- Author, Danny Dorling
- Role, The Conversation*
A Finlândia foi considerada o país mais feliz do mundo pelo sexto ano consecutivo em 2023, segundo o mais recente Relatório Global sobre Felicidade.
Esta pesquisa é baseada na questão da avaliação da vida pela Escada de Cantril:
Imagine uma escada com degraus numerados de zero a 10, de baixo para cima. O topo da escada representa a melhor vida possível para você e a parte de baixo representa a pior vida possível para você. Em qual degrau da escada você diria que se sente pessoalmente no momento?
A Finlândia vem em primeiro lugar, seguida pela Dinamarca e pela Islândia.
Os motivos exatos por que os finlandeses são mais felizes do que os outros incluem uma série de fatores, como a menor desigualdade de renda (basicamente, a diferença entre o maior e o menor salário do país), altos níveis de assistência social, liberdade para tomar decisões e baixos níveis de corrupção.
O gráfico abaixo (de elaboração dos autores deste texto) mostra todos os 44 países que dispõem de dados sobre felicidade e desigualdade de renda, indicados como pontos coloridos. O eixo vertical mostra a felicidade média, enquanto o eixo horizontal indica a desigualdade de renda.
A medida de desigualdade de renda utilizada no gráfico é o coeficiente Gini, calculado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Incluímos o índice mais alto registrado em cada país em qualquer ano, desde 2010 até o ano dos dados mais recentes disponíveis.
O gráfico demonstra a forte correlação entre essas duas medidas. De forma geral, quando a desigualdade de renda é maior, o dinheiro tem mais importância e as pessoas são menos felizes.
A Finlândia também tem outros atributos que podem ajudar as pessoas a se sentirem mais felizes.
Seu sistema público de saúde é altamente descentralizado e o setor de saúde privado é muito pequeno. Esta é uma alternativa muito mais eficaz e eficiente do que as adotadas em outros países.
O transporte público da Finlândia é barato e confiável e o aeroporto da capital, Helsinque, é considerado o melhor do norte da Europa.
Existe um provérbio finlandês que parece relevante neste ponto: Onnellisuus on se paikka puuttuvaisuuden ja yltälkylläisyyden välillä — a felicidade é um lugar que fica entre o pouco e o demasiado.
Finlândia, Noruega e Hungria apresentam níveis similares de desigualdade de renda, mas os finlandeses, em média, são mais felizes. Por que isso acontece?
Segundo o Banco de Dados da Desigualdade Mundial, os 10% das pessoas mais bem pagas da Finlândia levam para casa um terço (33%) de toda a renda do país. No Reino Unido, o mesmo grupo ganha 36% e, nos Estados Unidos, 46%.
Pode não parecer muita diferença, mas o seu efeito sobre a felicidade geral é imenso. Nos países mais desiguais, sobra muito menos para o restante das pessoas — e os ricos ficam mais temerosos. Quando um número menor de pessoas fica muito mais rica, o temor é compreensível.
Em 2021, um professor de sociologia sugeriu que as pessoas nos países nórdicos parecem mais felizes simplesmente por terem expectativas mais razoáveis. Mas isso não consegue explicar por que a Finlândia é tão diferente da Noruega na escala da felicidade.
Todos os tipos de explicações são possíveis, incluindo pequenas nuances de linguagem, além da cultura.
Existe até a questão de se a pesquisa global está começando a introduzir seu próprio viés, já que os finlandeses agora sabem por que estão respondendo à pergunta (eles deixaram a Dinamarca, segunda colocada, ainda mais para trás na pesquisa mais recente).
Mas é muito provável que as escolas mais igualitárias da Finlândia — que permitem obter boa educação em qualquer área de estudo — e sua política escolar mais justa que a da Noruega — quase todos os finlandeses frequentam a escola mais próxima — também tenham importância.
Da mesma forma, a melhor política habitacional do país, que oferece uma ampla variedade de moradias sociais e permite que o índice de pessoas sem teto seja menor, seu serviço de saúde com tempos de espera de fazer inveja ao resto do mundo (às vezes, apenas questão de dias, mesmo durante os piores momentos da pandemia) e diversas outras distinções também fazem a diferença.
A Finlândia ocupa a primeira, segunda ou terceira posição em mais de 100 índices globais de sucesso social e econômico — acima da Noruega — com muito menos dinheiro e quase nenhum petróleo.
Por tudo isso, é possível perdoar os finlandeses por sentirem um pouco de vaidade (omahyväisyys).
Mas o que faz com que a Hungria se saia tão mal, se a diferença de renda no país é tão próxima da Finlândia e da Noruega?
Pode-se argumentar que uma das causas seja sua divisão política. Em 2022, o parlamento europeu indicou que “a Hungria não pode mais ser considerada uma democracia plena”.
A liberdade tem muita importância para as pessoas, da mesma forma que a ausência do medo. Isso também pode explicar por que a Turquia e a Índia apresentam níveis de felicidade abaixo do que se poderia prever com seus níveis de desigualdade econômica.
Por outro lado, a China e a África do Sul podem ser um pouco mais felizes do que o indicado pelos seus níveis de desigualdade.
A África do Sul tornou-se uma democracia em 1994, pouco depois da libertação de Nelson Mandela. Muitas pessoas ainda se lembram do período anterior.
E, na China, as pessoas não são tão temerosas quanto a sua imagem frequentemente exibida no Ocidente.
Desigualdade é um dos fatores
A maioria dos países exibe níveis de felicidade (e muitos outros índices) muito previsíveis a partir dos seus níveis de desigualdade. O Reino Unido, por exemplo, fica dentro do esperado para um dos países economicamente mais desiguais da Europa.
O gráfico acima também demonstra que Israel, que tem quase a mesma desigualdade, é um pouco mais feliz do que deveria ser pela métrica do cálculo da felicidade. Mas não está claro se a amostra considerada no país incluiu todos os grupos que vivem atualmente no Estado de Israel. Além disso, a amostra utilizada é de 2022, antes dos amplos protestos ocorridos recentemente no país.
Outra nação atípica no gráfico é a Costa Rica. Em 2019, o então presidente do país, Carlos Alvarado Quesada, declarou o seguinte:
“Setenta anos atrás, a Costa Rica eliminou o seu exército. Isso permite fazer muitas coisas. Oito por cento do nosso PIB são investidos na educação porque não precisamos gastar com o exército. Por isso, a nossa força é o talento humano, o bem-estar humano.”
O que as pessoas de um país podem fazer se quiserem ser mais felizes?
O mais importante é eleger governos que garantam a redução da desigualdade de renda do país. O segundo ponto é garantir que seus serviços sociais — educação, habitação e assistência médica — sejam eficientes e igualitários.
E, por fim, analise seu grau de liberdade, se você realmente está incluindo todas as pessoas na sua pesquisa e o grau de receio da sua população.
*Danny Dorling é professor de geografia da cadeira Halford Mackinder da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
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