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Legenda da foto, Soldados israelenses durante a ofensiva em Tulkarem, norte da Cisjordânia

Pelo menos quatro cidades palestinas são alvo de uma megaofensiva de Israel na Cisjordânia ocupada.

Nove palestinos foram mortos, segundo autoridades de saúde palestinas e militares israelenses.

As Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) afirmam que os mortos eram “terroristas armados”.

No entanto, o número real de vítimas pode ser maior: as autoridades palestinas haviam confirmado anteriormente pelo menos 11 mortos.

A operação de Israel acontece simultaneamente em pelo menos quatro cidades: Jenin, Tulkarem, Nablus e Tubas, que cobrem grande parte do norte da Cisjordânia.

Acredita-se que esta seja a primeira vez que várias cidades palestinas são alvo de incursões militares simultâneas de Israel desde a Segunda Intifada, a revolta palestina que ocorreu entre 2000 e 2005.

Para Paul Adams, jornalista de Diplomacia da BBC News, a ofensiva atual é o mais recente sinal de que Israel teme que a área esteja fora de controle.

Mas agora uma nova frente de batalha se abriu em vários campos de refugiados na parte norte da Cisjordânia, incluindo aqueles atacados nesta quarta-feira (28/8).

“É como um câncer. Está se espalhando”, afirmou o general Israel Ziv, ex-chefe da divisão de operações da IDF, no início deste mês a Adams.

“Não há dúvida de que a intensidade em Samaria (termo israelense para a parte norte da Cisjordânia) é agora igual ou até maior do que a intensidade da guerra em Gaza.”

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Legenda da foto, O Ministério da Saúde palestino na Cisjordânia acusou o Exército israelense de estar bloqueando o acesso de ambulâncias aos hospitais

Segundo Adams, Israel vê a emergência de novos grupos armados como parte de um esforço do Irã para ocupar suas forças em várias frentes e desviar sua atenção.

Teerã, dizem as autoridades israelenses, é responsável pelo financiamento e, em alguns casos, pelo armamento dos militantes (feito por meio de rotas de contrabando por meio da Síria e da Jordânia).

“É um esforço 100% iraniano para construir um representante na Samaria”, disse o general Ziv.

Até agora, os militares israelenses mantinham em parte o controle da situação, avalia o jornalista de Diplomacia da BBC.

Mas as táticas mais agressivas das IDF – incluindo ataques aéreos, ataques altamente destrutivos a campos de refugiados e um número crescente de mortes de civis – ameaçam transformar os grupos armados em heróis locais, com cada vez mais jovens palestinos dispostos a se mobilizar.

Com as últimas medidas do governo israelense para criar novos assentamentos judeus em toda a Cisjordânia e as ações cada vez mais violentas de alguns colonos, o resultado é uma atmosfera cada vez mais inflamada.

“Definitivamente, não estamos controlando a escalada por lá”, disse o general Ziv.

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Legenda da foto, O número de colonos na Cisjordânia ocupada está aumentando rapidamente sob o governo de Benjamin Netanyahu

Nesta quarta-feira, o ministro das Relações Exteriores de Israel, Israel Katz, disse que as IDF estão “operando com força total desde ontem [terça-feira] à noite nos campos de refugiados de Jenin e Tulkarm para desmantelar as infraestruturas terroristas iraniano-islâmicas ali estabelecidas”.

Ele acusou o Irã, que apoia os grupos armados Hamas e a Jihad Islâmica Palestina, de tentar abrir o que chamou de uma nova frente contra Israel na Cisjordânia.

“Devemos enfrentar a ameaça da mesma forma que enfrentamos a infraestrutura terrorista em Gaza, incluindo a evacuação temporária dos residentes palestinos e todas as medidas necessárias”, acrescentou.

Por sua vez, a presidência da Autoridade Nacional Palestina indicou que esta última escalada de violência na Cisjordânia, juntamente com a atual guerra em Gaza, “conduzirá a resultados terríveis e perigosos pelos quais todos pagarão o preço”.

Nabil Abu Rudeineh, porta-voz da presidência, afirmou que a ofensiva israelense na Cisjordânia foi “uma continuação da guerra global contra o nosso povo, a nossa terra e os nossos lugares sagrados”, conforme citado pela agência palestina Wafa.

