- Sara Monetta
- Da BBC News em Washington (EUA)
Nos Estados Unidos, novas diretrizes sobre como os pediatras devem tratar a obesidade infantil foram recebidas com algumas críticas.
A recomendação da Academia Americana de Pediatria inclui a previsão de medicamentos para perda de peso, além de cirurgia para adolescentes.
No entanto, alguns temem que essa abordagem venha em detrimento da promoção de um estilo de vida saudável e ativo.
Uma em cada cinco crianças é obesa nos Estados Unidos.
Os médicos argumentam que o tratamento precoce é necessário para prevenir doenças ao longo da vida, como diabetes.
Tracy e sua filha de 14 anos, Jaelynn, moram em um complexo residencial cercado por rodovias e alguns trechos de grama verde em um subúrbio de Washington.
Tracy está chateada – ela acaba de receber a notícia de que a escola de Jaelynn está eliminando a aula de Educação Física e substituindo-a por uma matéria sobre saúde dada em sala de aula.
Ela está preocupada porque a filha já não tem muita chance de se movimentar e se socializar com os colegas. Ela acha que a nova disciplina tornará isso ainda mais difícil.
Jaelynn disse que no ano passado ela participou de um acampamento de verão organizado pela YMCA, onde fazia viagens de campo durante o dia e passava muito tempo ao ar livre.
“Foi muito divertido”, diz ela. “Eu me senti melhor, mais saudável e adorei fazer amigos.”
Jaelynn sofre de doença renal desde criança, e seu excesso de peso afeta negativamente sua condição. Mas sua mãe diz, que durante o verão, as coisas começaram a melhorar.
“Ela perdeu cinco quilos em três meses”, diz Tracy. “O nefrologista ficou realmente impressionado com o fato de ela poder perder tanto e tão rapidamente. A saúde e a confiança dela melhoraram também.”
Essa mudança, Tracy me conta, mostrou a ela como era importante para a filha fazer atividades ao ar livre.
Intervenção precoce
Durante anos, os médicos promoveram um estilo de vida saudável como a melhor forma de combater a obesidade infantil. Mas, nas últimas semanas, o debate sobre essa questão foi reacendido porque a Academia Americana de Pediatria emitiu novas diretrizes pela primeira vez em 15 anos.
As novas diretrizes dizem que a alimentação saudável e a prática de exercícios nem sempre são o suficiente.
“O tratamento médico e a prevenção precisam andar de mãos dadas”, diz a pediatra Nazrat Mirza, que é uma autora das diretrizes.
“A obesidade é uma condição médica crônica e, além de mudanças saudáveis no estilo de vida, mostramos que a medicação funciona e a cirurgia também funciona”.
Mirza diz que as diretrizes querem quebrar as barreiras que as pessoas com obesidade enfrentam – como ouvir que é uma “questão de força de vontade” – e tornar os tratamentos médicos prontamente disponíveis, como são para qualquer outra condição.
“Assim como a asma, assim como a hipertensão”, diz ela. “Na hipertensão, você diria a alguém para cortar o sal, mas se a pressão ainda estiver alta, você vai dar remédios.”
Questões sociais que afetam a obesidade
Alguns médicos, no entanto, estão preocupados com a ênfase na intervenção precoce intensiva.
A médica Katy Miller trabalha com adolescentes afetados por distúrbios alimentares e teme que essas diretrizes possam estar “preparando as crianças para um relacionamento complicado com seus corpos”.
“Estamos propondo estratégias de tratamento que são caras e, mesmo nas melhores circunstâncias, muitas vezes não são bem-sucedidas”, diz ela.
Ela acha que o foco deveria ser mais nos fatores sociais que afetam a obesidade infantil.
“Como podemos pedir a alguém que faça dieta quando não estamos tratando de questões como pobreza, escassez de alimentos saudáveis e instabilidade habitacional?”
“Tive um paciente de 15 anos que foi instruído pelos médicos a perder peso”, acrescenta ela, “e sua família vive em extrema pobreza. Eles tiveram uma melhora em suas circunstâncias financeiras e ele me disse ‘ você sabe qual é a melhor parte de ter dinheiro? Você pode comprar frutas que não estão mofadas'”.
‘Cirurgia e medicação devem ser o último recurso‘
Julia, que é mãe de três filhos, acabou de terminar um grupo de apoio de um ano sobre culinária saudável organizado pela YMCA.
“Sou eu quem cozinho em casa”, ela diz com orgulho, “portanto, se eu cozinhar comida saudável, minha família fica saudável”.
Ela foi encaminhada ao programa porque havia sido diagnosticada com colesterol alto e pré-diabetes durante a gravidez. Seu filho adolescente, ela conta, estava começando a ter problemas de saúde também, e isso a motivou.
Enquanto ela corta algumas frutas para os filhos, conta o que acha das novas diretrizes.
“Como mãe, primeiro tentaria mudar a comida que comemos e levar meus filhos a praticar esportes”, diz ela.
“Em nosso país, as crianças não têm muitas oportunidades de se exercitar, as escolas não têm programas esportivos suficientes. Só se eu tivesse tentado de tudo, poderia considerar remédios.”
No lado oposto da cidade, Tracy concorda. “Cirurgia e medicação devem ser o último recurso”, diz ela.
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