- José Antonio Hinojosa Poveda e Pedro Raúl Montoro Martínez
- The Conversation*
“Ria, e o mundo inteiro rirá com você. Chore, e você vai chorar sozinho.”
Dae-su, personagem do filme sul-coreano Oldboy, repete esses versos da poetisa Ella Wheeler Wilcox (1850-1919) enquanto força um sorriso.
Ao mesmo tempo, ele tenta entender porque o mantiveram sequestrado durante 15 anos num quarto sem outra companhia senão uma televisão e um quadro com esses versos, para depois o libertarem com um celular e uma carteira cheia de dinheiro. Se quiser saber mais sobre esta misteriosa trama, terá de ver o filme — você não vai se arrepender.
Estamos tristes porque choramos ou choramos porque estamos tristes? Um sorriso, mesmo falso, pode nos animar? Charles Darwin, em seu livro A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais, de 1872, já descrevia o efeito amplificador das manifestações físicas das emoções (alterações fisiológicas, expressões faciais, etc.) sobre nossas experiências afetivas.
Com base nessas ideias, o filósofo americano William James e o médico dinamarquês Carl Georg Lange propuseram há mais de um século que essas experiências seriam determinadas pela percepção de sinais corporais gerados pela atividade do sistema nervoso periférico, como os batimentos cardíacos ou a frequência respiratória.
A hipótese da retroalimentação
Desde então, esse tem sido um assunto muito estudado pela ciência. Uma das linhas de pesquisa explora a hipótese da chamada retroalimentação facial.
Essa abordagem sustenta a ideia de que a ativação dos músculos faciais envolvidos na expressão de certas emoções influencia diretamente a maneira como as experimentamos.
Assim, franzir a testa nos faria sentir raiva, enquanto levantar os cantos dos lábios aumentaria nossa sensação de bem-estar.
A maioria dos estudos que testaram essa hipótese baseou-se na simulação de expressões faciais associadas a emoções como alegria ou raiva. Quando os participantes foram então questionados sobre o estado de espírito, a maioria afirmou que estava sentindo a emoção de forma mais intensa do que em situações em que esses músculos não eram ativados.
No entanto, esse procedimento foi criticado pelo fato de que as pessoas podem ter sido influenciadas a gerar um sorriso ou fazer uma cara de raiva — o que interferiria no estado emocional delas.
Para contornar o problema, Fritz Strack e colegas (1998) desenvolveram o procedimento “lápis na boca”. Esses pesquisadores pediram a uma série de pessoas que iriam participar de um estudo sobre coordenação motora que todos deveriam segurar um lápis entre os dentes (como quando forçamos um sorriso) ou entre os lábios (o que nos impede de simular essa expressão) enquanto assistiam cartuns e tirinhas cômicas.
Os resultados mostraram que os participantes que foram forçados a sorrir disseram que se divertiram mais do que aqueles que foram impedidos de fazer o mesmo.
Com base neste tipo de achado, foram desenvolvidas algumas estratégias terapêuticas, como as que convidam a sorrir por alguns segundos todos os dias em frente ao espelho para aumentar a sensação de bem-estar. Alguns pesquisadores até propuseram que a injeção de toxina botulínica (que enrijece os músculos) entre as sobrancelhas reduziria os sintomas de depressão.
No entanto, outros trabalhos não foram capazes de apoiar conclusivamente a hipótese da retroalimentação. Por exemplo, vários estudos mostraram que o simples fato de se sentir observado por uma câmera pode fazer com que esse efeito desapareça. Parece que a presença de tal dispositivo reduziria a confiança nas inferências que fazemos a partir dos movimentos de nossos próprios músculos.
Um estudo esclarecedor
Diante de descobertas tão contraditórias, um estudo recente envolvendo mais de 3,5 mil pessoas de 19 países tentou fornecer dados mais conclusivos.
Em um dos experimentos, os participantes tiveram que reproduzir o típico gesto de alegria demonstrado pela fotografia de um ator. Em outro, as pessoas foram instruídas a mover voluntariamente alguns dos músculos envolvidos no sorriso. Quando os participantes foram posteriormente questionados sobre o estado de humor, eles relataram sentir-se mais felizes, mostrando uma mudança semelhante em ambas as tarefas.
Além disso, descobriu-se que os efeitos eram independentes de as pessoas saberem que estavam imitando um sorriso ou sendo observadas por uma câmera. No entanto, é importante destacar que o aumento da sensação de felicidade foi pequeno, semelhante ao obtido a partir da visualização de fotos de cachorros ou bebês.
Por fim, um grupo de participantes foi submetido ao procedimento do lápis na boca. Nesse caso, o aumento do sentimento subjetivo de felicidade foi mínimo.
Em suma, os resultados deste trabalho não fornecem suporte definitivo para a hipótese da retroalimentação facial, mas fornecem uma confirmação importante de que certos movimentos das estruturas envolvidas no sorriso, como o músculo zigomático, ou a imitação de expressões faciais de alegria promovem um estado de bem-estar.
Podemos concluir que sorrir é uma ferramenta para elevar nosso humor, embora não seja algo tão potente assim.
Então, você já sabe: se quiser sentir-se um pouco mais feliz, levante os cantos dos lábios ou mexa as bochechas (mas não é necessário morder um lápis).
*José Antonio Hinojosa Poveda e Pedro Raúl Montoro Martínez são professores titulares do Departamento de Psicologia Experimental, Processos Cognitivos e Fonoaudiologia da Universidade Complutense de Madri e do Departamento de Psicologia Básica I da Universidade Nacional de Educação à Distância (UNED) da Espanha.
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