- Author, Mark Savage
- Role, BBC News
Sean “Diddy” Combs, um dos nomes mais bem-sucedidos na história do rap, foi preso e acusado de tráfico sexual e extorsão.
Promotores alegam que ele “abusou, ameaçou e coagiu mulheres” e afirmam que ele “criou uma organização criminosa” também envolvida em trabalho forçado, sequestro, incêndio criminoso e suborno.
A estrela se declarou inocente, e seu advogado afirmou que ele não cometeu os crimes. Um juiz negou a liberdade sob fiança após os promotores argumentarem que ele representava uma ameaça à comunidade.
O caso judicial ocorre após um ano em que o músico enfrentou processos de várias mulheres, incluindo sua parceira de longa data Casandra “Cassie” Ventura, que o acusou de abuso sexual e físico.
Em uma declaração feita em dezembro passado, Combs se defendeu contra o que descreveu como “acusações repugnantes” feitas por “pessoas em busca de um pagamento rápido”.
“Vou ser absolutamente claro: eu não fiz nenhuma das coisas horríveis que estão sendo alegadas”, afirmou.
Combs – que também já foi conhecido pelos nomes Puffy, Puff Daddy, P Diddy, Love e Brother Love – basicamente reescreveu as regras do hip-hop nos anos 1990, mas sua carreira tem sido marcada por controvérsias.
A seguir, uma linha do tempo de sua carreira e as acusações contra ele.
1969-89: Infância em Nova York
Sean John Combs nasceu no Harlem e foi criado em Mount Vernon, Nova York.
Sua mãe, Janice, era assistente de professora, enquanto seu pai, Melvin, foi ex-membro da Força Aérea dos EUA e que se associou ao traficante de drogas Frank Lucas, que mais tarde inspirou o filme O Gângster de Ridley Scott.
Em 1972, Melvin foi fatalmente baleado em seu carro durante uma transação de drogas após ser erroneamente identificado como informante. Combs tinha apenas dois anos, e só descobriu as circunstâncias da morte de seu pai muito tempo depois.
Criado por sua mãe, ele era uma criança que gostava de chamar atenção, adorava música rap e jogava futebol americano no time da escola.
Na adolescência, dançou em videoclipes de artistas como Diana Ross e Fine Young Cannibals.
Seguindo o exemplo de sua mãe, que trabalhava em vários empregos para sustentar Sean e sua irmã Keisha, ele também trabalhou entregando jornais, antes de se matricular no curso de administração de empresas na Howard University.
Início dos anos 1990: festas viram tragédia
Na universidade, Sean Combs ganhou fama por organizar festas grandiosas, algumas das quais atraíam mais de mil convidados.
Depois de contratar músicos como Heavy D e Terry Riley para tocar nesses eventos, ele chamou a atenção de Andre Harrell, fundador da Uptown Records, que lhe ofereceu um estágio em Nova York.
Combs acabou abandonando a universidade para trabalhar em tempo integral na gravadora, orientando o início das carreiras de artistas como Mary J Blige e Jodeci.
No entanto, uma tragédia ocorreu em 1991, quando Combs co-promoveu um jogo de basquete beneficente e um show no City College de Nova York. Cerca de 5 mil pessoas apareceram no ginásio, que só tinha capacidade para 2.730. No tumulto, nove pessoas morreram e 29 ficaram feridas.
Uma investigação da Prefeitura de Nova York culpou Combs por contratar seguranças inexperientes. Mas o artista e seus advogados sustentaram que ele não era responsável pela segurança do evento.
“[A tragédia do] City College é algo em que penso todos os dias da minha vida”, disse o músico em 1998. “Mas isso não pode, de forma alguma, ser comparado à dor que as famílias enfrentam. Eu rezo todos os dias pelas famílias e pelas crianças que perderam suas vidas.”
Nenhuma acusação criminal foi feita em relação à tragédia, mas os familiares das vítimas processaram os promotores, a universidade e a cidade, acusando-os de negligência.
O caso foi resolvido com um acordo de US$ 3,8 milhões (R$ 20,8 milhões), dos quais Combs pagou US$ 750 mil (R$ 4,1 milhões).
