- Author, Norberto Paredes
- Role, BBC News Mundo
- Twitter, @NorbertParedes
É o que uma equipe de cientistas afirma ter encontrado em um ecossistema lagunar “único no mundo” na Puna do Atacama, na Argentina.
A descoberta, feita pelo geólogo Brian Hynek, da Universidade do Colorado em Boulder, e pela microbióloga argentina María Farías, foi anunciada na semana passada e ocorreu após o estudo de imagens de satélite da região.
Hynek e Farías analisaram essas imagens durante mais de um ano e encontraram o que parecia ser uma rede particular de aquíferos no meio do deserto.
Decidiram visitar esse planalto inóspito a quase 4.500 metros de altitude e lá encontraram uma dezena de lagoas de águas límpidas e extremamente salgadas, cujos fundos estavam cobertos por montes verdes de estromatólitos.
Os estromatólitos, também conhecidos como rochas vivas, são recifes microbianos formados por grãos minerais colados por um grupo de bactérias.
Segundo a NASA, eles representam a mais antiga evidência fóssil de vida no nosso planeta, e datam de pelo menos 3,5 bilhões de anos atrás.
Desde a sua origem, obtiveram energia do Sol e, por produzirem oxigênio, aumentaram o volume desse elemento químico na atmosfera do planeta para cerca de 20%, permitindo que a vida prosperasse na Terra.
Estima-se que o planeta Terra se formou há 4,5 bilhões de anos.
Naquela época e durante muitos anos, nosso planeta era muito diferente do que é hoje.
Os primeiros registros fósseis do planeta
Quando os estromatólitos surgiram, os continentes ainda estavam em formação, por isso havia muita atividade vulcânica.
As águas estavam carregadas de arsênico e eram muito mais salinas do que os mares que temos hoje.
María Eugenia Farías, coautora da descoberta, explicou em entrevista à BBC Mundo (serviço da BBC em espanhol) que também não existia oxigênio nem camada de ozônio.
“Nessas condições surgem as primeiras formas de vida, que são as protobactérias: bactérias que se associam e formam colônias”, afirma o cientista argentino.
Durante esse processo de formação de colônias, as bactérias capturam dióxido de carbono.
“Parte desse dióxido de carbono se transforma em matéria orgânica e outra se transforma em bicarbonato de cálcio que forma uma espécie de rocha viva e é o que conhecemos como estromatólitos”, diz Farías.
“São os primeiros registros fósseis do planeta.”
Um ambiente semelhante ao de 3,5 bilhões de anos atrás
Os estromatólitos liberaram oxigênio primeiro nos oceanos, depois na atmosfera e, mais tarde, criaram a camada de ozônio.
María Eugenia Farías explica que durante o período Cambriano, já em um planeta com oxigênio, a vida dos eucariotos explodiu: “Surgiram plantas e animais que comeram e deslocaram os estromatólitos”.
As condições desse planeta primitivo de 3,5 bilhões de anos atrás são aquelas que ocorrem em ambientes onde ainda são encontrados estromatólitos, tipicamente locais com baixos níveis de oxigênio, alta radiação ultravioleta, atividade vulcânica e águas salinas.
Os estromatólitos ainda vivem em alguns lagos salgados ou baías ao redor do mundo. São locais onde não existem tantos predadores que possam comê-los.
A Austrália se destaca por sua variedade de habitats de estromatólitos, tanto vivos quanto fossilizados.
A baía Shark, também conhecida como Shark Bay, na Austrália Ocidental, contém um de seus maiores habitats.
Mas, segundo Farías, o ecossistema encontrado nos Andes é diferente devido à sua localização a mais de 3.600 metros acima do nível do mar.
“As condições na Puna do Atacama, na Argentina, Chile e Bolívia, são especiais. É cercada por vulcões, tem baixa pressão de oxigênio e alta radiação ultravioleta devido à altitude e possui lagoas salinas carregadas de arsênico”, continua.
“São condições muito semelhantes às que existiram na Terra durante as primeiras formas de vida.”
Um pedaço de Marte na Terra
Hynek e Farías pretendem retornar em breve à Puna do Atacama para continuar investigando especificamente os estromatólitos de gesso.
“Os estromatólitos geralmente são feitos de carbonato de cálcio, mas os de gesso são formados em condições talássicas, ou seja, com concentração muito elevada de sal, condições também muito semelhantes às de Marte”, diz Farías.
O cientista destaca que naquele planeta existe uma cratera onde há uma grande concentração de água tão salina que não congela.
“Como ainda não conseguimos chegar a Marte para saber se existe vida, pelo menos podemos ver uma contrapartida desse ambiente aqui na Terra, na Puna do Atacama.”
Fonte: BBC
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