Rudeineh acrescentou que as autoridades israelenses, que ocupam a Cisjordânia, são responsáveis ​​pela escalada, “tal como os Estados Unidos”, uma vez que estes últimos “fornecem proteção e apoio a esta ocupação para continuar a sua guerra contra o nosso povo palestino”.

O porta-voz apelou aos Estados Unidos para intervirem para travar a escalada, que “representa uma ameaça à estabilidade da região e do mundo inteiro”.

Legenda da foto, Mustafa Barghouti, líder do partido Iniciativa Nacional Palestina, em entrevista à BBC

Já o ativista palestino pelos direitos civis Mustafa Barghouti afirmou à BBC que os eventos desta quarta-feira na Cisjordânia sugerem que “o Exército israelense está tentando levar a guerra de Gaza para a Cisjordânia”.

“O que você vê aqui é uma guerra unilateral por um enorme Exército israelense com força aérea atacando basicamente a população civil na Cisjordânia”, diz Barghouti, acusando Israel de violar a lei internacional.

Ele também alega que o Exército israelense emitiu ordens de evacuação para pessoas no campo de refugiados de Nur Shams – algo relatado pela agência de notícias palestina Wafa, mas não confirmado por Israel.

“É exatamente como eles fizeram em Gaza”, diz Barghouti sobre Israel, “onde eles forçaram as pessoas a serem deslocadas e a deixar suas casas e se tornarem refugiadas novamente.”

Hospitais e campos de refugiados

O Ministério da Saúde Palestino na Cisjordânia pediu à comunidade internacional que ajude a proteger os hospitais em Jenin, Tulkarm e Tubas em meio à ofensiva.

Em uma declaração na manhã desta quarta, o ministério acusou os militares israelenses de bloquearem o acesso de ambulâncias, o que “constitui uma violação flagrante” do direito humanitário.

Segundo as autoridades, o Exército israelense fechou estradas que levam ao Hospital Ibn Sina e cercou o Hospital Khalil Suleiman e a sede das organizações não governamentais Crescente Vermelho e Amigos dos Pacientes, em Jenin.

A Sociedade do Crescente Vermelho Palestino (PCRS) também afirmou mais cedo que as forças israelenses “invadiram” seu posto médico no campo de refugiados de Far’a, perto de Tubas.

Posteriormente, a organização humanitária confirmou que as tropas haviam se retirado do local, mas alegou que o diretor do centro foi agredido e tiros foram disparados dentro do prédio.

Yolande Knell, correspondente da BBC no Oriente Médio, também reportou que forças israelenses entraram em um hospital de Jenin e fecharam outros hospitais em Tulkarem.

As incursões militares israelenses em Nablus se centraram, ao que parece, nos campos de refugiados ali, diz ela.

No campo de refugiados de al-Far’a, perto de Tubas, médicos dizem que ambulâncias estão tendo dificuldades para chegar aos feridos após um ataque de drones israelenses.

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Legenda da foto, Israel afirmou estar realizando uma ‘operação antiterrorista’ em Jenin e Tulkarem

As IDF, os serviços de segurança israelenses e a polícia divulgaram nesta quarta-feira uma declaração conjunta em que confirmam que três “terroristas armados” em Jenin que “representavam uma ameaça às forças de segurança” foram mortos em um ataque aéreo.

A nota diz ainda que outros dois homens armados foram mortos em Jenin e Tulkarem, e que os soldados israelenses “desmantelaram explosivos que foram colocados sob estradas na área e que deveriam ser detonados em ataques contra as forças de segurança”.

O comunicado acrescenta que outros quatro homens foram mortos no campo de Far’a em ataques aéreos.

‘Violação do direito internacional’

O Escritório das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) condenou a “resposta cada vez mais militar” das forças de segurança israelenses na Cisjordânia ocupada.

O ACNUDH afirma que a recente operação militar israelense na Cisjordânia está sendo conduzida “de uma forma que viola o direito internacional e corre o risco de agravar ainda mais uma situação já explosiva”.

“A violência entre as forças de segurança israelenses e os palestinos armados na Cisjordânia não constitui um conflito armado ao abrigo do direito humanitário internacional”, afirma o comunicado, acrescentando que “o uso da força na Cisjordânia deve cumprir os padrões de direitos humanos”.