efeito da expectativa”, em tradução livre), o jornalista especializado em ciência David Robson dá algumas dicas.
Ele indica que, em vez de lamentar a perda da juventude, devemos nos concentrar nas experiências e no conhecimento que adquirimos à medida que envelhecemos — e perceber o quão melhor lidamos com as situações.
Quando as pessoas mais velhas não se sentem bem, elas não devem supor que tudo se deve à idade avançada.
Acima de tudo, à medida que envelhecemos, nunca deveríamos desistir de tentar ser mais saudáveis e acreditar que ainda podemos fazer muitas coisas.
Se adotarmos esta atitude, provavelmente viveremos mais e aproveitaremos estes anos.
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