- Author, Evan Davis
- Role, Apresentador do The Bottom Line
Você quer sair do mundo dos baixos salários e criar o seu próprio negócio? Preferencialmente um que fosse mais do que um simples estilo de vida – um negócio que você pudesse vender e se aposentar para viver de renda?
Bem, para estudar as suas chances de sucesso, vale a pena observar as pessoas que trilharam esse caminho e acabaram sendo donas de uma próspera empresa no seu nome.
Na nossa série de entrevistas Decisões que me Transformaram em Líder, falamos com meia dúzia de empreendedores de sucesso. Esta é uma amostra muito pequena para podermos traçar estatísticas generalizadas, mas é suficiente para extrairmos alguns padrões interessantes.
Fiquei surpreso ao encontrar três atributos fascinantes que não garantem o sucesso nos negócios, mas realmente parecem ser de grande ajuda.
A rebeldia
Observei primeiramente o grau de rebeldia transmitido por diversos dos empreendedores entrevistados. Eles nunca se encaixaram muito bem na escola ou na universidade, ou nos seus primeiros empregos.
Duncan Bannatyne ficou famoso como um dos primeiros astros da série de TV Dragons’ Den, produzida no Reino Unido pela BBC. Ele certamente nunca se encaixou na marinha, já que passou pela corte marcial e foi expulso de forma desonrosa, depois de brigar com um oficial.
“Eu simplesmente achei que era a coisa certa a fazer – ele estava me cutucando e gritando comigo”, relembra Bannatyne.
Ele conta que sua posição é que “a autoridade nunca deve ser aceita”.
Simon Beckerman é o fundador da loja online Depop. Sua definição de si próprio é similar à de Bannatyne: “Sou uma pessoa muito desobediente e estou no meu direito [de ser assim]. Acho que não sirvo para ser empregado.”
É claro que, quando você acha difícil trabalhar para outra pessoa, a alternativa óbvia é prosseguir na carreira de forma independente.
Antes de criar a marca de chás mistos Bird & Blend Tea Co., Krisi Smith teve vários empregos. Eles incluíram limpar cercados em um abrigo de gatos (mesmo ela sendo alérgica aos felinos) e trabalhar como “bargirl”, vendendo bebidas em uma boate.
“Eu estava sempre fazendo perguntas, querendo saber por que estávamos fazendo aquilo e apresentando sugestões”, relembra ela. “Acho que aquilo costumava perturbar as pessoas.”
Depois de ver seus empregadores tratando mal os funcionários e os clientes, ela decidiu que queria abrir seu próprio negócio, trabalhando com ética.
A impaciência
O segundo atributo que observei foi uma espécie de impaciência impregnada nas suas personalidades. Parece que eles estão sempre com coceira. Nunca ficam quietos.
Se você acha que o sucesso desses empreendedores veio de algum tipo de plano de vida, cuidadosamente estudado e colocado em prática conscientemente, você ainda não entendeu a questão. Na verdade, eles aproveitaram as oportunidades que surgiram para criar oportunidades para si próprios.
Timo Armoo é o criador da empresa de marketing em redes sociais FanBytes. Ele conta que seu primeiro empreendimento começou na escola, quando ele cobrava de outros alunos para ajudá-los nas suas lições de matemática.
Mais tarde, com 17 anos, ele enviou e-mails para os organizadores de uma cúpula de negócios e se ofereceu para organizar as cadeiras do evento em troca de uma credencial de jornalista. Com isso, Armoo conseguiu entrevistar os megaempresários britânicos Richard Branson, Lord Sugar e James Caan.
“Eu enviei o e-mail e, depois de 20 minutos, recebi a resposta, dizendo: ‘você é maluco e sim, vamos fazer'”, relembra ele.
Essa clara impaciência chega ao ponto de fazer os empresários deixarem o próprio negócio que criaram, depois de um certo tempo.
Os fundadores de empresas conscientes sabem quais habilidades eles têm e o que lhes falta. Eles sabem que, quando um negócio amadurece, muitas vezes é preciso ter uma gerência responsável para o árduo trabalho de desenvolver um crescimento sustentável, sem se basear apenas no charme da criação e da descoberta.
