Amanhã, 22, é sábado de Carnaval. Mais conhecido como de Zé Pereira. O nome vem de um sapateiro português, José Nogueira de Azevedo Paredes, que no Rio de Janeiro, em 1846, saiu pelas ruas ao som de bumbos, zabumbas e tambores, anunciando o começo da festa. Novidade só para os da terra; que esse Zé apenas reproduzia um hábito que remontava às suas origens, de festas e romarias das cidades do Norte de Portugal.
Pouco depois (1869), um grupo de teatro encenou O Zé Pereira Carnavalesco – adaptação da peça francesa Les Pompiers de Nanterre (Os bombeiros de Nanterre), com versão em português da música original (de Antonin Louis e Philibert Burani), feita por Francisco Correia Vasques, que logo se converteu em hino carnavalesco por todo o Brasil:
E viva o Zé Pereira
Pois a ninguém faz mal
E viva a bebedeira
Nos dias de Carnaval!
É precisamente hoje, sábado de Zé Pereira, que sai o Galo da Madrugada – fundado em 24 de janeiro de 1978, por Enéas Freire, na Rua Floriano 43, bairro de São José. Ele queria só reviver as verdadeiras origens e tradições do carnaval de rua, sem nem sonhar que estava inventando o maior bloco de carnaval do mundo – segundo o Guinness Book (desde 1995).
A concentração começa assim que o dia clareia, hora em que os galos começam a cantar. No caso, anunciando a alvorada do carnaval pernambucano. Mas o canto desses galos nem sempre fizeram sucesso. Em Roma, só para lembrar, certo Caio Canio conseguiu que o Senado aprovasse, em 19 a.C., lei proibindo galos barulhentos que o acordavam de madrugada. Com os criadores logo descobrindo que, castrados, paravam de cantar.
Capões passaram, então, a ser iguaria muito apreciada. Por conta disso eram vigiados por pullarios. “Galinha de capoeira” vem daí. Por serem guardadas junto a esses capões em gaiolas – conhecidas em Portugal por “capoeiras”. Eram alimentadas com anis e especiarias, para dar gosto à carne e aumentar a produção de ovos.
As refeições começavam com esses ovos – “ex ovo omnia” (todas as coisas nascem do ovo), assim se dizia. Mais tarde, na França, durante batalha entre celtas de Vercingetórix e romanos de Julio César, nasceu o coq au vin – galo cozido no vinho, para tornar a carne mais macia. A receita faz sucesso até hoje. Cumprindo, agora, só desejar aos foliões um carnaval animado. Em paz. E cantando o hino do Galo, claro.
Ei pessoal, vem moçada
Carnaval começa no Galo da Madrugada
Ei pessoal, vem moçada
Carnaval começa no Galo da Madrugada
A manhã já vem surgindo
O sol clareia a cidade com seus raios de cristal
E o Galo da Madrugada
Já está na rua saudando o Carnaval
Ei pessoal …
As donzelas estão dormindo
As flores recendo o orvalho matinal
E o Galo da Madrugada
Já está na rua, saudando o Carnaval
Ei pessoal …
O galo também é de briga
As esporas afiadas, e a crista é coral
E o Galo da Madrugada
Já está na rua, saudando o Carnaval
RECEITA: CAPÃO GUISADO
INGREDIENTES
1 capão
Suco de 2 limões
Para temperar – 4 dentes de alho socados, 1 folha de louro, ½ xícara de vinho branco, 1 colher de sopa de vinagre, sal e pimenta a gosto
Azeite
2 cebolas picadas
2 paios
200 g de toucinho defumado
3 tomates
1 pimentão
Coentro e cebolinho
PREPARO
1. Lave o capão, passe limão, água fervendo e corte em pedaços grandes. Junte todos os temperos e deixe por seis horas
2. Faça um refogado com azeite, cebolas, paios e toucinho defumado. Junte tomates picados, pimentão, coentro, cebolinho e o capão. Deixe refogar bem. Acrescente água até que cubra tudo. Quando estiver cozido, apague o fogo. Sirva com baião-de-dois e farofa de batata-doce
*É pesquisadora de Gastronomia e escreve quinzenalmente neste espaço
Fonte: Folha PE
Autor: Letícia Cavalcante