- Kayla Epstein
- BBC News, Nova York
Na primeira semana do ano, os Estados Unidos enfrentaram mais um ataque com arma de fogo dentro de uma escola.
Desta vez, um aluno de seis anos teria atirado na professora com uma pistola, dentro de uma escola primária de Newport News, no Estado de Virgínia – no que a polícia descreveu como um disparo “intencional”.
A idade do suposto atirador adiciona um elemento desconcertante a um cenário já trágico. O caso obriga autoridades locais, policiais e especialistas em violência armada a enfrentar uma questão terrível: o que acontece quando um aluno tão novo atira em alguém?
Quatro dias depois do episódio, a comunidade de Newport News ainda está procurando a resposta.
Legalmente, as autoridades se encontram em um território desconhecido. A lei da Virgínia proíbe indiciar uma criança de seis anos como adulto. O aluno poderia ser acusado no Juizado de Menores, mas a idade mínima para uma pena de detenção infanto-juvenil é de 11 anos.
O menino está atualmente em um centro médico, e o chefe de polícia Steve Drew disse que as autoridades consultaram o serviço de proteção à criança do Estado e os órgãos de segurança para obter orientação sobre o caso.
Pais podem ser responsabilizados
É possível que os pais da criança enfrentem as consequências.
Em entrevista coletiva na segunda-feira (09/01), as autoridades confirmaram que a arma foi comprada legalmente pela mãe, e que a criança a retirou da casa da família.
A mãe levou o filho para a Richneck Elementary School na sexta-feira (06/01), dia do incidente, enquanto a arma estava escondida na mochila dele.
As autoridades não informaram se os pais da criança seriam indiciados, tampouco esclareceram como eles armazenavam a arma. Drew classificou a segurança da arma como um “elemento-chave” da sua investigação.
A lei da Virgínia considera uma contravenção “deixar de forma imprudente e não segura uma arma de fogo carregada de maneira a colocar em risco a vida ou a integridade física de qualquer criança com menos de 14 anos”.
Embora o estatuto seja destinado a proteger as crianças do perigo, e não impedir que crianças usem armas de fogo, é possível que a lei seja evocada neste caso, explica Robert Leider, professor de Direito da Universidade George Mason, na Virgínia.
Em outro cenário, o Estado da Virgínia “pode argumentar que foram as ações dos pais que levaram diretamente ao disparo na professora, e que a criança é muito nova para que se atribua a ela qualquer infração independente”, acrescenta Leider.
Poucos precedentes
Embora a violência armada em escolas americanas seja um problema recorrente, os atiradores quase nunca são tão novos.
Desde 1970, 18 ataques a tiros em escolas foram cometidos por crianças com menos de 9 anos, de acordo com o banco de dados K-12 School Shooting Database, que monitora ataques nas séries que abrangem da pré-escola ao período equivalente ao ensino médio nos EUA.
Esses 18 ataques são uma fração dos mais de 2,2 mil tiroteios em escolas já registrados na base de dados.
David Riedman, o pesquisador por trás do projeto, disse que, no caso de “uma criança de seis anos, a única maneira de obter uma arma é pegando-a de uma casa”.
Um dos poucos precedentes históricos do ataque em Newport News também abalou o país.
Em fevereiro de 2000, um menino de seis anos matou a tiro sua colega de turma em uma escola de Michigan. Antes de atirar em Kayla Rolland, de 6 anos, o menino disse a ela: “Não gosto de você”, segundo outra criança que testemunhou o crime.
Os promotores concluíram que não poderiam acusar o menino porque ele era muito novo para ter a intenção de matar. Em vez disso, indiciaram os adultos da família que moravam com ele, após concluir que o menino havia pego a arma, que era roubada, da residência da família.
O menino foi colocado sob os cuidados do Conselho Tutelar. E um dos membros da família aceitou a condenação, embora não tenha se declarado culpado da acusação de homicídio culposo.
O caso ganhou as manchetes dos jornais e inspirou o então presidente Bill Clinton a pressionar por um pacote de reforma do controle de armas conhecido como “Lei Kayla”.
“Quantas pessoas precisam morrer antes de fazermos alguma coisa?”, Clinton perguntou na época aos membros do Congresso.
Mais de duas décadas depois, os Estados Unidos não aprovaram uma legislação nacional voltada à segurança de armas — e centenas de tiroteios em escolas ocorreram desde então.
Sean Holihan, diretor legislativo estadual do grupo Giffords, de prevenção à violência armada, diz que a Virgínia já tinha leis para impedir que os pais deixassem suas armas ao alcance das crianças.
Na ausência de uma nova legislação ou restrições de armas a nível nacional, “trata-se em grande parte de educar as pessoas e tentar torná-las proprietárias mais responsáveis de armas”, afirma Holihan.
“Se você mora em uma casa com uma criança, pelo amor de Deus, tranque sua arma.”
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