Fim dos anos 1990: um novo começo
Enquanto trabalhava na Uptown, Sean Combs assinou contrato com um jovem rapper do Brooklyn chamado Christopher Wallace – também conhecido como Biggie Smalls ou The Notorious B.I.G. – e começou a trabalhar em seu álbum de estreia.
Mas sua relação com Andre Harrell se deteriorou, e Combs foi demitido. Em resposta, ele fundou sua própria gravadora, Bad Boy Records, levando Biggie com ele.
O álbum de estreia de Biggie, Ready To Die, foi aclamado como um clássico do rap, vendendo milhões de cópias e gerando singles como Juicy e Big Poppa.
Combs expandiu rapidamente o catálogo da Bad Boy, lançando álbuns de sucesso de artistas como Faith Evans, Ma$e, 112 e Total.
O som da gravadora era sofisticado e polido. Muitos de seus maiores sucessos utilizaram samples de hits conhecidos. Embora essa prática fosse criticada pelos puristas do hip-hop, era perfeita para as rádios.
1997: Notorious B.I.G. é assassinado
Em março de 1997, Biggie Smalls foi morto em um tiroteio em um carro, aos 24 anos de idade.
O assassinato nunca foi solucionado, mas está consistentemente ligado à rivalidade entre a Costa Leste e a Costa Oeste, que dominava o cenário do rap nos anos 1990 e que também resultou na morte de Tupac Shakur.
Combs, que estava no carro atrás de seu amigo, canalizou sua dor na música I’ll Be Missing You, que se tornou um dos maiores sucessos de 1997.
A canção, baseada em Every Breath You Take, do The Police, também fez parte do álbum de estreia de Combs, No Way Out, que vendeu 7 milhões de cópias no mundo todo.
1999: Tiroteio em Nova York
Nesse período, a Bad Boy se tornou uma das gravadoras mais importantes do rap. Além de seus próprios lançamentos, artistas como Mariah Carey e Jennifer Lopez pediam que Sean Combs remixasse suas músicas, na esperança de ganhar um toque de credibilidade hip-hop.
Mas também havia problemas. Em maio de 1999, Combs foi preso sob a suspeita de agredir o executivo da Interscope Records, Steve Stoute, após uma desavença relacionada a um videoclipe. Ele se declarou culpado e foi condenado a um curso de gerenciamento de raiva de um dia.
Naquele ano, ele também foi acusado de posse ilícita de arma quando a polícia encontrou duas pistolas de nove milímetros em seu carro, após uma discussão em um clube que se tornou violenta.
Combs e sua então namorada Jennifer Lopez foram presos. Combs foi absolvido posteriormente de todas as acusações. Lopez não foi acusada.
2003: Processo de parceiro de negócios
Um ex-presidente da Bad Boy Entertainment processou Combs em 2003, alegando que seu antigo parceiro de negócios o ameaçou com um bastão de beisebol e o forçou a assinar a transferência de suas ações na empresa.
Na ação judicial, Kirk Burrowes também afirma que Combs intimidou Mary J Blige a dispensá-lo como seu empresário em 2001.
Combs negou as alegações, dizendo que eram uma “completa fantasia”.
Um tribunal de apelações rejeitou o caso em 2006, decidindo que o prazo de prescrição havia expirado.
Em 2005, a cantora Casandra Elizabeth Ventura, de 20 anos, fez um pouco de sucesso no circuito de club na Alemanha com seu single de estreia, Me & U.
Após ouvir a música em uma noite, Sean Combs convenceu Cassie (como é conhecida profissionalmente) a se juntar à Bad Boy Records em um contrato de 10 álbuns.
Seu álbum de estreia foi lançado em 2008, e seu R&B futurista e de temática espacial obteve sucesso entre os críticos.
Nesse período, Combs e Ventura estavam em um relacionamento. No entanto, em um processo civil apresentado em dezembro de 2023, ela afirmou que o magnata usou sua posição de poder para “estabelecer as bases” para um “relacionamento romântico e sexual manipulador e coercitivo”.
A ação judicial incluiu descrições gráficas de abuso violento, alegando que Combs “regularmente agredia e chutava Ventura, deixando-a com olhos roxos, hematomas e com sangramento”.
