- Author, Phil Shepka
- Role, BBC
- Twitter, @PShepka
A vida da britânica Karen Cooper “acabou da noite para o dia” quando seu irmão Gary, durante uma crise de paranoia, esfaqueou seu pai, Hedley, e sua mãe, Margarete. Hedley não resistiu aos ferimentos e morreu.
Contando sua história pela primeira vez publicamente, Karen relembra à BBC a tragédia familiar ocorrida há cinco anos em NewPort Panell, uma pequena cidade de 15 mil habitantes no sudeste da Inglaterra.
Ela cobra maior assistência do governo para casos semelhantes ao dela.
Em março de 2019, Karen e sua família se reuniram para festejar o aniversário de 86 anos de seu pai, Hedley Robinson.
Um dia depois da comemoração, no entanto, ela recebeu um telefonema inesperado de sua mãe, Margarete.
Margarete lhe contou que teve que chamar a polícia porque “seu irmão está quebrando a casa novamente”.
Alguns anos antes, Gary havia feito algo parecido e acabou internado durante três meses em um manicômio.
“Você pensa: ‘OK, aqui vamos nós de novo'”, lembra Karen.
Mas não foi isso que aconteceu daquela vez.
Gary foi inicialmente detido, encaminhado a um hospital e depois levado de volta à delegacia.
No entanto, devido à sua condição mental, Gary não pôde ser preso. Os policiais não tiveram outra alternativa senão soltá-lo enquanto a investigação era realizada.
Margarete foi, então, chamada à delegacia como a responsável por Gary, e mãe e filho voltaram para casa em uma viatura policial.
Dez minutos depois de os policiais irem embora, Gary atacou seus pais com uma faca.
Karen ficou sabendo do ocorrido ao voltar para casa e se deparar com a polícia.
Levada pelos agentes ao hospital, soube que seu pai estava sendo operado, e sua mãe atendida na emergência, uma vez que havia sido esfaqueada na garganta.
“Minha mãe não tinha muita voz; apenas dizia: ‘Gary fez isso’. Ela não conseguia acreditar no que ele tinha feito”, lembra Karen.
Embora Margarete tenha sobrevivido — por pouco uma artéria vital não foi atingida — os médicos não foram capazes de salvar Hedley, que morreu três semanas depois.
Gary admitiu o crime e, durante seu julgamento, a Justiça determinou que ele fosse internado em um hospital psiquiátrico por “tempo indeterminado”.
Os psiquiatras que analisaram seu caso concluíram que ele sofria de transtorno esquizoafetivo.
Segundo definição do Ministério da Saúde do Brasil, o transtorno esquizoafetivo “ainda precisa de maior consenso, podendo ser uma variante da esquizofrenia, na qual os sintomas do humor são excepcionalmente proeminentes e comuns; uma forma grave de transtorno depressivo ou bipolar, na qual os sintomas psicóticos não cedem completamente entre os episódios de humor; ou duas doenças psiquiátricas relativamente comuns concomitantes, a esquizofrenia e um transtorno de humor (transtorno depressivo maior ou transtorno bipolar).”
Karen culpa as autoridades por terem soltado seu irmão.
“Se Gary tivesse ficado detido por mais tempo ou sido encaminhado a uma instituição psiquiátrica, o desfecho poderia ter sido diferente”, diz.
Ela também cobra maior assistência do governo a famílias com membros que sofrem de problemas de saúde mental.
“Minha vida mudou completamente. Onde está o apoio de que preciso? Como posso me ajustar a essa nova realidade?”
“A condição do meu irmão não vai mudar”.
“Sinto como se as autoridades ‘lavaram as mãos’ — fizeram tudo conforme a cartilha, mas não querem saber o que acontece depois.”
Karen diz que tem sido como uma “sentença de prisão perpétua” para sua família, já que sua vida “acabou da noite para o dia” e seu futuro, “mudado para sempre”.
“Meu irmão está sendo assistido, está em um hospital de custódia… Então, todas as necessidades dele estão sendo atendidas e ele continua lá”.
“Mas e eu e minha família? Não tem ninguém cuidando disso. Fui abandonada.”
Karen, que vendeu seu negócio de mais de 20 anos por se sentir incapaz de trabalhar após o crime cometido por seu irmão, defende que famílias em situação parecida com a dela deveriam ter acesso a apoio terapêutico, bem como jurídico.
No inquérito que apurou a morte de seu pai, tanto a polícia quanto o hospital, foram solicitados pela Justiça a revisar urgentemente seus procedimentos.
A polícia informou, por sua parte, que mudou seu tratamento para com pessoas com problemas de saúde mental sob custódia e atualizou o treinamento de seus policiais.
Katy Barrow-Grint, vice-chefe da polícia de Thames Valley, alegou que, quando Gary Robinson foi libertado da custódia, não havia razão para suspeitar que ele poderia representar um risco a si mesmo a seus pais.
Em resposta ao pedido de Karen por apoio extra às famílias, o Ministério da Justiça do Reino Unido disse, por meio de um comunicado enviado à BBC, que o governo estava “quadruplicando o financiamento para serviços de apoio às vítimas e nosso projeto de lei de vítimas e prisioneiros expandirá a definição de ‘vítima’ para incluir famílias enlutadas por homicídio, como a de Karen, para que recebam todo o apoio que merecem”.
Para Karen, ela tem que seguir a vida sabendo o que o irmão fez.
“O desafio é que ele é meu irmão e eu o amo”.
“Ele é meu irmãozinho e, ao mesmo tempo, cometeu um crime horrível, cruel contra nossos pais e matou nosso pai.”
Fonte: BBC
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