Um raro momento de cooperação entre os Estados Unidos e o Irã. É assim que especialistas definem um acordo de troca de prisioneiros concretizado nesta segunda-feira (18/9) pelos países.
Cinco cidadãos americanos presos no Irã durante anos retornaram aos EUA, enquanto cinco iranianos presos nos Estados Unidos também foram liberados para voltar ao país de origem.
A repórter da BBC, Lyse Doucet, acompanhou o momento em que os cinco prisioneiros americanos saíram do avião. Segundo ela, o alívio entre eles era evidente. Um deles, contou, falou aos seus advogados que o “pesadelo acabou”.
Além da libertação, Washington se comprometeu a descongelar R$ 6 bilhões em fundos iranianos, correspondentes à venda de petróleo à Coreia do Sul.
Os dois países cortaram relações diplomáticas em abril de 1980, meses após estudantes iranianos radicais terem assumido o controle da embaixada americana no Teerã e terem mantido dezenas de americanos reféns, após a revolução iraniana.
Anos atrás, em 2015, houve um raro diálogo quando o então secretário de Estado americano, John Kerry, se reuniu diversas vezes com o então ministro iraniano das Relações Exteriores, Javad Zarif, e fecharam um acordo nuclear histórico em julho daquele ano.
Mas desde que o ex-presidente americano Donald Trump derrubou esse acordo, em 2018, praticamente não houve mais reuniões presenciais entre Irã e Estados Unidos.
Em meio a essa desconfiança na relação entre os países, teve início um diálogo indireto que levou à troca de prisioneiros concretizada nesta segunda-feira.
Apesar disso, alguns especialistas condenaram a troca, pois avaliaram que isso pode encorajar a tomada de mais americanos como “reféns” em prisões iranianas.
Medidas após o acordo
O presidente Joe Biden agradeceu em um comunicado aos governos do Catar, Omã, Suíça e Coreia do Sul pelo apoio nessa troca. Porém, logo anunciou medidas contra o governo iraniano.
Assim que o avião que transportava os cidadãos americanos aterrissou em Doha, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou novas sanções contra o ex-presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, e o Ministério da Inteligência do país.
“Hoje, cinco americanos inocentes que foram presos no Irã estão finalmente voltaram para casa”, disse Biden em um comunicado.
“Ao celebrarmos o regresso desses americanos, também nos lembramos daqueles que não regressaram”, afirmou ele.
“Continuaremos a impor perdas ao Irã pelas suas ações provocativas na região.”
Essas novas sanções, conforme anunciado pelo governo americano, visam os bens do ex-presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad por ter “fornecido apoio material ao Ministério Iraniano de Inteligência e Segurança”.
Essas ações, afirma o governo dos EUA, impuseram “consequências tangíveis aos responsáveis ou cúmplices da tomada de reféns ou da detenção injusta de um cidadão dos Estados Unidos no estrangeiro”.
Como resultado, mencionou o governo americano, “todas as propriedades e interesses nas propriedades” de pessoas ligadas ao ex-presidentes que estão nos EUA ou em posse de americanos serão bloqueados.
Os possíveis problemas do acordo
Mas a troca concretizada nesta segunda não representa a libertação de todos os prisioneiros americanos no Irã e pode até trazer problemas, alertaram ex-funcionários do Pentágono.
Um ex-funcionário do alto escalão do Pentágono alertou que a troca de prisioneiros pode dar aos inimigos dos EUA no exterior “mais motivos” para prender americanos.
Em entrevista à BBC, Mick Mulroy, antigo oficial paramilitar da CIA e vice-secretário adjunto da Defesa para o Oriente Médio, disse que “embora seja sempre bom ver os americanos regressarem a casa depois de terem sido detidos ilegalmente, isso pode, em última análise, fazer com que mais americanos sejam usados desta forma”.
“[O Irã] também terá o retorno de cinco de seus cidadãos que foram legalmente processados e condenados nos Estados Unidos, além do dinheiro”, acrescentou. “Isso é provavelmente algo que a Rússia não aceitará.”
Mulroy também disse que os EUA deveriam tomar medidas para monitorar os fundos de R$ 6 bilhões, de preferência através do governo do Catar, referentes a valores obtidos por meio de exportação de petróleo, que acabou em contas restritas após o então presidente Donald Trump se retirar do acordo nuclear.
Fonte: BBC
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