Ventura também alegou abuso sexual e estupro e afirmou que muitos desses incidentes foram testemunhados pela “rede extremamente leal” que cercava Combs, que “não fazia nada significativo” para parar a violência.
Combs negou veementemente as alegações e acusou Ventura de tentar extorqui-lo. Eles chegaram a um acordo um dia após o processo ser apresentado em Nova York, com o advogado de Combs afirmando que o acordo “de forma alguma era uma admissão de culpa”.
2007-2024: empreendimentos comerciais
A música ficou em segundo plano após 2007, quando Combs assinou um contrato com o grupo britânico de bebidas Diageo para promover a marca de vodca francesa, Cîroc, nos EUA, com divisão de lucros de 50-50.
Seu apoio fez com que a marca aparecesse em dezenas de videoclipes – incluindo o próprio single de Diddy, Ciroc Star – e ajudou a aumentar as vendas de 40 mil inicialmente para 2 milhões de caixas por ano em 2014.
Mais ou menos na mesma época, ele co-fundou a empresa de mídia Revolt, cujos canais de TV e sites são descritos como “a voz oficial e intransigente da cultura hip-hop”.
O envolvimento de Combs com ambas as empresas chegou ao fim em 2023-24. Ele havia processado anteriormente a Diageo, acusando a empresa de negligenciar sua marca por questões raciais.
Em 2015, Sean Combs se envolveu em uma briga com o treinador de futebol americano de seu filho, após uma discussão durante o treino.
À medida que a discussão escalava, Combs teria ameaçado um estagiário com um halteres de academia. Ele foi preso e acusado de agressão com arma letal.
As acusações foram retiradas. Um representante de Combs afirmou que os relatos da imprensa sobre o incidente eram “totalmente imprecisos”.
2019: Gina Huynh alega abuso
As primeiras alegações de abuso contra Combs vieram de sua ex-namorada, a modelo Gina Huynh.
Embora pouco relatada na época, Huynh deu uma entrevista à youtuber Tasha K, na qual afirmou que Combs foi fisicamente abusivo e tinha oferecido dinheiro para que ela fizesse um aborto durante o relacionamento conturbado de cinco anos.
Em uma ocasião, ela alegou que Combs “pisou no meu estômago com muita força – como se tivesse tirado todo o ar dos meus pulmões”.
Combs não respondeu às acusações.
Setembro de 2023: retorno musical
Sean Combs encerrou um hiato musical de oito anos com o lançamento de seu quinto álbum. Intitulado The Love Album: Off The Grid, o disco contou com colaborações de artistas como The Weeknd, Justin Bieber, 21 Savage e Mary J. Blige.
O lançamento coincidiu com o reconhecimento de Combs como Ícone Global no MTV Awards.
Em novembro, The Love Album rendeu ao artista sua primeira indicação solo ao Grammy, na categoria de Melhor Álbum de R&B Progressivo.
No entanto, Combs desistiu de participar da cerimônia em um momento em que seus problemas legais aumentavam.
Novembro de 2023: Três processos em uma semana
Na mesma semana em que Cassie entrou com sua ação contra Combs, mais duas mulheres apresentaram alegações de abuso e agressão.
Em uma queixa apresentada em Manhattan, Joi Dickerson-Neal acusou o rapper de drogar e abusar sexualmente dela quando era universitária em 1991. Ela alegou também que ele gravou o ataque e divulgou o vídeo sem seu consentimento.
Uma terceira mulher, Liza Gardner, também apresentou uma denúncia judicial acusando Combs de coagi-la a fazer sexo no início dos anos 1990 e, poucos dias depois, de estrangulá-la até que ela perdesse a consciência.
Esses processos surgiram pouco antes do fim do período estipulado pelo Adult Survivors Act, de Nova York, uma lei que temporariamente permitiu que vítimas de abuso sexual entrassem com ações judiciais mesmo após o prazo de prescrição.
Combs negou todas as acusações, e seu porta-voz classificou as ações judiciais como uma “tentativa de extorsão”.
“As alegações de má conduta contra o Sr. Combs, que teriam ocorrido há mais de 30 anos e foram apresentadas de última hora, são completamente negadas e rejeitadas por ele”, afirmou o porta-voz em um comunicado.
