- Author, Hugo Bachega
- Role, Correspondente da BBC no Oriente Médio
Desde outubro, os ataques transfronteiriços quase diários entre Israel e o Hezbollah, a poderosa milícia e movimento político apoiado pelo Irã no Líbano, mataram centenas de pessoas e forçaram dezenas de milhares a abandonarem as suas casas em ambos os lados, aumentando o receio de que a violência possa evoluir para um conflito total.
No entanto, entre ataques e contra-ataques, houve indícios de que havia possibilidades de evitar um grande confronto. Mas erros de cálculo sempre foram um risco, e o ataque de sábado (27/7) à cidade drusa de Majdal Shams, nas Colinas de Golã ocupadas por Israel, pode ter sido um exemplo disso.
Israel acusa o Hezbollah de ser o responsável pelo ataque em um campo de futebol que matou pelo menos 12 pessoas, incluindo crianças, o ataque mais mortal entre as atuais hostilidades, e prometeu responder.
“Israel não irá ignorar este ataque assassino”, disse o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, de acordo com um comunicado divulgado pelo seu gabinete. “O Hezbollah pagará um preço elevado que não pagou até agora.”
O Hezbollah nega que tenha sido o responsável pelo ataque.
Antes que a dimensão do ataque se tornasse clara, no entanto, o Hezbollah disse que a Brigada Hermon era um dos alvos do grupo com um míssil Falaq de fabricação iraniana, um dos vários ataques realizados naquele dia. A base, nas encostas do Monte Hermon, fica a cerca de 3 km de onde aconteceu a explosão, levantando a possibilidade de o míssil ter errado o alvo.
Daniel Hagari, porta-voz dos militares israelenses, disse que informações de inteligência indicavam que o ataque havia sido realizado pelo Hezbollah no Líbano, descrevendo a negação do grupo como “uma mentira”.
O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, também disse que “todas as indicações” apontam que o míssil foi disparado pelo Hezbollah e que os EUA defende “o direito de Israel de defender os seus cidadãos de ataques terroristas”.
Diante desse cenário, o Líbano aguarda uma possível reação israelense.
Os ataques do Hezbollah começaram em 8 de outubro, um dia após o ataque mortal do Hamas a Israel, com o grupo afirmando que apoiava os palestinos em Gaza. Até agora, mais de 450 pessoas foram mortas no Líbano, incluindo cerca de 350 combatentes do Hezbollah e pelo menos 100 civis. Em Israel, 23 civis e pelo menos 17 soldados foram mortos por causa desse conflito.
No Líbano, a maior parte dos ataques israelenses atingiram o sul, onde as aldeias estão destruídas e desertas, e o leste de Bekaa Valey, duas áreas onde o Hezbollah opera.
Uma campanha israelense visando locais que, até agora, permaneceram intocados, incluindo partes da capital Beirute, poderia levar a uma fase perigosa e imprevisível nos combates.
Visto como um inimigo significativamente mais formidável do que o Hamas, o Hezbollah tem se preparado para outro grande conflito com Israel desde o último, em 2006, que infligiu pesados danos a ambos os lados.
Segundo estimativas ocidentais, o grupo possui cerca de 150 mil foguetes e mísseis, que poderiam sobrecarregar os sofisticados sistemas de defesa aérea de Israel. O arsenal também inclui mísseis guiados de precisão capazes de atingir profundamente o território israelense.
As autoridades israelenses descreveram repetidamente os ataques do grupo como inaceitáveis e estão sob pressão crescente para agirem para permitir o regresso dos residentes deslocados às comunidades do norte.
Oficiais militares disseram que as Forças de Defesa de Israel (IDF, por suas siglas em inglês), que ainda conduzem grandes operações contra o Hamas em Gaza, estão prontas para lançar uma ofensiva contra o Hezbollah, embora os detalhes sobre o que isso possa envolver ainda sejam obscuros.
Hassan Nasrallah, o líder de longa data do Hezbollah, disse repetidamente ao grupo que não quer uma guerra em grande escala com Israel, mas que estava pronto para uma.
No mês passado, ele disse que o grupo tinha mobilizado apenas uma fração das suas armas e alertou Israel que qualquer guerra seria travada “sem restrições ou regras”.
Uma grande operação contra o grupo poderia levar ao envolvimento de outras milícias apoiadas pelo Irã na região, que fazem parte do que Teerã chama de “Eixo da Resistência”.
Qualquer guerra teria um impacto devastador em ambos os países, mas especialmente no Líbano, que se encontra num estado de crise permanente há mais de meia década.
A economia entrou em colapso, estimando-se que 80% da população esteja na pobreza, e as disputas políticas bloquearam a eleição de um presidente durante quase dois anos.
O governo tem influência limitada – se é que tem alguma – sobre o Hezbollah, que, tal como o Hamas, é considerado uma organização terrorista pelo Reino Unido, pelos EUA e outros.
Mas uma guerra em grande escala não é inevitável. Os diplomatas tentavam evitar uma grande escalada nas hostilidades, e o ministro dos Negócios Estrangeiros libanês, Abdallah Bou Habib, disse à BBC que as autoridades estavam “pedindo ao Hezbollah que não retaliasse”.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros israelense, Oren Marmorstein, disse que a “única forma” de evitar um conflito seria implementar a Resolução 1701 das Nações Unidas, aprovada para pôr fim à guerra de 2006. O texto inclui a retirada de grupos armados do sul do Líbano, entre o rio Litani e a Linha Azul, fronteira não oficial com Israel, mas nunca foi aplicado integralmente.
Agora, disse Marmorstein, é o “último minuto” para evitar diplomaticamente uma guerra.
Fonte: BBC
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