Nesse momento, a impaciência é exatamente o oposto do necessário. Por isso, os empreendedores com quem conversamos, por serem impacientes, ficam prontos para mudar de ramo quando a empresa que fundaram está sólida e suas mentes os levam a vendê-la.
O caso de Martha Lane Fox, por exemplo. Ela foi uma das fundadoras do site Lastminute.com, no boom da internet que marcou o final dos anos 1990.
Fox era o rosto característico de uma nova cultura, da juventude empreendedora que floresceu naquela época. Eram os jovens mostrando aos adultos exatamente do que a internet era capaz.
Mas, quando atingiu 31 anos de idade, ela decidiu renunciar ao cargo de diretora-gerente da empresa.
“Era como estar em uma banda onde você teve um mega sucesso”, ela conta, “e eu não queria que aquilo fosse a única coisa que iria definir a minha vida.”
A disposição de realizar
O terceiro e último atributo dos empreendedores é uma consequência dos dois primeiros: a disposição de realmente fazer as coisas, em vez de apenas pensar nelas – ou de ficar pensando demais.
Acho que este é o ponto que diferencia as pessoas com verdadeiro espírito empreendedor, seja nos negócios ou, talvez, até nas instituições beneficentes e no serviço público. Elas são as pessoas que, aparentemente, fazem tudo acontecer.
Parte desta característica vem de uma espécie de otimismo intrínseco aos empreendedores. Eles acreditam que suas ações têm boa possibilidade de atingir algum objetivo.
Por isso, eles são menos propensos a cair naquele estupor fatalista que prejudica a maioria de nós. É o que faz com que eles se levantem da cama de manhã.
Richard Walker vem de uma família com histórico nos negócios. Seu pai foi o fundador da rede de supermercados britânica Iceland, onde ele agora é presidente-executivo.
Walker é um jovem auditor oficial credenciado, mas conta que também teve “essa coceira empreendedora de ter o próprio negócio”.
O lendário empreiteiro britânico Tony Gallagher o aconselhou a se mudar para a Polônia.
“E eu fui porque eles haviam acabado de entrar na União Europeia”, ele conta. “Eles tinham o tamanho da Alemanha, 40 milhões de pessoas e alto nível de educação. Não havia britânicos morando lá permanentemente, gerenciando empresas privadas. Então, decidi ir.”
Otimismo x ilusão
Conheci muitos empreendedores e, às vezes, imagino se o seu otimismo não é uma ilusão.
Muitos deles supervalorizam suas chances de sucesso. Eles têm um quadro muito real do que pode dar certo. Mas, muitas vezes, eles não conseguem sequer imaginar as muitas coisas que podem dar errado com a próxima ideia que estão desenvolvendo.
E, quando a ilusão passa, o otimismo é uma bênção se você não se deixar abater pelas decepções.
É claro que, de longe, o maior atributo que qualquer pessoa precisa ter nos negócios é sorte. Em algum momento, tudo deu certo para os nossos entrevistados e a sorte, com certeza, fez parte desse sucesso.
Existem muitos nomes desconhecidos que tentaram formar uma empresa e viram seus esforços naufragarem. Eles podem ter ótimo discernimento, intuição comercial, todas as características necessárias – e terem apenas desenvolvido o produto errado, no momento errado.
Pode não ter sido, necessariamente, um erro pessoal. Às vezes, as ideias não dão os resultados esperados. E, no mundo dos negócios, a maioria das ideias dá errado.
Os empreendedores não são uma espécie de pessoas especiais. Todos nós temos as nossas excentricidades, nossa impaciência e todos nós conseguimos desempenhar nossas atividades.
Não queremos ser fatalistas e acreditar que uma pessoa nasce ou não para ser empreendedor. As técnicas de negócios podem ser aprendidas e desenvolvidas, pelo menos até certo ponto.
Mas, se você estiver se perguntando se está destinado a se aventurar em uma vida como a dos astros da nossa série de programas, certamente vale a pena examinar suas características – as falhas que se revelaram ser vantagens e o trabalho que eles dedicaram para atingir o sucesso.
Ouça os episódios da série da BBC Rádio 4 The Bottom Line (em inglês), que deram origem a esta reportagem, no site BBC Sounds.
Fonte: BBC