“A Legislatura de Nova York certamente não pretendia ou esperava que o Adult Survivors Act fosse explorado para fins impróprios. O público deve ser cauteloso e não aceitar essas alegações não comprovadas precipitadamente.”
Dezembro de 2023: alegações de estupro de adolescente
Uma quarta mulher apresentou queixa em dezembro, alegando ter sido vítima, em 2003, quando tinha 17 anos, de “tráfico sexual” e de “estupro coletivo” por Combs, pelo antigo presidente da Bad Boy Records, Harve Pierre, e por outro homem.
Nos autos, a mulher alega que tomou “grandes quantidades de drogas e álcool” antes do crime e que ficou com tantas dores que mal conseguia se levantar ou lembrar-se de como chegou a casa.
Em resposta, Combs disse que “não fez nenhuma das coisas horríveis que estão sendo alegadas”, enquanto Pierre disse que as “alegações nojentas” eram “falsas e uma tentativa desesperada de obter ganhos financeiros”.
Mais tarde, o juiz do processo decidiu que a mulher, que apresentou o seu caso de forma anônima, deveria usar nome verdadeiro se quisesse prosseguir o processo.
Em 6 de dezembro, Combs fez uma declaração na sua página do Instagram.
“Já basta”, escreveu. “Nas últimas semanas, tenho permanecido em silêncio e visto as pessoas tentarem assassinar o meu caráter, destruir a minha reputação e o meu legado.”
“Foram feitas alegações doentias contra mim por indivíduos que querem ter um dia de pagamento rápido. Permita que eu seja absolutamente claro: não fiz nenhuma destas coisas horríveis alegadas. Vou lutar pelo meu nome, pela minha família e pela verdade.”
Fevereiro de 2024: acusações de manipulação
O produtor musical Rodney Jones Jr., que trabalhou em nove faixas do The Love Album, processou Combs em fevereiro de 2024. Ele acusou o astro de importunação sexual e de forçá-lo a contratar prostitutas e participar de atos sexuais com elas.
Nos documentos apresentados em Nova York, Jones também afirmou que Combs tentou “prepará-lo” para ter relações sexuais com outro homem, dizendo que isso era “uma prática normal na indústria musical”.
O advogado do músico, Shawn Holley, chamou o produtor de “nada além de um mentiroso” e descreveu suas alegações como “pura ficção”, que pode ser desmentida por “provas claras e indiscutíveis”.
Março de 2024: busca e apreensão em suas propriedades
Um mês depois, agentes federais fizeram buscas em duas propriedades de Combs em Los Angeles e Miami. Computadores e outros dispositivos foram confiscados enquanto os oficiais revistavam sua mansão na Califórnia.
Combs também foi parado em um aeroporto em Miami enquanto se preparava para viajar às Bahamas, segundo o New York Times. Ele teria entregue diversos dispositivos eletrônicos, mas não foi detido.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA afirmou que as buscas faziam “parte de uma investigação em andamento”, mas não ficou claro como as investigações estavam relacionadas aos processos civis contra Combs.
O advogado do rapper chamou as buscas de “caça às bruxas baseada em acusações infundadas feitas em processos civis” e afirmou que seu cliente era inocente.
Setembro de 2024: prisão e novas acusações
Combs foi preso em um hotel de Nova York no dia 16 de setembro, enfrentando três acusações: extorsão; tráfico sexual por meio de força; fraude ou coerção; e transporte para envolvimento em prostituição.
Em uma acusação tornada pública, os promotores afirmaram que ele organizava eventos chamados “Freak Offs”, nos quais forçava mulheres a se envolver com trabalhadoras do sexo e as filmava.
O documento de 14 páginas também acusa Combs de transformar seu império empresarial em uma organização criminosa que ameaçava e abusava de mulheres.
O texto descreve um padrão de longa data de agressões violentas e coerção de mulheres para “satisfazer seus desejos sexuais”.
No tribunal, no dia seguinte, Combs se declarou inocente. Um juiz negou fiança ao artista após os promotores argumentarem que ele representava uma ameaça à comunidade.
“Combs é um lutador. Ele vai lutar até o fim. Ele é inocente”, disse seu advogado, Marc Agnifilo, que prometeu recorrer da decisão sobre a fiança.
Fonte: BBC
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