- Steve Portugal
- The Conversation*
Pode não parecer um dos grandes mistérios da vida, mas uma rápida pesquisa na internet revela que pessoas de todo o mundo — de Londres a Hong Kong, da Cidade do Cabo a Buenos Aires — estão fazendo a mesma pergunta: dada a quantidade de pombos em nossas cidades, onde estão todos os mortos?
Infelizmente, elas não estão pensando na existência do paraíso dos pombos — mas, sim, em onde estão todos os corpos?
Os pombos são tão onipresentes nas cidades do mundo quanto os engarrafamentos, os artistas de rua e as entregas de comida.
Estima-se que somente Londres tenha mais de 1 milhão de pombos, habitando os vários parques e jardins presentes em seus quase 1,6 mil quilômetros quadrados.
Dado este grande número — e o fato de que um pombo urbano raramente vive por mais de três ou quatro anos —, é de se admirar que eles não estejam espalhados pelas ruas da cidade.
Há várias razões possíveis para isso.
Em primeiro lugar, os pombos são apenas uma parte de uma grande variedade de criaturas que adotaram nossas cidades como lar.
Raposas, ratos, gaivotas e corvos fazem um trabalho maravilhoso de limpeza de qualquer carniça que encontram, incluindo pombos mortos.
Estas espécies prestam serviços inestimáveis ao ecossistema urbano, reduzindo a exposição humana à matéria em decomposição e ajudando a reduzir a transmissão de doenças infecciosas.
Em paralelo a estes zeladores nativos, os gatos domésticos ficam igualmente felizes em dar conta de um pombo morto ou ferido.
Estima-se que haja meio milhão de gatos vivendo apenas em Londres — cerca de dois pombos por gato —, e se você tiver “sorte”, eles podem levar um para casa de presente.
Seja um bichano doméstico ou algum outro carnívoro, esta rede clandestina de limpadores de rua geralmente remove os cadáveres de pombos muito antes de serem vistos pelos olhos humanos.
Refúgios em arranha-céus
A maioria dos pombos, no entanto, não cai simplesmente morta no chão.
Para entender para onde os pombos provavelmente vão quando se sentem vulneráveis ou indispostos, precisamos analisar suas origens.
Os pombos que vemos nas cidades são pombos domésticos que passaram por uma séria “renaturalização”.
Eles foram originalmente criados como pombos-correio, aves treinadas para entregar mensagens importantes a longas distâncias muito antes dos telefones.
Estes pombos até ganharam medalhas de prestígio nas duas guerras mundiais.
Indo mais para trás, os pombos-correio originais foram criados há séculos a partir de pombas selvagens, uma espécie que habita falésias e cavernas costeiras.
As cidades, com seus arranha-céus e parapeitos elevados, proporcionam ninhos ideais para pombos urbanos — criando um ambiente que lembra seus habitats ancestrais.
Esse histórico significa que, quando doentes ou feridos, os pombos instintivamente se retiram para lugares escuros e remotos — sistemas de ventilação, sótãos, parapeitos de edifícios — na esperança de permanecer fora do alcance e despercebidos pelos predadores.
Os predadores não os veem, mas nós também não: muitas vezes, quando os pombos morrem, eles estão escondidos.
Partida prematura
Mas o que, na verdade, causa a morte de um pombo?
À medida que envelhecem, os pombos se tornam mais suscetíveis a doenças e, muitas vezes, ficam mais lentos para reagir aos predadores que se aproximam.
Sabe-se que quando um predador ataca um bando de pássaros, indivíduos mais lentos podem se isolar do grupo, o que faz deles presas fáceis.
A maioria dos pombos não pode se dar ao luxo de morrer de velhice: assim que mostram sinais de lentidão ou doença, muitos são abocanhados por falcões-peregrinos, gaviões-da-europa ou outros predadores.
Uma alternativa um pouco macabra que ocorre nas grandes cidades envolve as redes que muitas vezes pairam em torno de construções.
Os pássaros podem voar facilmente para dentro delas e se emaranhar: não apenas pombos velhos ou doentes, mas qualquer ave que tenha a infelicidade de não notar as redes.
A rede geralmente fica bem acima do solo, então, depois de uma luta infrutífera, os pombos mortos geralmente ficam pendurados lá, longe dos necrófagos abaixo.
Sejam abocanhados no ar por aves de rapina, emaranhados em obstáculos feitos pelo homem ou sozinhos em um canto remoto da cobertura de um arranha-céu, há muitas maneiras pelas quais os pombos se despedem deste mundo.
Mas todas acontecem dentro de um ecossistema urbano interno, que, na maioria das vezes, está fora da nossa vista.
Steve Portugal é professor de biologia e fisiologia animal na Royal Holloway University of London, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
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