Crédito, Twitter

Os governos americano e russo completaram na quinta-feira (1/8) a maior troca de prisioneiros desde a Guerra Fria.

Segundo o presidente Joe Biden, 16 pessoas foram libertadas das prisões russas. Já o FSB, o Serviço Federal de Segurança russo, confirmou que oito de seus cidadãos foram soltos em retorno. Os filhos de dois dos prisioneiros também retornaram à Rússia.

Mikhail Mikushin se passava por “brasileiro”, com o nome de José de Assis Giammaria. Ele foi preso em Tromsø, na Noruega, em novembro de 2022.

As autoridades norueguesas acusaram Mikushin de espionagem. Na época, a embaixada russa em Oslo disse não ter informações sobre a cidadania russa de Mikushin.

Reportagem da BBC Brasil revelou que a certidão de nascimento para José Assis Gianmaria foi emitida na cidade de Padre Bernardo, no interior de Goiás.

Funcionários do cartório não sabem dizer como documento foi parar na mão do russo.

Segundo autoridades norueguesas, Mikushin usou o nome falso para se infiltrar em universidades do Canadá e da Noruega.

As autoridades dos países afirmam que ele seria um coronel russo que fingia ser brasileiro para atuar como pesquisador na Universidade do Ártico da Noruega, país com quem a Rússia faz fronteira.

Após a prisão, o “brasileiro” admitiu que, na verdade, era cidadão russo e que se chamava Mikhail Mikushin.

Crédito, Center for Peace Studies/Facebook

Legenda da foto, Segundo autoridades norueguesas, Mikhail Mikushin usou o nome falso de José Assis Giammaria para se infiltrar em universidades do Canadá e da Noruega

O site The Insider revelou que Mikushin estudou na Academia Militar Diplomática do Departamento Central de Inteligência russo (GRU) e seria um oficial de inteligência atuando ilegalmente no exterior.

A publicação descobriu que o russo estaria envolvido em trabalhos de investigação no Canadá, teria publicado artigos sobre bases militares no Ártico e depois se mudado para a Noruega como parte de um programa que estudou, entre outras coisas, “ameaças híbridas”.

Pelo menos três casos de supostos espiões russos sob identidades brasileiras foram detectados. Não há evidências de que eles teriam espionado instituições ou autoridades brasileiras.

A reportagem conversou com investigadores, agentes de inteligência e oficiais de cartórios de diferentes Estados para explicar como e por que o Brasil foi escolhido pela Rússia como o ponto de partida de alguns dos agentes que fariam parte da elite da espionagem russa.

Foram pontuados três principais motivos:

  • fragilidades dos sistemas de emissão e controle de documentos no Brasil;
  • histórico de não envolvimento do país em conflitos internacionais;
  • população miscigenada.

A troca de prisioneiros

Entre os demais prisioneiros trocados entre os EUA e a Rússia, estão o repórter do Wall Street Journal Evan Gershkovich e o veterano da Marinha dos EUA Paul Whelan.

O cidadão alemão Rico Krieger, condenado à morte em Belarus e depois perdoado pelo presidente Alexander Lukashenko, e o prisioneiro político russo Ilya Yashin também estavam na lista.

Já os prisioneiros russos estavam detidos nos EUA, Noruega, Eslovênia, Polônia e Alemanha. Vários deles estão envolvidos em suspeitas de vínculos com a inteligência russa.

Um deles é Vadim Krasikov, identificado por autoridades alemãs como coronel do serviço de inteligência russo FSB, que estava cumprindo pena perpétua pelo assassinato de um oponente do Kremlin em 2019 em um parque de Berlim.

O governo da Turquia facilitou e sediou a troca na quinta-feira.

A presidência turca disse que todos os prisioneiros desceram de aeronaves no aeroporto de Ancara, foram transferidos para locais seguros sob a supervisão de autoridades de segurança turcas e, em seguida, colocados em aviões para seus respectivos países de destino.